A intussuscepção caracteriza-se por invaginação de um segmento intestinal para o lúmen do segmento adjacente. É uma das mais importantes causas de obstrução intestinal em bovinos, ocorrendo esporadicamente nesta espécie em animais de todas as idades, no entanto com maior frequência em bezerros. A causa desta enfermidade é geralmente desconhecida, mas qualquer distúrbio focal da motilidade intestinal pode propiciar sua ocorrência. Enterite, parasitismo intestinal, alterações bruscas na dieta, lesões murais (neoplasia, granuloma, abscesso) ou intraluminais (fitobezoários, pilobezoários ou outros corpos estranhos) e drogas que afetam a motilidade intestinal têm sido apontados como fatores predisponentes. O diagnóstico de intussuscepção intestinal é um desafio para o buiatra. O histórico, achados clínicos, laboratoriais e exames de imagem devem ser considerados. Por ser um método diagnóstico não invasivo, eficaz e de baixo custo, quando comparado à laparotomia exploratória, a ultrassonografia deve ser potencializada na medicina interna de ruminantes. Entretanto, ainda são escassos os relatos de diagnóstico de obstruções intestinais por este método em bovinos. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é relatar um caso de intussuscepção em bezerro diagnosticado por ultrassonografia. Um bovino, macho, Holandês, de quatro meses, apresentando apatia, anorexia e disquesia há três dias, foi atendido na Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns – UFRPE. Ao exame clínico, evidenciou-se ainda febre, desidratação moderada, taquicardia, taquipneia com polipneia, abdômen abaulado bilateralmente, com som de líquido ao balotamento da região ventro-abdominal direita, hipomotilidade ruminal e intestinal e fezes escuras e untuosas (melena) em moderada quantidade. Nos exames laboratoriais, o hemograma revelou hipoproteinemia, hiperfibrinogenemia, leucocitose por neutrofilia e presença de neutrófilos degenerados. Na análise do fluido ruminal verificou-se comprometimento da microbiota e elevação do teor de cloretos (52,34 mmol/L). O animal foi medicado com omeprazol (4 mg/Kg), metoclopramida (0,3 mg/Kg) e realizou-se transfaunação ruminal durante quatro dias, suspeitando-se de úlcera abomasal, no entanto não houve evolução no quadro clínico e por isso foi solicitado exame ultrassonográfico do aparelho digestório. Na ultrassonografia transabdominal na região ventral direita, constatou-se alças do intestino delgado com diâmetro de ? 3 cm, repletas por conteúdo hipoecogênico, com hipermotilidade e imagem anecóica entre as alças sugerindo aumento do líquido peritoneal. Ventralmente ao 9º espaço intercostal direito, evidenciou-se secção transversal de alça intestinal medindo 7,7 cm x 5,2 cm, com aparência de múltiplos anéis concêntricos (“anéis de cebola” ou “padrão de alvo”), delimitado por um anel externo hiperecogênico (parede do intussuscepiente) ao redor de uma área hipoecogênica e um anel interno altamente reflexivo (parede do intussuscepto) com centro anecóico (lúmen intestinal). As imagens sugeriram obstrução intestinal por intussuscepção. Em virtude da gravidade do quadro clínico e dos achados ultrassonográficos, o animal foi eutanasiado. À macroscopia do exame anatomopatológico constatou-se uma peritonite fibrinosa focal em seguimentos do íleo onde havia uma intussuscepção. Oralmente à obstrução o trato digestório encontrava-se distendido por conteúdo alimentar e aboral à esta vazio. Ao corte do íleo, oral à obstrução, havia pequenas úlceras na mucosa. Conclui-se que a ultrassonografia é uma ferramenta decisiva no diagnóstico de obstrução intestinal por intussuscepção em bovinos.
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