A década de 1920 mostra-se cada vez mais importante para entendermos alguns processos políticos de nosso país. O período, marcado por transformações de toda ordem, principalmente no campo da cultura, viu-se associado a uma imagem passadista do Brasil muito por consequência das narrativas históricas construídas durante o governo de Getúlio Vargas.
Feita a introdução do tempo histórico, cabe apresentar a temática do trabalho. A comunicação propõe uma revisita a uma ideia muito compartilhada à época: a ideia de tábula rasa. As tensões políticas do período mobilizaram intensamente toda a sociedade, provocando uma profusão de teorias, projetos e soluções para a questão política, ‘a única questão vital para o país’ como dizia o cafeicultor e escritor paulista Paulo da Silva Prado (1869-1943) em seu livro Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira.
A ideia de apagamento do passado e recomeço a partir de uma situação sem pré-condições era comum a grande parte dos textos publicados em revistas e jornais dos anos 1920. Diversos autores como Roberto Schwarz e Lorenzo Mammi reconhecem no Brasil uma certa recorrência de tal processo ‘renovador’ em diversos aspectos da formação nacional. Mammi observa na construção de Brasília uma tentativa de romper com a urbanização selvagem do litoral, típica do semeador de Sérgio Buarque de Holanda, em prol de uma nova narrativa racional e planejada, característica do ladrilhador. Aqui está em jogo a oposição de futurismo e arcaísmo, funcional e simbólico, dentro de uma dialética da ordem e da desordem. Schwarz, por sua vez, reconhece um país que tudo tende a começar sempre do zero. O descarte do passado impróprio para uso é sempre visto como o mal necessário para o progresso.
Dessa forma, a comunicação pretende dar um panorama de como as ideias de tábula rasa se manifestaram nos escritos daqueles que pensaram o país na última década da Primeira República. Para tal, observaremos algumas questões partidárias que contribuíram para o esgarçamento do modelo político que culminou na Revolução de 1930, a qual respondia à demanda de começar um novo Brasil.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos