O imaginário social brasileiro: notas do Império à Segunda República

  • Autor
  • Jessica Almeida Fontes
  • Co-autores
  • Dr.ª Marcela de Oliveira Pessôa , Carla S. S. Esquivel , Pedro Henrique Santos de Sales , Stefany Sousa Ferraz
  • Resumo
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    O presente artigo corresponde se baseia em pesquisa bibliográfica realizada na disciplina “Política Contemporânea Brasileira”, oferecida pela Prof.ª Dr.ª Marcela Pessoa, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Apresentamos, para tanto, um panorama do pensamento social e político a partir de teóricos que contribuíram de forma determinante na construção do imaginário social do Brasil durante o período do império à República Velha. Os supracitados teóricos consistem em Joaquim Nabuco, Tavares Bastos, Alberto Torres, Francisco Campos, Oliveira Viana, Victor Nunes Leal e Simon Schwartzman.

    O imaginário social brasileiro se constitui, de forma generalizada, pelo entrelaçamento de questões sociais, econômicas e culturais que se evidenciam na formação da sociedade brasileira – e no próprio movimento de tentativa de concretização desses conceitos. Neste sentido, inicia-se esta reflexão com Joaquim Nabuco e seu pensamento monarquista constitucional, que traz a emblemática questão do fim patriótico do partido (NABUCO, 2000), que, através de reformas no cenário político brasileiro, pudessem integrar os homens livres criminalmente escravizados. Este autor era um declarado abolicionista e defendia que o estado de escravidão era prejudicial à vida do país em todos os sentidos, desde o favorecimento da monocultura e exploração da própria população à decadência política e econômica associada ao nosso atraso perante o quadro internacional e latino-americano.

    Um autor influente no pensamento de Nabuco fora Tavares Bastos, que entendia que os costumes são determinantes para a caracterização de um povo. Essa perspectiva se encontra na sua definição segundo a qual o Brasil expressa a fisionomia de sua Metrópole, visto que teríamos incorporado valores da sociedade quase falida que era Portugal que demonstrava à época, segundo o autor, grande tendência ao absolutismo. Em decorrência disto, enfatizava que os valores escravocratas eram a “corrupção dos costumes” (BASTOS, 1939), de forma que a escravidão consistiria em “alteração completa da ordem natural do trabalho” (idem, p. 30). Desta forma, o teórico se apresenta como liberal moderado, na medida em que defende o livre sufrágio, a diplomacia interamericana e reforma agrária parcial (apenas para imigrantes).

    Questões até então colocadas em evidência são atualmente muito valorizadas, como os “bons costumes” e a proposição de uma nova ordem aristocrática, em nome da política. Estes traços também se encaixam na narrativa de Alberto Torres, que traz um novo elemento: o escoamento das qualidades do comércio e a ausência de sua acumulação no mercado brasileiro. Além da relevância do que chamava de estrangeirismo, o nacionalista levanta as questões que teriam dificultado “a soberania real” do país. Para ele, estas vão desde a educação e os costumes, à relação com a terra, fonte de trabalho e renda. Por isto, sugeria o fortalecimento do país mediante a conservação do território pela educação econômica e do trabalho. Este autor também foi um dos primeiros a trazer as contradições entre a relação do homem com a natureza e entre senhores exploradores e trabalhadores vulneráveis no que tangem ao desenvolvimento nacional.

    Outro teórico de significativa importância fora Francisco Campos, redator da quarta constituição brasileira e também do Ato Institucional nº1 de 1964. Sua densa obra e atuações durante a carreira política revelam seus ideais sobre a necessidade pungente de uma aristocracia reformista do poder político. Para ele, a democracia era um regime utópico, de forma que a sociedade moderna conduz não ao Estado democrático, mas ao Estado totalitário. Assim, ele firma sua concepção e legado antiliberal, afirmando que a ditadura é o regime político das massas, visto que estas anseiam por um líder cuja personalidade atenda à sua identificação e aspirações de governo.

    Seguindo a tendência de seus antecessores de defesa da aristocracia, surge Oliveira Viana; ele era defensor de um autoritarismo maquiavélico, isto é, colocado de forma gradativa, intermediado pelo presidente com um poder moderador, que poderia romper a dualidade entre “senhoriais e parentais”, numa tentativa de “despartidarizar” os poderes executivos – tomados pelo que o autor identifica como clãs. Esta mesma identificação seria destrinchada por Victor Nunes Leal (2012) posteriormente.

    Todavia, Leal põe em questionamento, numa das primeiras obras da moderna Ciência Política brasileira, a relação entre “compromisso entre o poder privado decadente e o poder público fortalecido”. O autor faz o movimento de retorno ao coronelismo motivado pelo questionamento de por que “os fatos produziram sempre uma acentuada concentração e unificação de poder” (idem, 2012) – se referindo ao poder centralizado que direta ou indiretamente favorece determinadas classes e seus interesses. A discussão teórica acerca do imaginário político brasileiro permite compreender sua base, sobretudo, em teóricos reformistas; que pensavam em como a sociedade brasileira poderia avançar para um tipo de organização social cujos costumes fossem coerentes às suas práticas políticas e econômicas ideais.

    Nesse sentido, a finalização se valerá da análise de Simon Schwartzman (2007, p. 83) acerca das “propostas de organização dos conhecimentos e de interpretação dos fatos que apresenta”. Conquanto a isto, o autor salienta que o imaginário social brasileiro não se constitui apenas de “singularidades” e que pode (e deve) ser estudada por uma perspectiva analítica genérica e não por uma perspectiva sui generis. Assim, sua colaboração se efetua na construção deste imaginário na medida em que faz uma investigação com enfoque na totalidade dos fenômenos políticos – pois não necessariamente seriam questões únicas ao Brasil. Guiados por essas contribuições marcantes na sociologia e ciência política brasileiras, buscaremos identificar as principais contribuições desses estudos e ponderações naquilo que permanece no imaginário social brasileiro. Assim, buscaremos tecer considerações qualificando pontos de análise da ciência social nacional que possam ser considerados atemporais.

    REFERÊNCIAS 

    BASTOS, Tavares. Os Males do Presente e as Esperanças do Futuro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939.

    CAMPOS, Francisco. O Estado Nacional. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2020.

    LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto: O Município e o Regime Representativo no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

    NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. São Paulo: Publifolha, 2000.

    SCHWARTZMAN, Simon. Bases do Autoritarismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Publit Soluções Editoriais, 2007.

    TORRES, Alberto. O Problema Nacional Brasileiro. Disponível em: . Acesso em: 23 mar. 2020.

    VIANA, Oliveira. Instituições Políticas Brasileiras. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1999.

     

  • Palavras-chave
  • Imaginário Social Brasileiro; Ciência Política; Teoria Social
  • Área Temática
  • AT1 - Clássicos do pensamento social brasileiro
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  • AT1 - Clássicos do pensamento social brasileiro
  • AT2 - Gênero e Raça no pensamento social
  • AT3 - Arte, literatura e sociedade
  • AT4 - Nacionalismos, Modernismos e Modernidades
  • AT5 - Economia, Estado e sociedade no pensamento social e político
  • AT6 - Educação e cultura no pensamento social e educacional
  • AT7 - Intérpretes e interpretações do Brasil contemporâneo
  • AT8 - História da historiografia e História das ciências sociais
  • AT9 - Marxismo e teoria crítica

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