A Extensão Rural foi implantada na América Latina tendo como base o modelo difusionista de comunicação, onde as demandas eram construídas e executadas apenas pelos técnicos e suas instituições. Posteriormente, Paulo Freire vem criticar esse modelo, propondo a Comunicação Rural, na qual o conhecimento é construído em conjunto, do agricultor para o técnico e vice-versa. Esse modelo dialógico é que norteia a extensão rural de base agroecológica, valorizando os saberes dos agricultores, proporcionando uma maior participação e adequando-se aos contextos das comunidades tradicionais e agricultura camponesa. Objetivou-se com esse trabalho realizar uma análise descritiva e reflexiva sobre a realização de um curso que subsidiou a implantação de uma criação de caprinos em sistema de fundo rotativo na comunidade indígena Atikun Nova Vida, na cidade de Rodelas, Bahia. O curso foi demandado por meio de um diagnóstico realizado nas comunidades indígenas na Bahia, pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), tendo como destaques as demandas: criação de caprinos e ovinos, capacitações sobre o tema e o subsídio a aquisição de animais. Em seguida, a FUNAI pleiteou projetos para atender as solicitações, sendo a etnia Atikun Nova Vida, a primeira a receber a intervenção. A partir daí foram articuladas reuniões com a comunidade para a realização de um curso sobre criação de caprinos e para a organização da licitação, para compra dos animais. Como os recursos eram limitados, os caprinos seriam adquiridos para serem criados no sistema de fundo rotativo, no qual algumas famílias receberiam os primeiros animais, sendo suas crias repassadas para as outras famílias. O curso sobre criação de caprinos foi realizado com atividades teóricas e práticas por três dias. A parte teórica foi desenvolvida com uma apresentação expositiva dialogada, sendo realizada na oca sede da associação da aldeia, trabalhando-se temas voltados ao planejamento, escoamento da produção, aquisição de animais, e manejos, alimentar, sanitário e reprodutivo. O momento prático aconteceu com atividades nas próprias criações da etnia, com base na metodologia Camponês a Camponês, tendo o auxílio de criadores mais experientes, que vieram a apresentar seus conhecimentos de forma mais simples e direta aos outros indígenas. Todo o momento prático foi acompanhado pelos técnicos, com atenção para facilitar o desenvolvimento da atividade, tirar dúvidas, complementar informações e também aprender com os saberes dos indígenas. Na última parte do curso foi realizada uma dinâmica, com trabalho em grupos, para revisar e tirar dúvidas do processo. Em seguida foram selecionados os indígenas que receberiam os primeiros caprinos do projeto, tendo como base melhor organização e estrutura prévia. O curso foi finalizado com uma avaliação coletiva, sendo relatada a alegria pela implantação do projeto, contextualização das atividades e participação dos criadores, como ponto negativo fica a descontinuidade das atividades de assistência técnica. Os caprinos adquiridos chegaram na aldeia dias depois do curso. O principal resultado alcançado com esta intervenção foi o modo comunicativo que norteou o processo, desde o diagnóstico, até a realização do curso, com potencialização da participação e organização da comunidade, valorização dos saberes endógenos e contextualização do agroecossistema, na qual a comunidade esta inserida.
Comissão Organizadora
IV CONEB
Comissão Científica