Abscessos vertebrais embora apresentem baixa casuística na clínica de ruminantes, são comuns em animais jovens, e geralmente estão associados à presença de infecções umbilicais com migração bacteriana ascendente e consequente formação de abscessos. Uma fêmea bovina com um mês de idade foi encaminhada ao HUMV da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia com queixa de decúbito permanente. Segundo o histórico, a bezerra apresentou súbita dificuldade de locomoção, que em 24 horas, evoluiu para decúbito esternal com paresia dos membros posteriores. O proprietário também relatou que a cura do umbigo não foi realizada. No exame físico, o animal apresentava-se ativo, em postura de “cão sentado”, com tentativas improdutivas de se manter em estação. Constatou-se ainda, mucosa ocular hiperêmica, vasos episclerais injetados, normotermia, eupneia, normocardia e ônfalo sem alteração à palpação. O exame neurológico evidenciou diminuição da sensibilidade no segmento lombo-sacro, paresia dos membros posteriores, perda de tônus muscular e resposta a estímulos dolorosos. O hemograma revelou leucocitose por neutrofília o que indicou a presença de um processo inflamatório ativo ou infeccioso de possível origem bacteriana. Assim, com base nos achados clínicos e laboratoriais, a principal suspeita clínica foi de abscesso na coluna vertebral. A terapêutica instituída foi à base de antimicrobianos e anti-inflamatório esteroidais. Inicialmente foi utilizado o ceftiofur (2,2mg/kg; SID; 3 dias) por via intramuscular (IM), associado a dexametasona (20mg/kg/SID; 2 dias) por via intravenosa (IV), dose única de triancinolona (0,1mg/kg/) por via epidural e vitamina B1 (5mg/kg; SID; 3 dias) por via subcutânea (SC). O animal foi mantido suspenso durante todo o tratamento, no intuito de estimular o apoio dos membros posteriores, no entanto, não conseguia apoiar-se no solo. Apesar de observar aumento da sensibilidade nos membros e na região lombo-sacral após a terapia, o quadro de paresia e leucocitose (18.050/µL) persistiu, indicando que o tratamento não estava sendo efetivo. Logo, optou-se por utilizar o florfenicol (20mg/kg; SID; SC; 2 aplicações) a cada 48 horas. Após 7 dias da troca do antimicrobiano, o quadro de paresia e leucocitose (14.200/µL) ainda permaneceram. Desse modo, pela deterioração do quadro clínico do animal, o mesmo foi submetido à eutanásia e posterior necropsia. Na patologia foi constatado fratura do processo transverso da vértebra lombar em fase de consolidação, e abscesso de 4 cm de diâmetro na porção lateral do processo espinhoso da 13º vértebra torácica (T13), comprimindo a medula espinhal. A histopatologia revelou a medula espinhal com degeneração waleriana da substância branca e presença de macrófagos, indicando desmielinização. A ausência de resposta ao tratamento instituído fortaleceu a suspeita clínica de abscesso vertebral, que posteriormente foi confirmada pelos achados da necropsia. Assim, acredita-se que a fratura do processo transverso tenha induzido uma resposta inflamatória local com via de migração bacteriana ainda desconhecida.
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