A doença renal crônica se instala quando danos tubulares e glomerulares irreversíveis ocorrem em mais de 75% dos néfrons, tendo como causas potenciais a hipoperfusão renal prolongada e exposição a agentes nefrotóxicos. Relata-se um caso de doença renal crônica em bovino, fêmea, 2 meses, 34 kg, mestiço de holandês. O animal deu entrada no Hospital Veterinário do CCA/UFPB, com histórico de apatia, desidratação, anorexia e anemia progressiva há um mês. O proprietário havia instituído tratamento à base de oxitetraciclina e diaceturado de diminazeno (IM), em dose única, considerado a possibilidade de tristeza parasitária, mas não houve melhora do quadro clínico. Ao exame físico observou-se apatia, escore corporal 2, presença de carrapatos, pelos opacos e eriçados, desidratação moderada (8%), mucosas pálidas, linfonodos pré-escapulares aumentados de volume, região perineal suja com secreção diarreica, secreção nasal catarral e epífora bilateral. Também foi visualizado arqueamento de dorso, escoiceamento esporádico de abdômen, polidipsia e poliúria. Foram solicitados como exames complementares hemograma, bioquímica sérica, urinálise e ultrassonografia abdominal. O hemograma revelou anemia arregenerativa e leucocitose por neutrofilia (18.000 x 109/L). Outros achados laboratoriais incluíram hipoalbuminemia (2,5 g/dL) e azotemia (ureia:180 mg/dL e cretinina: 5,0 mg/dL). A urina apresentou aspecto límpido, densidade diminuída (1.008), pH 5.0 e traços de proteína. No exame qualitativo da urina, foram observados leucócitos, 4 por campo, e células tubulares renais, 0 – 2 por campo. A ultrassonografia revelou rins hiperecóicos e perda da relação corticomedular, com região cortical espessada. Uma terapia antimicrobiana foi iniciada diante dos sinais clínicos apresentados e a leucocitose. Durante o período de tratamento observou-se que não houve remissão dos sinais clínicos, havendo inclusive agravamento do quadro diarreico e perda progressiva de peso. Novos exames laboratoriais comprovaram o agravamento do caso, sendo estabelecido o diagnóstico clínico de doença renal crônica. Devido ao prognóstico desfavorável a eutanásia foi instituída. Na necropsia observou-se que ambos os rins estavam pálidos, pequenos, fibrosados e com aderência de cápsula, achados característicos de lesão nefrotóxica crônica renal. Utilização de quimioterápicos (sulfas), antibióticos aminoglicosídeos, drogas anti-inflamatórias não esteroidas e plantas tóxicas estão entre as principais causas de doença renal crônica. Considerando que o animal não teve acesso a plantas tóxicas, deve-se suspeitar que a nefrotoxicidade foi decorrente da utilização de medicamentos. Apesar de não ter sido informado, na anamnese, o uso dessas substâncias, na propriedade é frequente a ocorrência de diarreias, broncopneumonias, onfalites e artrites nos bezerros, assim como o uso indiscriminado de medicamentos. A doença renal crônica não é comumente considerada no diagnóstico diferencial de enfermidades que acometem bezerros, no entanto devido a utilização indiscriminada de drogas nos rebanhos deve ser incluída como possível diagnóstico.
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