A alimentação rica em carboidratos é o principal fator envolvido nas enfermidades digestivas que envolvem o ceco. A fermentação excessiva, culmina com queda do pH, hipotonia ou atonia, acúmulo da ingesta e gás no órgão. Consequentemente, há dilatação, deslocamento e/ou retroflexão e, raramente, torção. Diante disso, objetivou-se relatar um caso de dilatação com torção de ceco em um bovino atendido na Clínica de Bovinos de Garanhuns (CBG), Universidade Federal Rural de Pernambuco. O proprietário relatou mudança na alimentação, com introdução de cana-de-açúcar, além da alimentação habitual, que consistia de pasto nativo, farelo de soja e milho (7kg/dia), casca de mandioca (5kg/dia). Logo em seguida, o animal começou apresentar sinais de dor. No dia seguinte apresentou diminuição da produção de leite, timpanismo bilateral, apatia, anorexia e ausência de fezes. Foi medicada sem sucesso na propriedade e após três dias do inicio dos sinais foi encaminhada à CBG. O exame clínico do animal constatou-se um quadro de apatia, febre, mucosas congestas, desidratação acentuada, com extremidades frias, apetite caprichoso, abdômen abaulado bilateralmente, com ressonância metálica da região dorsal da fossa paralombar direita até o 10° espaço intercostal, com chapinhar em líquido, tensão abdominal aumentada. Fígado deslocado cranialmente com sensibilidade à percussão. Trato gastrintestinal hipomotílico. Fezes ressecadas, com muco e estrias de sangue. À palpação retal foi evidenciada dilatação do ceco acentuada com retroflexão à esquerda. O hemograma revelou plasma ictérico, hiperfibrinogenemia, leucocitose por neutrofilia com desvio para esquerda regenerativo. Na análise do fluido ruminal verificou-se comprometimento da microbiota, pH 6-7, elevação do teor de cloretos (34,04 mEq/L). O animal manteve o quadro clínico no dia seguinte. Foi realizado análise de líquido peritoneal, caracterizando um exsudato. O animal foi submetido à videolaparoscopia seguida de laparotomia exploratória à direita onde evidenciou grande quantidade de líquido abdominal, aderências difusas e fibrina, caracterizando uma peritonite. Além disso, o órgão estava distendido, apresentando retroflexão com serosa cianótica e áreas de congestão. Em função da gravidade do quadro clínico e dos achados laboratoriais o animal foi submetido à eutanásia. O exame anatomopatológico revelou peritonite serofibrinosa difusa, ceco com intensa dilatação, equimose e sufusões na serosa. Na junção ileocecocólica havia torção, com presença de halo cianótico. Na mucosa havia úlceras e hemorragias. Também foram observadas hemorragias petequiais e sufusões subepicárdicas, na região coronária. A dilatação de ceco com torção é uma enfermidade de baixa ocorrência e geralmente com prognóstico desfavorável, em decorrência da evolução clínica aguda e comprometimento circulatório. Os exames realizados demonstraram a gravidade da condição clínica inviabilizando o tratamento. Ratificando a importância de manejo nutricional adequado para prevenção deste distúrbio digestivo.
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