A bovinocultura leiteira intensificou os trabalhos de melhoramento genético e nutricional para aumentar a produção e a medida que os bovinos tornaram-se especializados, notou-se o aumento da ocorrência de doenças digitais, afetando a saúde e o bem-estar animal. A pododermatite interfalangeana distal é uma afeção comum em bovinos e inicia-se com um processo inflamatório no tecido intersticial e na membrana sinovial. Tem como causa a extensão de lesões podais, como úlcera de sola, doença da linha branca, erosão de talão, flegmão interdigital e penetração de corpos estranhos no espaço interdigital. O tratamento consiste em antibióticoterapia sistêmica, lavagem da articulação e em casos crônicos, artrodese ou amputação de falange. O presente trabalho tem como objetivo relatar as alterações clínicas e os tratamentos preconizados em um caso clínico de pododermatite séptica em uma vaca girolanda, criada extensivamente e proveniente de Ibicaraí, Bahia. O atendimento foi realizado no Setor de Clínica de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz. Na anamnese, o proprietário relatou que a paciente ficava em piquete de Brachiaria decumbens com grande quantidade de cascalho e umidade elevada e o tratamento realizado foi duas aplicações de florfenicol (Roflin®) e lavagens periódicas da lesão com permanganato de potássio. Ao exame clínico, o animal apresentou escore corporal 1, anoréxica e relutância ao caminhar, não apoiava o membro pélvico direito e aumento de volume entre banda coronariana e boleto no dígito lesionado. A unha medial apresentou perda de tecido córneo no talão e a face plantar do dígito com perda de tecido tegumentar. Foi observado presença de fistulas com secreção purulenta no espaço interdigital do casco e na face medial da articulação metatarsofalangica. Foi realizado radiografia no dígito, indicando uma artrite séptica crônica da unha medial, com exostoses e necrose de falange distal e média. O tratamento inicial foi casqueamento preventivo, colocação de tamanco de madeira na unha sadia e medicação pré-cirúrgica por dois dias com Ceftiofur, na dose de 2,0 mg/kg (Bioxel®) e Meloxican, na dose de 0,5 mg/kg (Maxican®). O método cirúrgico utilizado foi a artrodese, com incisão transversal acima do talão. O coxim plantar, osso navicular, parte do tendão flexor profundo e a articulação falangeana distal foram removidas e os trajetos das fistulas foram debridados com auxílio de uma broca de 4 mm e de cureta para retirada do material infeccioso. Foi colocado dreno na articulação e realizada lavagem com solução de iodo a 2% por três dias consecutivos. Como terapia, foi utilizada a antibiose intravenosa com enrofloxacino (Quinotril®), 0,7 mg/kg por 15 dias consecutivos e sucedendo com antibioticoterapia sistêmica com Ceftiofur 2,0 mg/kg IM por mais sete dias. Após o procedimento, realizava o curativo da lesão com a aplicação de uma pomada com oxitretraciclina (Terramicina Pó Solúvel®) e bandagem com emulsão asfáltica. Foi administrado Meloxican na dose de 0,5 mg/kg (Maxican®) por cinco dias e Omeprazol na dose de 4 mg/kg (Equiprazol®) por 30 dias. Avaliação clínica e os curativos eram realizados regularmente no animal e foi observado que o limiar de dor reduzia gradativamente e no 90° dia após a cirurgia o animal caminhava normalmente e foi liberado. A artrodese é um procedimento que mantém a capacidade produtiva e longevidade do animal na propriedade, sendo uma alternativa importante no tratamento das afeções internas do dígito de bovinos com alto valor genético, entretanto, apresenta um custo elevado pela maior demanda de cuidados pós-operatórios e de mão de obra especializada, podendo limitar seu uso e inviabilizar a permanência do animal no rebanho.
Comissão Organizadora
IV CONEB
Comissão Científica