O papel do estresse crônico e do fator SRF no desenvolvimento de doenças neurológicas

  • Autor
  • Giulia Giovana Barreiro Gaiola
  • Resumo
  •  

    O desenvolvimento de doenças neurológicas tem sido associado não mais apenas ao desbalanço nas redes de neurotransmissores, mas ao resultado do conjunto de fatores genéticos, endócrinos, ambientais e também relacionados ao microambiente neuronal.  Um mecanismo central, nesse contexto, envolve a modulação da atividade do fator de transcrição SRF (serum response factor), crucial para a plasticidade sináptica e manutenção do citoesqueleto neuronal. Este trabalho investiga como o estresse agudo e o crônico, interferem na produção de cortisol, através do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal(HPA), e, consequentemente na de BDNF, o qual modula atividade do fator SRF via receptores TrkB, alterando a expressão de seus genes-alvos.

    Revisões sistemáticas da literatura e análises de experimentos em modelos animais submetidos a estresse agudo e crônico e ao knockout(KO) do fator SRF foram realizadas. Avaliou-se os níveis de cortisol, BDNF e de genes-alvo do SRF em regiões cerebrais específicas, como no hipocampo e no córtex pré-frontal. A expressão de IEGs(immediate early genes) como Arc, Egr1, Nps4,  homer1a e c-fos, associados ao SRF, foi correlacionada com marcadores de potenciações e depreciações de longa duração( LTP e LTD, respectivamente), além da organização do citoesqueleto neuronal.

    Observou-se que enquanto o estresse agudo aumenta os níveis de cortisol e BDNF, colaborando para a expressão de SRF, o estresse crônico reduz a quantidade de BDNF ao inibir o eixo HPA (feedback negativo),  diminuindo a expressão de SRF e de IGEs fundamentais para a plasticidade sináptica. Tais alterações estão relacionadas a déficits na geração e regulação de LTPs e LTDs tardios, ambos essenciais para formação de memórias a longo-prazo e modulação das respostas a novos contextos ambientais.  Ademais, decréscimos de IGEs afetam a dinâmica do citoesqueleto e de cálcio intracelular,  prejudicando a formação de espinhos dendríticos e sinapses inibitórias, o que corrobora processos de excitotoxicidade em sinapses glutamatérgicas, associados a neurodegeneração, como no Alzheimer, além de desregular a ação de cdk5, envolvida na hiperfosforilação da tau.  Conclui-se, portanto, que a restauração da sinalização SRF, representa uma abordagem inovadora para tratamentos direcionados para doenças neurológicas, enfatizando a relevância de explorar mecanismos moleculares subjacentes ao estresse crônico, oferecendo novas perspectivas terapêuticas mais abrangentes.

     

  • Palavras-chave
  • Fator SRF, Estresse crônico, BDNF, doenças neurodegenerativas
  • Área Temática
  • Neurociência Básica
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É com imensa satisfação que apresentamos o caderno de resumos do IV Simpósio Brasileiro de Neurociências, realizado de 4 a 7 de dezembro de 2024, em Joinville, Santa Catarina. Este evento consolidou-se como um marco na promoção da ciência, formação de cientistas e divulgação científica, reunindo profissionais, pós-graduandos e graduandos em um ambiente propício ao intercâmbio de conhecimentos e experiências nas diversas esferas das neurociências. O evento é realizado pela Organização Ciências e Cognição, UFRJ, CENSUPEG, com o apoio do CNPq.

A programação do simpósio foi cuidadosamente elaborada para abordar temas atuais e pertinentes, por meio de conferências, mesas-redondas e palestras ministradas por pesquisadores de renome nacional e internacional. Essa estrutura proporcionou aos participantes a oportunidade de debater com especialistas, integrando diferentes perspectivas, como biologia molecular, fisiopatologia, clínica e morfologia, essenciais à construção do senso crítico e à iniciação científica.

Complementando as atividades teóricas, foram oferecidos minicursos destinados à capacitação e atualização dos profissionais em técnicas e assuntos relevantes ao desenvolvimento nas ciências do sistema nervoso. Essas iniciativas visaram fortalecer a formação acadêmica e prática dos participantes, ampliando suas competências e habilidades no campo das neurociências.

Os trabalhos submetidos e selecionados foram apresentados em sessões orais, avaliados por bancas compostas por doutores. Essa dinâmica permitiu um diálogo construtivo entre apresentadores e avaliadores, promovendo a troca de insights e contribuindo para o aprimoramento das pesquisas em andamento. Além disso, o público teve a oportunidade de se atualizar sobre as investigações conduzidas por diversas instituições, enriquecendo o conhecimento coletivo.

O IV Simpósio Brasileiro de Neurociências também abrigou eventos satélites de grande relevância: o I Colóquio de Neuropsicopedagogia de Santa Catarina e o III Encontro Ciências e Cognição. Essas iniciativas ampliaram o escopo do simpósio, fomentando discussões interdisciplinares e fortalecendo as relações entre os diversos núcleos de pesquisa e ensino.

Este caderno de resumos reflete a diversidade e a qualidade das pesquisas apresentadas, evidenciando o compromisso da comunidade científica brasileira com o avanço do conhecimento em neurociências. Esperamos que este registro sirva como fonte de consulta e inspiração para futuros estudos, contribuindo para o contínuo desenvolvimento da ciência em nosso país.

Agradecemos a todos os participantes, palestrantes, avaliadores e organizadores que, com dedicação e entusiasmo, tornaram possível a realização deste evento. Que os frutos aqui colhidos impulsionem novas descobertas e colaborações, fortalecendo cada vez mais a neurociência brasileira.

Cordialmente,

 

Comissão Organizadora

IV Simpósio Brasileiro de Neurociências

Comissão Organizadora

Aliny Carvalho Dematté

Alfred Sholl-Franco

Fabrício Bruno Cardoso

Glaucio Aranha Barros

João Vítor Galo Esteves

 

Comissão Científica

Aliny Carvalho Dematté

Alfred Sholl-Franco

Fabrício Bruno Cardoso

Glaucio Aranha Barros

João Vítor Galo Esteves

 

Comissão de Apoio

Angélica Campos

Esdras Pinheiro

Isabela Goldstein