Um pensamento outsider: a crítica social anarquista no Brasil

  • Autor
  • Marcelo Luiz da Costa
  • Resumo
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    Este trabalho tem como base a pesquisa documental de registros do pensamento anarquista no Brasil, entendido não como simples exotismo interno oriundo do transporte de ideias estrangeiras trazidas pelas mãos de imigrantes, mas um pensamento que refletiu sobre questões e problemáticas nacionais, com autores imigrantes e brasileiros, elaborações que tiveram entre outras características a dispensa do Estado como categoria fundamental de explicação da sociedade; outro aspecto não menos importante está no fato de que o pensamento libertário, via de regra, não foi ensinado nas universidades e não fez escola no ambiente institucionalizado das academias, mas, ao contrário, se formou pela natureza de seus princípios como um pensamento outsider, transitando apócrifo por jornais, revistas e livros que só muito recentemente passaram a receber maior interesse, sendo seus portadores trabalhadores, sindicalistas, militantes, intelectuais e artistas como Edgar Leuenroth (1881-1968), José Oiticica (1882-1957), Lima Barreto (1881-1922), Maria Lacerda de Moura (1887-1945), Jaime Cubero (1926-1998) e Edgar Rodrigues (1921-2009), entre outros; e os princípios ácratas sempre funcionaram como teses para suas heterotopias, isto é, suas práticas de resistência, liberdade e revolta, que construíram lugares diferentes na sociedade brasileira, por intermédio da imprensa libertária, por meio da educação, com a fundação de escolas, ao recurso dos sindicatos de resistência no início do século XX, no teatro, na difusão de livros e bibliotecas, além da realização de greves operárias e manifestações nas ruas; os métodos dos libertários nasceram legitimados pela teoria social do anarquismo, filosofia política surgida na Europa do século XIX a partir de nomes como o do francês Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) e dos russos Bakunin (1814-1876) e Kropotkin (1842-1921), cujos princípios foram defendidos de forma intransigente, principalmente, nas chamadas ‘recusas’ anarquistas da ideia do regime representativo, da manutenção da propriedade privada e do comunismo de Estado, elementos que significaram para os libertários autoritarismos de direita e de esquerda, que impedem o desenvolvimento da liberdade individual e da ação direta, esta compreendida como negação da delegação de poderes; desse modo, recusaram as estratégias políticas do Partido Comunista e de seus líderes, como Luís Carlos Prestes (1898-1990), denunciaram o governo da classe operária pelo populismo varguista e renunciaram à participação no jogo político liberal entre 1946-1964, resistindo à captura das energias da revolta pela nascente democracia brasileira; após a ditadura civil-militar e seu contexto de perseguição e repressão, o anarquismo ressurge não mais vinculado ao sindicalismo como antes e encontrando penetração nas academias por intermédio dos pesquisadores das ciências humanas e sociais, contudo, ao mesmo tempo, interpondo suas recusas a qualquer assalto à liberdade, retomando a necessidade de pensar a realidade social pelo prisma da ação direta; sua formação, no entanto, esteve associada à teoria social de crítica radical à autoridade, à desigualdade e à injustiça proveniente dos libertários pioneiros, como uma outsider no pensamento social brasileiro.

     

  • Palavras-chave
  • anarquismo; radicalismo; democracia brasileira;
  • Área Temática
  • AT5 - Economia, Estado e sociedade no pensamento social e político
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O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.

 

  • AT1 - Clássicos do pensamento social brasileiro
  • AT2 - Gênero e Raça no pensamento social
  • AT3 - Arte, literatura e sociedade
  • AT4 - Nacionalismos, Modernismos e Modernidades
  • AT5 - Economia, Estado e sociedade no pensamento social e político
  • AT6 - Educação e cultura no pensamento social e educacional
  • AT7 - Intérpretes e interpretações do Brasil contemporâneo
  • AT8 - História da historiografia e História das ciências sociais
  • AT9 - Marxismo e teoria crítica

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