A obra e a biografia de Fernando Azevedo vem recentemente despertando o interessedeestudiosos do pensamento social brasileiro por sua importância para os campos da Educação e da Sociologia. Aqui são exploradas as principais características teórico-metodológica da Sociologia da Educação de Azevedo presente em sua obra “Sociologia Educacional” (1940), o que se justifica por corroborar para a compreensão de sua carreira, em particular, voltada à Sociologia da Educação. Trata-se de um dos primeiros livros sobre o tema publicados no Brasil e que embora tivesse influenciado uma geração de professores pouco se conhece nos dias de hoje. Para tanto, realiza-se uma análise bibliométrica seguida da análise de conteúdo. Explora-se suas referências teóricas, os temas tratados, seus argumentos, exemplificações e explicações em torno do fenômeno educação.Em relação a importância de Azevedo, no campo educacional, podemos mencionar o fato de ter sido o relator do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), diretor Geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo (1933), diretor do instituto de Educação de São Paulo e um dos fundadores da Universidade de São Paulo (1934). Exerceu cargo na Associação brasileira de Educação (1938). Foi presidente da Sociedade de Escritores brasileiros-Seção de São Paulo (1951-1956). Na administração pública foi nomeado, em 1945, secretário de Educação e Saúde do Estado de São Paulo e, em 1961, secretário de Educação e Cultura do munícipio de São Paulo.No campo das Ciências Sociais, ocupou a cátedra do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Sabe-se que foi um dos divulgadores da teoria durkheimiana no Brasil, mas não só (é o que pretendemos demonstrar). Publicou diversas obras, dentre elas “Princípios da Sociologia” (1935) e “Sociologia Educacional” (1940), além de ter sido o editor da coleção “Iniciação científica: Biblioteca Pedagógica Brasileira”, da editora Companhia EditorialNacional. No mesmo ano fez parte da comissão fundadora da Sociedade Brasileira de Sociologia, tendo sido seu primeiro presidente, ficando no cargo até 1960. Foi, ainda, vice-presidente da International Sociological Association (1950-1953). Além disso, devido sua militância e o conjunto de sua obra, ganhou vários prêmios que reconheciam sua contribuição para educação brasileira . Sua biografia e sua Sociologia são testemunhas de sua importância para a Educação nacional e para o pensamento social brasileiro, sobretudo voltado à educação. Maior parte de sua produção intelectual voltou-se a Educação. Seu trabalho mais importante na Sociologia trata-se de um manual com abordagens aligeiradas de diversos temas (que podemos agrupar em 22 temas), como deve ser um manual. Por isso, optamos em explorar sua obra “Sociologia Educacional” (1940). Buscamos discutir as características teórico-metodológica da Sociologia da Educação presente em sua obra “Sociologia Educacional” (1940), buscando evidenciar suas filiações e influências. A partir do exame bibliométrico e análise de conteúdo podemos inferir que, por meio de sua obra “Sociologia Educacional” (1940), Fernando de Azevedo traz para o pensamento social nacional grande contribuições da Sociologia francesa, representada por Céléstin Bouglé, Émile Durkheim, e Marcel Mauss (colaboradores da revista L’Année Sociologique, coordenada por Durkheim) e pela Sociologia alemã de Giorge Simmel; sendo esses autores suas principais referências teóricas mobilizadas ao longo da sua obra. Contudo, outras referências aparecem, sendo exatos 242 autores de diversas áreas. Termos como “organização”, “divisão social”, “sistema”, “progresso”, “estrutura” e “processo social” são recorrente e orientam grande parte das discussões, evidenciando uma ligação com o pensamento durkheimiano, buscando sempre a objetividade diante dos fatos sociais, no caso, da Educação e das instituições escolares. Roger Batista, prefaciando a segunda edição da obra “Sociologia Educacional” (1940) afirmou que tratava-se de um esforço empreendido por Azevedo em retomar a Sociologia Educacional “ao ponto em que deixara por Durkheim”, dando continuidade a sua obra, prolongando-a. Ainda que termos ligados ao conservadorismo estejam bem presentes, Azevedo inova ao apresentar a escola como espaço possível de transformação social, no qual é possível encontrar “formadores”, “precursores” e “reformadores”. O primeiro dizendo respeito ao “modelador de caracteres e de almas” predominante em períodos em que as “sociedade atingiram um alto grau de consciência e unificação” representando esse estado (AZEVEDO, 1940, p. 223). Os reformadores são predominantes nas crises sociais e revolucionárias e nos períodos críticos. Trata-se de educadores possuidores de ideias novas, que rompem com a tradição e “se caracteriza pela audácia do pensamento e pela liberdade de juízo e ímpeto de ação”, representando fração da sociedade ou das correntes de opinião. Já os “precursores” constituem o tipo intermediário, representantes de ideias que levarão anos, às vezes séculos, para constituir-se em ideias predominantes de uma época, mas que em seu período não encontra condições sociais favoráveis ao seu pleno desenvolvimento. Nos chama atenção o caráter conciliador de educação que parece ter defendido Azevedo, indicando que uma escola unitária (para todas as classes) seria uma forma de promover, “em vez das lutas e conflito de classes, harmonia e colaboração de classes”, apontando que a classe média teria um papel fundamental nesse processo e que os “socialistas políticos” teriam, por muito tempo, subestimado seu papel por conta de “uma interpretação tendenciosa ‘lei de proletarização’ das classes; não levando em consideração senão os elementos objetivos, desprezando os fatores subjetivos e morais das lutas e conflitos de classe”. Nesse sentido, Azevedo trouxe para o Brasil, em um dos capítulos – bem antes de aqui chegar a Sociologia disposicionalista de Pierre Bourdieu–, contribuições da Sociologia disposicionalista de Edmond Goblot (1858-1935) que considerava as lutas de classes a partir de aspectos “subjetivos e morais”, destacando o papel do saber escolar na construção da distinção social entre classes, sendo sua segregação estratégia adotada pela burguesia como barreira para impedir a “invasão” das classes sociais menos favorecidas. Em síntese, inferimos que a obra em análise revela um Fernando de Azevedo “com” Durkheim e “para além dele”, buscando “não ser contra ele”. As discussões empreendidas por ele passam, ao menos, pelo Funcionalismo, Sociologismo, Neokantismo, Fenomenologia, Pragmatismo e o Disposicionalismo. Pela riqueza de seus diálogos, a análise da obra em questão carece ser retomado e discutido no conjunto do pensamento social brasileiro.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos