Há mais de uma década o atendimento clínico de bovinos no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) diminuiu drasticamente. O crescimento urbano no entorno afastou os pequenos produtores para outras localidades ou causou o encerramento da atividade rural. Essa situação originou um problema pedagógico no Curso de Medicina Veterinária, especificamente na Clínica Médica de Bovinos, pois, a casuística fazia parte das aulas práticas. Houve necessidade de repensar os atendimentos, para que o corpo discente encontrasse motivação no eixo vocacional de exercer a Medicina Veterinária com animais ruminantes. Em outro viés, a quantidade de animais de companhia aumentou geometricamente no HV-UEL e, naturalmente, pela oferta e disponibilidade, o número de alunos nas atividades com cães e gatos são sempre elevados. Diante desse diagnóstico, foi preciso repensar os atendimentos para que o corpo discente encontrasse eco no eixo vocacional com bovinos e pequenos ruminantes. Foi a partir das atividades extensionistas, com estudo prospectivo, que se vislumbrou tal possibilidade. Encontrou-se nas pequenas propriedades rurais o cenário ideal para incrementar as aulas práticas das disciplinas de Semiologia e Clínica Médica de Ruminantes, reaquecendo o espírito vocacional discente. Com metodologia simples, planejamento com parcerias e procedimentos gratuitos e subsidiados, aumentou-se os atendimentos extramuros, permitindo aos professores e alunos mais casos clínicos. Assim nasceu o Projeto Ruralidade, com atividades nas aulas práticas das disciplinas de cunho rural. Nos primeiros cinco anos, os alunos tiveram contato direto com a realidade loco-regional e significativo número de bovinos, ovinos e caprinos enfermos para atuação de diagnóstico, prognóstico, terapêutica e observação de condutas profissionais. As propriedades rurais colaboradoras foram selecionadas pela UEL com apoio dos escritórios locais dos órgãos públicos de assistência técnica. Esta parceria viabilizou cadastro abrangente de produtores leiteiros, além de criadores de ovinos e caprinos. Atividades não emergenciais também serviram de aprendizado aos alunos, como mochações, desverminação, vacinação, diagnóstico de gestação, casqueamento, curativos, entre outras. Todo arsenal terapêutico utilizado foi doado por laboratórios fabricantes, através de amostras-grátis. O transporte de professores e alunos foi realizado por micro-ônibus da Universidade, já sendo possível ofertar a realidade prática de aperfeiçoamento e motivação a 369 alunos. Durante o período de exercício didático foram atendidos 682 bovinos, 39 ovinos e 52 caprinos, criados em 21 propriedades rurais diferentes, localizadas num raio de até 60 km da UEL Os alunos atuaram em casos de papilomatose, retenção de secundinas, mastite, indigestões, retículopericardite traumática, pododermatites, enfermidades metabólicas, traumas, primeiros socorros, entre outros. Os resultados dos últimos cinco anos demonstraram pequena retomada no interesse do corpo discente em atuar na pratica da Buiatria, com melhor preparo e segurança. Houve ganho acadêmico através de mais oportunidades de vivências práticas; maior elo entre a aquisição dos conhecimentos teóricos adquiridos no transcorrer do curso com a prática profissional na área de Clínica Médica de Ruminantes; fornecimento aos discentes de observação de condutas profissionais, permitindo maior integração para trabalhos em equipe, com tutoria, sinergismo e compartilhamento.
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