Mulheres em vulnerabilidade social durante o isolamento pela Covid-19: A garantia dos direitos como prevenção e enfrentamento à violência doméstica

  • Autor
  • Sheila da Penha Vasconcelos Ribeiro
  • Co-autores
  • Janilce de Souza Lan dos Santos , Layla dos Santos Freitas , Rosemery Casoli
  • Resumo
  •  

                                                                                                                                                                                           Autora: Sheila da Penha Vasconcelos Ribeiro[1] 

     

    Coautoras: Janilce de Souza Lan dos Santos[2]

     

                                                                                                  Layla dos Santos Freitas[3]

     

     

     

    Rosemery Casoli[4]

     

     Palavras-chaves: mulher, vulnerabilidade, direitos

     

     RESUMO

     

    O trabalho visa apresentar a implementação de ações para a segurança de mulheres, a partir do isolamento social imposto pelo vírus COVID 19, realizado pelo projeto Fordan: Cultura no Enfrentamento as Violências que é um projeto de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo, criado pela Profª Drª. Rosely Maria da Silva Pires em 2005. Atualmente, trata o enfrentamento às violências contra mulheres, LGBT e juventude pobre do bairro São Pedro e recebem apoio especializado.

     

    Foi utilizada a metodologia indiciária proposta por Carlo Ginzburg. O objetivo da pesquisa, é mapear ações para o monitoramento e acolhimento de 50 (cinquenta) mulheres, 07 (sete) homens e respectivas famílias. Foram analisados dados importantes de pesquisadores (as) do projeto. Também, breve revisão de literatura, buscando estabelecer relações entre o isolamento social, a importância do processo de acolhimento e monitoramento, dando destaque ao fortalecimento emocional como base da segurança da mulher e a garantia de direitos como prevenção e enfrentamento da violência doméstica.

     

     

     

    1. O Fortalecimento emocional como base da segurança da mulher

     

    Organizações voltadas ao enfrentamento da violência contra mulher observaram aumento significativo nos casos de depressão, ansiedade, dentre outros. Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio (UERJ), aponta que durante a pandemia houve aumento de 90% (noventa por cento) dos casos de depressão, enquanto os casos de ansiedade e estresse dobraram[5].

     

    Embora pesquisas assinalem que a pandemia tenha intensificado os problemas para a saúde mental de muitas, muito devido à sobrecarga, dados do boletim 01 contradizem os oficiais e apontam que apenas 15% (quinze por cento) das mulheres atendidas pelo projeto informaram fazerem as tarefas sozinhas. As demais, dividem com os residentes. Este resultado, possivelmente, decorre do trabalho desenvolvido, já que em momento anterior, foi trabalhado com crianças e jovens, a necessidade de colaborar nas tarefas de casa. Portanto, as mulheres estavam em processo de fortalecimento.

     

     

     

    2. A garantia de direitos como prevenção da violência doméstica.

     

    Rose Marie Muraro, no livro O martelo das Feiticeiras, diz que a sociedade determina o papel do homem e da mulher. Para os primeiros, é reservada a função de trabalhar no domínio público. Para as mulheres, são delegadas funções no espaço privado, tornando-a dependente, financeiramente. Fato que pode gerar uma submissão psicológica.

     

    Para o rompimento dessa dependência, se buscou desenvolver formas de fomentar a autonomia e fortalecimento. Atendimentos passaram a ser realizados de forma online, por meio de telefonia ou vídeo, dando continuidade ao trabalho, buscando possibilitar um isolamento social, caracterizado pela garantia de direitos. No projeto, a equipe multidisciplinar atua a partir de uma perspectiva voltada para a autonomia e transformação efetiva, para que mulheres se reconheçam como sujeitos. Nesse sentido,

     

     

     

    [...] são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988)

     

    Se questionou  o porquê asmulheres se sentem seguras no projeto. Foram recebidas as seguintes respostas:

     

     

     

    “Porque não estamos sozinhas” (monitorada 01)

     

     

     

     “Temos vocês, que são nossa segunda família” (monitorada 02)

     

     

     

    “Porque vocês estão sempre juntos com a gente no momento mais difícil e nunca nos deixa sozinhos” (monitorada 03)

     

     

     

    “Mesmo nas dificuldades, estão vindo até nós, evitando aglomeração. Cuidando de todos, sempre nos lembrando de nos cuidar.  Isso é maravilhoso, saber que tem pessoas que se importam com o próximo” (monitorada 04)

     

     

     

    “Porque mesmo em meio às dificuldades vocês tem trabalhado incansavelmente para ajudar a nos proteger e a nossa família não só com alimento, mas também com nosso bem-estar psicológico e emocional” (monitorada 05)

     

     

     

    “Porque vocês cuidam da gente e das nossas crianças com muito carinho amor e dedicação e sempre procurando oferecer o melhor” (monitorada 06)

     

     

     

    “Por se importam com a gente e nos dão um carinho sem medida” (monitorada 07)

     

     

     

    A atuação das equipes, evidencia-se por meio de ações que permitem superar visões assistencialistas. Através do processo de escuta e observação, se sentem seguras. A escuta, têm se mostrado como um método efetivo para evitar o agravamento da saúde mental. "Ouvir o outro”, a sensação de pertencimento, faz com que se sintam importantes. Outro fato que vale destacar é a sororidade entre as acolhidas. Como descrito por Rose Marie Muraro:

     

     

     

    As mulheres camponesas pobres não tinham como cuidar da saúde, a não ser com outras mulheres tão camponesas e tão pobres quanto elas. Elas (as curadoras) eram as cultivadoras ancestrais das ervas que devolviam a saúde, e eram também as melhores anatomistas do seu tempo. Eram as parteiras que viajavam de casa em casa, de aldeia em aldeia, e as médicas populares para todas as doenças.

     

     

     

    Quando a escuta é realizada, geralmente, repassam informações de dificuldades relativas as demais, e é possível entender que desejam que o acolhimento seja recebido pelas colegas.

     

     

    [1] Assistente social e pesquisadora do Projeto de Extensão da UFES Fordan: Enfrentamento a Violência. Pesquisadora do LAPVIM: Laboratório de Pesquisas sobre Violência contra a Mulher. sheiladapenha@hotmail.com;

     

     

     

    [2] Assistente social e pesquisadora do Projeto de Extensão da UFES Fordan: Enfrentamento a Violência. Pesquisadora do LAPVIM: Laboratório de Pesquisas sobre Violência contra a Mulher. souza.janilce26@gmail.com;

     

     

     

    ³ Advogada voluntária, Socióloga e pesquisadora do Projeto de Extensão da UFES Fordan: Enfrentamento a Violência. Pesquisadora do LAPVIM: Laboratório de Pesquisas sobre Violência contra a Mulher. Laylafsantos.adv@gmail.com;

     

     

     

    [4]Rosemery Casoli, Mestra e Professora de Artes. Pesquisadora nos Projetos de Extensão da UFES: LAPVIM - Laboratório de Pesquisas sobre Violência contra a Mulher; NEI - Núcleo de Estudos e Pesquisas Indiciárias - FORDAN: Cultura no Enfrentamento às Violências. rosemerycasoli@gmail.com

     

     

    [5] (Disponível em: <https://cidadeverde.com/coronavirus/107533/cresce-o-numero-de-casos-de-estresse-e-ansiedade-durante-a-pandemia>. Acessado em: 03 de jun. 2020)

  • Palavras-chave
  • mulher, vulnerabilidade, direitos
  • Área Temática
  • AT2 - Gênero e Raça no pensamento social
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