Este texto tem como objetivo colocar em análise um debate que é histórico, nas ciências sociais e demais áreas, e que produz discussões a cerca dos direitos humanos, qual seja: o extermínio da população preta e pobre pela Necropolitica de governos autoritários. Como afirma Sílvio Almeida (2018), falar de racismo estrutural é olhar para o contexto histórico de muitas lutas que tem como base principal no Brasil a escravidão. Segundo o autor estamos vivendo um rebaixamento da pauta, pois agora mais que lutar por direitos, estamos lutando para não sermos mortos.
Nossa proposta de análise tem como base o paradigma indiciário de Carlos Gizburg que ao propor o método indiciário permitiu a muitos de nós pesquisadores a observação de pistas, indícios e sinais com objetivo de investigar o que está escondido e não pode ser problematizado com métodos tradicionais. Para essa reflexão, vamos utilizar do indiciarismo na tentativa de entender possíveis conspirações nos EUA contra a população pobre e preta residentes naquele país. Alguns autores foram fundamentais para a análise: Silvio Almeida (2018) Djamila Ribeiro (2017); WEB. Du Bois (1999) entre outrxs.
Para essa análise trabalharemos com quatro eixos: 1) A pesquisa divulgada pelo Jornal Britanico The Guardian que apresenta a relação entre a disseminação do vírus no EUA e as manifestações de 30 de abril contra o Lockdown; 2) A letalidade do COVID – 19 nas comunidades onde estão as pessoas pretas e pobres; 3) Seria possível direcionar a letalidade desse vírus para exterminar alguma população? Se sim que população seria essa? E qual seria a cidade escolhida? 4. Qual era a previsão do possível comportamento do Movimento Negro diante de tal brutalidade, considerando históricos de casos semelhantes?
Os EUA tinham pesquisas que mostravam a letalidade do COVID-19 pós-manifestação.
Em 30 de abril a população foi às ruas para manifestar sua insatisfação em relação ao Lockdown. A empresa Vote Map rastreou o celular dos manifestantes e analisou a relação entre a movimentação destes nas manifestações e o movimento do vírus. Neste período, os EUA estavam com a curva de crescimento semelhante à Itália e o Brasil, no período pós as manifestações o país passa a dobrar os casos a cada dia. Seis dias após as manifestações (06 de maio) o presidente Donald Trump considerou a crise do COVID 19 como pior que o ataque a Pearl Habor e o colapso do Word Trade Center. No dia 27 de maio os EUA são registrados como o 1º país no mundo a alcançar a marca de 100.000 mortes diárias por causa do Coronavirus. Os EUA tinham conhecimento da grande letalidade do vírus.
A letalidade do COVID – 19 nas comunidades onde estão as pessoas pretas e pobres.
Dia 30 de abril começou a circular, nos EUA, a pesquisa coma informação de que a maior quantidade de mortes pelo coronavírus estava nas comunidades negras e de baixa renda e, latinos. Um exemplo destacado foi o distrito de Bronx, Nova York, que apresentava 23% das mortes. Em relação às demais cidades foram observadas que os negros representavam 22% da população e 28% dos mortos. Números alarmantes foram encontrados em Lousiana onde 32% da população é afro-americana e representavam 70% do total de mortos.
Donald Trump ao receber a noticia sobre a letalidade do vírus na população preta e podre afirmou: “Eles têm sido afetados de maneira muito, muito dura. Não faz sentido e eu não gosto disso”. Os EUA tinham conhecimento da grande letalidade do vírus no extermino da população preta e pobre.
Seria possível direcionar a letalidade desse vírus para exterminar alguma população? Se sim que população seria essa? E qual seria a cidade escolhida?
Minneapolis (cidade onde foi assinado George Floyd) é uma cidade progressista (por suas lutas políticas), porém, com autos indicadores de pobreza e desemprego. Nesta cidade está o primeiro Negro a ocupar o cargo de chefe de polícia (Medaria Arradondo), a cidade também possui um dos poucos complexos habitacionais para gays (uma conquista do movimento LGBT). Minneapolis tem um movimento indígena importante datado de 1968. Tem histórico de protestos importantes na luta contra o racismo, é o caso do assassinato de homens pretos que datam de 2015 (Lamar Clark) e 2018 (Thurman). Não se calariam diante de um novo crime brutal. A 656,6 km de Minneapolis está Chicago, a 3ª maior cidade dos EUA, que tem a primeira prefeita, mulher, preta e lésbica, a ex-promotora federal Lori Lightfoot.
O assassinato de George Floyd aconteceu em Minneapolis, em um cruzamento que divide duas zonas com populações historicamente em confronto, uma povoada por brancos e outra por negros. Os negros são apenas 20% da população, mas, representam mais de 60% das vítimas em disparos com envolvimento de policiais. George foi acusado de compras com cartões de créditos roubados. O que não foi provado, uma vez que não havia nem notas fiscais de compra na citada loja, nem cartões de crédito em seu carro de onde foi retirado brutalmente.
O presidente dos EUA, Donald Trump afirmou que essa “morte trágica” será investigada restritamente pela FBI.
As manifestações de revolta, até o dia 31/05/2020, chegavam a computar a participação de 75 cidades dos EUA, 1.700 pessoas haviam sido presas até então.
Qual era a previsão do possível comportamento do Movimento Negro diante de tal brutalidade, considerando históricos de casos semelhantes?
Em 2014 Eric Garner foi assassinado por estrangulamento de forma muito semelhante a do George Floyd. Ele repetia para os policiais “eu não consigo respirar”. Preso também injustamente. Pelo menos 50 manifestações aconteceram em todo país e em uma dessas manifestações foi registrada a presença de 2.500 pessoas.
E se o assassinato de George Floyd foi uma isca para levar a população negra e pobre para as ruas? Esse projeto de extermínio no Brasil tem inúmeros rostos desde os “Escravos Tigres” que no período da escravidão tinham os corpos machados por listras brancas, que escorriam enquanto carregavam os tonéis de materiais que deveriam descarregar no esgoto, ao “João Pedro” morto em São Gonçalo, RJ. Assim também tem sido o número alarmante de jovens e mulheres negras assassinadas por policiais nas favelas. Mas, a luta e a resistência se fazem combativa e vem tocupando inúmeras frentes: as cotas para pretos e partos que têm mudado a dinâmica política das Universidades; a PEC da Doméstica duramente aprovada; a criação de Secretarias Integradas e Especiais para as mulheres, elaborando planos nacionais e estaduais de enfrentamento as violências contra as mulheres, principalmente as pretas que possuem o maior número de abusos e feminicídios. Entender os efeitos políticos e culturais que estão por trás das atividades realizadas pelos governos autoritários tem sido fundamental para fortalecer nossa luta contra o extermínio da população preta e pobre.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos