Desde a época do Brasil colônia a relação com indígenas foi exclusivamente de forma escravista e com intuito de torná-los base de mão-de-obra para a economia. Ao passar dos anos, a luta destes povos pela recuperação dos territórios e reconhecimento étnico vem se fortalecendo, apesar da exclusão, preconceito, espoliação de suas riquezas e desterritorialização. Dados do Instituto Socioambiental, mostram que em 2014, as terras indígenas somavam mais de 117 milhões de hectares, equivalendo a 13.8% das terras Brasileiras. Estes números mostram, que a depender dos cuidados ambientais e do desenvolvimento tecnológico dessas comunidades, sistemas sustentáveis de produção de alimentos podem ser relevantes para o crescimento nacional. Desta forma, ciências que tem a capacidade adaptativa e potencial para achar soluções diante dos desafios atuais, tornam-se ferramentas essenciais no crescimento de áreas rurais. A buiatria reúne doutrinas que são facilmente aplicáveis a diferentes situações, contemplando fundamentos de produção e sanidade animal. Diante disso, foi delineado um programa de estratégias extensionistas, para desenvolvimento regional dos territórios indígenas no Nordeste. As ações foram concentradas inicialmente com o povo Kalankó localizado no município de Água Branca-AL e Mata Grande-AL, além das proximidades dos municípios de Inhapi-AL e Tacaratu-PE. Em conjunto com o Núcleo Acadêmico Afro e Indígena (NAFRI/CESMAC), docentes e discentes do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário CESMAC desenvolvem estratégias de melhoramento na sanidade e manejo da caprinocultura já existente na comunidade, promovendo ações como: escrituração zootécnica, controle de infestações por endoparasitas, aplicação de um manejo nutricional a partir de forrageiras potenciais na região, estratégias sanitárias para prevenção de doenças, qualidade de leite e controle de mastite e aplicação de biotecnologias reprodutivas para melhoramento genético do rebanho. Com isso, foi possível desenvolver as potencialidades produtivas dos animais, constituindo uma importante fonte de renda para os produtores indígenas. Foram selecionadas 20 cabras SRD de rebanhos indígenas da região, sendo estas preparadas e submetidas a um protocolo de IATF e inseminação artificial laparoscópica com sêmen de reprodutor Alpino-britânico. Além das atividades relacionadas à produção e reprodução de ruminantes, foi também colocado em prática um programa de ações com intuito de melhorar a condição regional em termos ambientais e sociais. Essas ações envolveram a aplicação de técnicas de produção de hortaliças a partir do reaproveitamento de resíduos hídricos de uso domiciliar e aproveitamento de lixo orgânico através de técnicas de compostagem. Além disso, foi promovida a socialização do conhecimento indígena no uso de ervas medicinais para o tratamento de doenças que afetam a produção animal. Portanto, pode-se associar os preceitos básicos da buiatria, através da sua capacidade de promover a interdisciplinaridade com a aplicação de técnicas básicas e avançadas de manejo animal. O fomento ao desenvolvimento rural nas comunidades indígenas do Nordeste, sustententa a possibilidade de tornar estas localidades referências na produção animal, superando assim as dificuldades de disponibilidade de matéria prima local e valorizando os recursos regionais.
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IV CONEB
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