O Brasil acompanha na atualidade movimentos políticos, intelectuais e sociais neomonarquistas. O neomonarquismo em voga faz pertinente a indagação ou as indagações sobre o que foi a experiência monárquica no Brasil. Vigente de 1822 a 1889 a Monarquia brasileira pode, e talvez até deva, ser compreendida como uma continuidade daquela existente em Portugal, assim fazendo parte do jogo das casas dinásticas europeias. Não é demasiado lembrar que Pedro I, o primeiro Imperador do Brasil, era o herdeiro do trono de Portugal, posto que mais tarde viria a ocupar com título de Pedro IV. Apesar de sua breve existência, 67 anos, a Monarquia deixou marcas profundas no país. Desde questões sociais e políticas em aberto, muitas delas não solucionadas pela República que a substituiu; a consolidação da língua e território nacionais; a melodia do Hino Nacional; as cores da bandeira. Para citar algumas destas marcas. O término do regime monárquico na passagem do dia catorze para quinze de novembro do ano 1889 trouxe e traz para História um dos raros momentos onde a versão das pessoas supostamente derrotadas aparece em condição hegemônica. A variante explicativa de que a instalação da República no Brasil se deu mediante um golpe militar, sem respaldo popular e baseada nos interesses de proprietários rurais descontentes com os rumos, por eles entendidos como progressistas da Monarquia é bem divulgada e bastante aceita. A aceitação de tal variante se assenta em evidências empíricas consistentes. O movimento republicano no Brasil oitocentista nunca foi, nem quis ser um movimento fundado em bases populares. O republicanismo era praticado e defendido em geral por estudantes do ensino superior, em sua maioria oriundos das elites agrárias, profissionais liberais alijados de espaço na política e administração imperial e por militares, notadamente, jovens oficiais sob orientação positivista. A instalação da República no Brasil não se daria sem a atuação do Exército, dos cafeicultores fluminenses, do vale do Paraíba, naquele momento o último bastião de apoio político ao reinado de Pedro II. Contudo, essa variante é fundada na leitura monarquista da instalação da República no Brasil, aqueles supostamente derrotados. Outras leituras existiram e existem deste momento histórico do Brasil. Desta feita, o presente trabalho tem por objetivo investigar uma destas leitura, a realizada por Lilia Schwarcz, sobretudo, na obra As Barbas do Imperador. A autora se destaca por ter vários trabalhos sobre o Brasil monárquico tanto na condição de autora quanto na de organizadora materiais acerca do tema. Assim, sua leitura do Brasil sob a Casa dos Habsburgos Braganças tem bastante ressonância, ou seja, tem reflexos em outros trabalhos, de modo a se entender aqui ser relevante compreender como Schwarcz construiu sua leitura da Monarquia brasileira. Para executar a tarefa aqui proposta valeu-se das considerações de Pierre Bourdieu sobre o efeito de teoria e Jonh Pocock acerca do vocabulário normativo, contexto linguístico e social. Com base neste arcabouço teórico-metodológico observou-se a construção de visão da Monarquia envolta a uma imensa complexidade. A Monarquia brasileira se equilibrava entre contradições, incoerências e linhas de coerência tão fortes quanto o sol posto a brilhar nos trópicos e tão reluzentes quanto as joias e o ouro da Coroa imperial.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos