Bócio é denominado o aumento de volume da glândula tireóide, de origem não inflamatório e não neoplásica, e ocorre com o aumento da glândula tireoide em decorrência da diminuição da concentração plasmática dos hormônios T3 e T4. O bócio congênito é observado quando o animal já nasce com essa sintomatologia, já descrito em ovinos, caprinos, bovinos e equinos. Esta afecção pode ser decorrente de fatores primários e secundários que afetam a matriz, como: ausência de suplementação mineral, deficiência de iodo no solo em que está a pastagem, ingestão de plantas bociogênicas, contaminação bacteriana dos componentes da alimentação, alto consumo de cálcio, ingestão de farinha de linhaça, e, além disso, absorção intestinal de iodo diminuída por alimentos que contenham alto teor de nitrato e outros componentes. O presente trabalho teve como objetivo relatar a ocorrência de bócio em cordeiros na cidade de Cambé, estado do Paraná, em julho de 2017. Foi realizado atendimento de um rebanho ovino com queixa de cordeiros recém nascidos fracos e com aumento de volume em terço cranial de pescoço. O rebanho era composto de 39 ovelhas, cinco cordeiros e um carneiro, divididos em dois lotes. A criação era feita de maneira semi extensiva, em piquetes de capim estrela e capim estrela africana com suplementação composta de quirera de milho, farelo de soja e sal mineral específico para a espécie. Cinco ovelhas haviam parido seis cordeiros com baixo peso ao nascimento, letárgicos, apáticos, com áreas de rarefação pilosa e aumento de volume em terço cranioventral de pescoço. As matrizes não apresentaram qualquer sinal clínico e o parto ocorreu sem intercorrências. Ao exame físico das matrizes nenhuma alteração foi encontrada. Um cordeiro foi a óbito após o nascimento, porém a necropsia não foi realizada, pois o animal já havia sido descartado. Ao exame físico dos cordeiros, não foram observadas alterações, porém foi evidenciada glândula tireóide aumentada de tamanho, em ambos os hemisférios, em cinco cordeiros e rarefação pilosa em região de tronco, peito e pescoço em quatro cordeiros, e inda se mostravam menos ativos que o normal. De acordo com o histórico e sintomatologia apresentada, foi estabelecida a suspeita bócio congênito. Administração de iodeto de sódio (Bociodo®) foi realizada nos cordeiros acometidos (2 ml; VO; aplicação única) e em todas as matrizes (5 ml; VO; 2 aplicações). Após dois dias da administração de iodo, os cordeiros não apresentavam alteração na tireóide visível e se mostravam mais ativos. As parições seguintes não evidenciaram neonatos com aumento de volume ou qualquer outra alteração. Alguns fatores predisponentes à ocorrência de bócio foram observados na propriedade como: adição de soja na alimentação e presença de capim estrela africano no piquete, pois essas condições podem interferir na absorção de iodo pelo sistema gastrointestinal. Pode-se confirmar a suspeita diagnóstica de bócio congênito apresentada pelos cordeiros, já que após a administração do iodo ocorreu resolução dos sinais clínicos e novos casos da enfermidade não ocorreram. A ocorrência de deficiência de iodo é incomum no estado do Paraná, especialmente em rebanhos que recebem suplementação mineral adequada, porém deve constar no diagnóstico diferencial de enfermidades que causam fraqueza e letargia em recém nascidos.
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