"Mitos e Magia", I Bienal Latino-Americana de São Paulo (1978): interpretações da arte brasileira entre "antropofagia", "mestiçagem" e "globalização"

  • Autor
  • Tálisson Melo de Souza
  • Resumo
  • Em 1978, a Fundação Bienal de São Paulo realizou a primeira edição da Bienal Latino-Americana, que seria inaugural de uma série de bienais promovidas em sequência, substituindo as Bienais Nacionais que alternaram suas realizações com as Bienais Internacionais entre 1970 e 1976. Na crítica de arte veiculada em grandes jornais do país, o período de definição desse deslocamento de um escopo 'nacional' para um escopo 'regional-transnacional' mais amplo ('latino-americano') suscitou um debate de interpretações acerca da pertinência da categoria 'arte latino-americana', e de sua validade como baliza para organização de um evento expositivo no Brasil que se sobreporia às mostras nacionais. Analisando esse debate, identifico uma questão que circunscreve variadas posições manifestas pela crítica: 'quão latino-americana é a arte brasileira?' - ramificada ainda em outras perguntas e ensaios de delineamento de fronteiras entre ambos territórios de produção artística, ou "geoestéticas". Com os 50 anos do "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade, e do "Macunaíma", de Mário de Andrade, em 1978, a 1a Bienal Latino-Americana de São Paulo acontecia imersa numa discussão na qual as noções de "antropofagia" e "mestiçagem" daqueles textos de 1928 passavam a ser rearticuladas, apropriadas e questionadas tanto por artistas quanto agentes da mediação nas artes visuais (da crítica e curadoria). A discussão influenciou sobremaneira a concepção organizacional do evento, contando também com a participação ativa de antropólogas/os, historiadoras/es de arte e sociólogas/os atuantes no país e em outros centros latino-americanos, para estabelecerem um sistema classificatório da produção artística a ser exibida e uma temática prioritária a guiar as seleções dos órgãos diplomáticos de cada país representado. Pela primeira vez na história das Bienais de São Paulo, desde 1951, um título foi associado ao evento, "Mitos e Magia", e essa escolha por si acendeu um novo debate ao curso de discussões relativas às artes visuais naquele contexto. O Conselho da Fundação Bienal também buscou alterar um princípio básico do Regulamento das mostras, sobrepondo às divisões por nacionalidade um conjunto de quatro categorias étnicas que deveriam subsidiar a distribuição das obras enviadas no espaço expositivo: "orgiem indígena", "africana", "euro-asiática" e "mestiça". Com a participação de apenas 12 países além do próprio Brasil, a mostra foi alvo de muitas críticas voltadas a seu tema e categorizações, frente a denúncias de corrupção por parte da Diretoria da Fundação e uma crise de gestão financeira, essa  primeira edição acabou por ser a única, sendo decidida a interrupção da promoção de sua sequência, em prol da manutenção da Bienal Internacional. Tomando as exposições de arte como um evento-dispositivo que espacializa narrativas e explora bens simbólicos numa mise-en-scène de reinterpretações de obras, valores, hierarquizações e relações, foco sobre a 1a Bienal Latino-Americana de São Paulo, sua preparação e concepção, sua recepção enquanto projeto institucional e autoral, e os discursos apresentados durante simpósio multidisciplinar, cada âmbito desses reunindo artistas e agentes mediadores da cultura (agentes da crítica, curadoria, história da arte e ciências sociais), como Darcy Ribeiro, Mário Pedrosa,  Aracy Amaral, Fernando Mourão, Alba Zaluar, Lélia Coelho Frota e Eduardo de Oliveira e Oliveira. Com base na pesquisa em arquivos de São Paulo, Brasília, Santiago, Buenos Aires e Montevidéu, que realizei ao longo do doutorado, busco reconstituir as atividades dessas pessoas em relação ao evento enfocado, e proponho analisar como  dialogaram com o pensamento social brasileiro e latino-americano, na tentativa de produções de sentido para as atividades artísticas desenvolvidas à época em vários desses países. Para a apresentação, elegi as noções de "antropofagia", "mestiçagem" e "globalização" como eixos de leitura para o material sistematizado a partir dos arquivos, e a discussão que abordarei mais detidamente se concentra no modo como se ampliava tais conceitos de interpretação da cultura nacional para uma cultura regional-transnacional comum a países da América Latina.

  • Palavras-chave
  • Sociologia da arte, Arte brasileira, Arte contemporânea, Arte latino-americana, Bienal de São Paulo, Curadoria, Crítica de arte
  • Área Temática
  • AT3 - Arte, literatura e sociedade
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O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.

 

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