O presente trabalho vêm apresentar e debater uma abordagem didático metodológica desenvolvida em Escolas Públicas tanto Estadual quanto municipal do Estado de Minas Gerais, especificamente na cidade de Contagem, dentro do conteúdo de história, mas também em articulação interdisciplinar com outras disciplinas e áreas do conhecimento.
Esta abordagem didático metodológica não pretende ser específica da ciência histórica, mas um instrumento que possa ser utilizado em qualquer área do conhecimento e em suas disciplinas com vista a não reproduzir os princípios de sustentação da pedagogia tradicional, que seriam a memorização, a passividade, a repetição verbal do conteúdo, a reprodução de hábitos, a centralidade do professor e do ensino no verbalismo e a disciplina baseada na obediência.
Esta abordagem didático metodológica contém dois instrumentos de organização do trabalho científico, fruto da observação participante, deste professor no seu dia a dia, no intervalo de anos, no fazer do seu trabalho docente. Um deles é um “Roteiro de Interpretação e Análise do Texto Histórico”, este material é uma lista referente a textos do livro didático, geralmente uma unidade do livro, ou de materiais paradidáticos de literatura específica da ciência histórica, que é dividida em parágrafos, onde se pede para identificar os fatos históricos e os conceitos.
Para que o estudante monte estes fatos históricos ele precisa identificar o sujeito, que pode ser individual ou coletivo, uma ação, que seria o verbo ou a palavra que mostra o movimento ou a execução deste sujeito e o complemento. Por outro lado o conceito será identificado nas palavras que o próprio texto lhe coloca a explicação, a sua definição, portanto o estudante deverá identificar a palavra ou expressão que o texto lhe dá o seu significado.
O outro instrumento criado foi o “Quadro Conceitual de Política, Economia, Estrutura social e Cultura” que é um Quadro onde é apresentado cada um destes conceitos em suas várias matrizes filosóficas. Este quadro tende a ser montado em sala na parede para que os estudantes possam utiliza-lo das mais varias formas científicas. Como por exemplo preenchendo com os fatos e conceitos, na medida em que tenham que operar se aquele fato ou conceito é um fato ou conceito político, histórico, social ou cultural.
Estes dois instrumentos e esta organização foi construída e organizada a partir da pergunta; como é possível que um estudante em uma atividade discursiva, aberta, possa responder algo que não tenha nenhum sentido ou correlação com um texto ou outro material, tendo como reflexo apenas uma atitude mecânica de ir ao texto ou outro material e copiar pedaços desconexos do texto? Ou quando se dialoga com o estudante sobre um texto ou outro material cultural ou sobre o seu contexto social ou a atualidade é possível respostas totalmente desconexas com estes meios?
Entendemos que a realidade destes questionamentos, pavimentam, também o analfabetismo funcional com o reforço de todas as desigualdades existentes.
Destes dois instrumentos e desta organização começou-se a abrir as portas para várias constatações, como por exemplo, um aprendizado externado que não é fruto da repetição verbal de um conteúdo ou do verbalismo, entendido como a transmissão oralizada do conhecimento; fruto do intelectualismo do professor. O aprendizado apresentava-se a partir da retirada de sentido, lógica e exposição dos estudantes que vinham de um sem número de trabalho de “analyses”, abordagem de um todo, sua decomposição em partes, síntese para logo em seguida, rearticulação, refutação, reafirmação, conclusão de algo que encontrava-se implícito, ou não dito.
Deste primeiro processo acima eram geradas construção de textos, apresentação de trabalho na lógica de diálogos. O estudante então era acessado mas comunica o que o seu trabalho lhe apresentava, e portanto era possível pensar a ciência histórica, enxergar contradições, perceber lutas de classes, e entender o porque a vitória de uns e das derrotas de outros. Fruto primeiro da ação e d trabalho do estudante.
Este primeiro momento de organização tenta dialogar com analises de Lenin sobre a educação, quando este diz que o proletariado deve dominar e conhecer o conhecimento histórico acumulado, logicamente, não para reproduzi-lo como verdade, mas para questionar o que foi construído, como? Porque quem? Com qual objetivo? Pegar o que permite ao proletariado serve-lhe para enfrentar e superar a realidade de exploração e a desigualdade capitalista em que ele vive. Para nós este primeiro momento exposto acima é uma tentativa de trabalhar em bases críticas o conhecimento histórico acumulado da humanidade na perspectiva materialista e dialética. E no caso este estudante, da escola pública são os filhos dos proletários.
A utilização do Roteiro de Interpretação e Análise do Texto Histórico e do Quadro Conceitual de Política, Economia, Estrutura social e Cultura ganhou sistematização a partir da definição do NarKomPros de 1924 conceituava que “por complexo deve-se entender a complexidade concreta dos fenômenos, tomada da realidade e unificada ao redor de um determinado tema ou ideia central.” Pistrak, página 35.
O exercício da crítica baseado na dialética e no materialismo somente será possível se ocorrer a articulação destes fragmentos do passado com a atualidade, conceito da educação pelo trabalho e do politecnismo discutido por Pistrak, Shulgin.
Para isso utilizamos o conceito de trabalho social discutido por Pistrak que emerge de uma tríade que seria a atualidade, trabalho e da auto-organização, disto deriva um estudo minucioso do trabalho educativo, com mudança de material, nas disciplinas escolares e desenvolve a ideia da unificação do estudo ao redor de fenômenos da atualidade, como forma de familiarizar o estudante desde logo com a crítica do materialismo histórico-dialético. Segundo Pistrak a atualidade no sentido que damos a esta palavra, ou seja, com o sentido de luta contra este passado, de transformação da vida na direção da liquidação deste passado.” Fundamentos da escola do trabalho. (Páginas 42 – 43)
Partimos da premissa então que o conceito de atualidade permite teoricamente trazer a realidade do meio do estudante para a analise crítica, e ela deve ser estudada nas suas várias relações com o imperialismo, e como aprofunda a exploração sobre os países e a classe trabalhadora. E fazer o duplo trabalho de fazer emergir os fios da dominação e sua estruturação na atualidade e no passado, identificando-a e problematizando-a para supera-la.
Bibliografia
Caldart, Roseli Salete. Konstantinovna Krupskaya: A construção da Pedagogia Socialista. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2017.
Pistrak, Moisey Mikhaylovick. A Escola – Comuna. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2009.
Pistrak, Moisey Mikhaylovick. Fundamentos da Escola do Trabalho. São Paulo; Editora Expressão Popular, 2018.
Shulgin, Viktor Nikholaevich. Rumo ao politecnismo. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2009.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos