Durante o século XX, uma série de autores teve destaque por tentar interpretar o Brasil, seu povo e seus problemas. Talvez o mais original desses autores seja também o mais esquecido. Nesse contexto, como forma de exaltar aquele que desenvolveu um dos pensamentos mais genuínos sobre o Brasil e sobre a América Latina, este trabalho tem por objetivo analisar alguns pontos de convergência entre a obra A América Latina: males de origem (1905), do ensaísta sergipano Manoel Bomfim (1868-1932), e a Teoria Decolonial. Esta constitui um desprendimento latino-americano autônomo do tronco principal do pensamento pós-colonial e, assim como esse último, pretende explicar que algumas questões com origem colonial se mostraram mais duradouras que o próprio colonialismo, caracterizando, ainda hoje, elementos de poder. Nesse sentido, analisar a obra de Bomfim, que escreveu no início do século XX, é de extrema importância para compreender que práticas autônomas que sejam pensadas a partir da realidade latino-americana, e não de uma cultura livresca ditada pela Europa, são reclamadas há bastante tempo, sendo até mesmo anteriores ao desenvolvimento do debate sobre a decolonialidade. Embora não se possa classificar Bomfim precisamente como um autor decolonial, este trabalho propõe incluir a sua obra na produção intelectual que questionou as verdades universais ditadas pelo etnocentrismo, ao mesmo tempo em que pretende sugerir uma contribuição brasileira aos debates do Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C), ainda bastante restritos à ideia de América Hispânica.
Assim, a partir da análise do conceito de parasitismo social, desenvolvido pelo autor sergipano, pretende-se identificar semelhanças com os conceitos de Colonialidade do Poder, Colonialidade do Saber e Colonialidade do Ser, eixos constitutivos da Teoria da Decolonialidade. Ademais, demonstra-se no artigo que a defesa feita pelo autor dos povos que aqui viviam, indígenas, negros e mestiços, contrapunham-no à corrente da época que os considerava como seres inferiores, baseada em um discurso pseudocientífico do Darwinismo Social. Nesse sentido, à semelhança do que defendem os autores do grupo M/C, a representação de Manoel Bonfim da América Latina foi inovadora ao atacar as raízes de nossos problemas, invariavelmente ligadas à forma predatória e parasitária da colonização. Ao fim, com base nas comparações entre os conceitos a partir da pesquisa bibliográfica, evidencia-se o quão inovadora foi a obra de Bonfim na construção de um genuíno pensamento social brasileiro e, sobretudo, latinoamericano, o que o coloca na contramão da história dita “ocidental” e como um precursor da decolonialidade no Brasil.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos