A tuberculose bovina representa sério risco à saúde pública, principalmente devido ao consumo de leite e produtos lácteos não pasteurizados advindos de rebanhos sem programa de controle, representando a principal via de infecção causada pelo Mycobacterium bovis para a espécie humana. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de tuberculose acometendo a glândula mamária em uma vaca leiteira de seis anos de idade que deu entrada na unidade hospitalar (Clínica de Bovinos de Garanhuns /UFRPE) com histórico de mastite. No exame clínico, o úbere apresentava-se edemaciado, consistência endurecida, firme, sendo mais evidentes as alterações no quarto posterior direito, com hiperemia e hipertermia local, secreção láctea caracterizada F (soro com grumos), e nos demais tetos, a secreção láctea apresentava-se normal, sem alteração. O exame clínico revelou também alteração respiratória caracterizada por respiração polipneica, tipo abdominal, episódios de tosse seca e à ausculta pulmonar revelou sibilos inspiratórios no antímero esquerdo com roce pleural nos lobos caudais. Em decorrência do agravamento clínico, o óbito resultou de forma natural e o animal foi encaminhado para a necropsia, que revelou a glândula mamária de consistência endurecida e aumento dos linfonodos retromamários. O parênquima mamário apresentava lesões granulomatosas, com distribuição multifocal, de tamanhos variados, com áreas de calcificação e abcessos que drenavam conteúdo de aspecto denso. Os pulmões apresentavam reações inflamatórias, com áreas de calcificação que ao corte drenavam conteúdo de aspecto caseoso e denso. Havia hipertrofia dos linfonodos mediastínicos com áreas de calcificação. Fragmentos de tecidos acometidos foram colhidos em formol a 10% para análise histopatológica, que revelou áreas de necrose de caseificação e calcificação, reação inflamatória linfo-histiocitária e presença de células de Langhans. Para o cultivo bacteriológico o material colhido foi armazenado em ultrafreezer (-80°C). As amostras teciduais foram maceradas e descontaminadas pelo método de Petroff e posteriormente inoculadas nos meios de cultura Stonebrink e Lowenstein-Jensen. As culturas foram incubadas a 37°C e o crescimento bacteriano verificado por até 90 dias. Com base nas características fenotípicas observadas no crescimento bacteriano, as colônias foram identificadas como pertencentes ao gênero Mycobacterium spp. Realizou-se PCR convencional confirmando a identificação do M. bovis. O isolamento do M. bovis da glândula mamária ratifica o potencial risco desta enfermidade para a Saúde Pública, particularmente em algumas cidades do interior, onde ainda é frequente o hábito do consumo do leite e seus subprodutos não pasteurizados.
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