A meningoencefalocele é uma anomalia congênita rara do SNC que se caracteriza pela protrusão de estruturas intracranianas por um defeito existente no crânio, denominado craniosquise. Relata-se um caso de craniosquise associado a meningoencefalocele em um bezerro, atendido no Centro de Desenvolvimento da Pecuária (CDP-UFBA). Em outubro de 2017 um bezerro macho, SRD, com 8 dias de vida, pesando 25 kg, oriundo do município de Olindina, Bahia, Brasil, foi atendido no CDP. Segundo histórico, o animal nasceu com aumento de volume na região dorsal do crânio e, na propriedade, tentou-se drenar o conteúdo com uma agulha obtendo-se um líquido avermelhado. No exame físico observou-se aumento de volume na porção dorsal da cabeça (32 x 14 x 14 cm), recoberto por pele hirsuta, com áreas de rarefação pilosa, alopecia, erosões e ulcerações cutâneas. A massa apresentava aspecto flutuante e uma área suturada com linha de costura (algodão). O animal apresentava-se apático, letárgico, mucosas congestas, decúbito lateral, condição física ruim, caquético, hipotérmico, sem reflexo de sucção e com sialorréia, secreção nasal bilateral e dispneia mista. No exame do sistema nervoso notou-se déficit nos órgãos do sentido, sensibilidade cutânea mantida, porém com resposta lenta. Os exames complementares revelaram hiperfibrinogemia e leucocitose por neutrofilia. O exame ultrassonográfico permitiu visualizar líquido anecogênico com cerca de 330 ml de volume, com múltiplos pontos ecogênicos em suspensão (celularidade) e diversas estruturas lineares hiperecogênicas de septação em permeio (indicativo de fibrina), além de protrusão de tecido encefálico dorsalmente à altura da superfície óssea em cerca de 1,9 cm de altura. A porção encefálica intracraniana visualizada apresentava-se com diversos pontos hiperecogênicos brilhantes entremeados ao tecido, compatíveis com diminutas bolhas de ar, que indicava encefalite e alargamento da fontanela do osso frontal, por onde se herniava pequena extensão da margem dorsal do encéfalo, medindo 4,0 x 4,6 cm. Devido ao estado vegetativo, recomendou-se a eutanásia do paciente. O exame necroscópico revelou marcado aumento de volume sacular na região frontal da cabeça, de aspecto flutuante e uma área suturada. Após a dissecação da pele verificou-se protrusão da meninge de formato hernial, preenchida por grande quantidade de líquor de aspecto serosanguinolento e fibrinoso com odor fétido. A dura-máter se exteriorizava por uma fenda óssea na linha média do osso frontal. Parte do encéfalo encontrava-se exteriorizado pela fissura óssea, as leptomeninges encontravam-se com marcada hiperemia difusa. Na porção caudal do cerebelo, sobre o tronco encefálico, havia grande lesão focal amarelada com conteúdo purulento (abscesso). Na macroscopia dos hemisférios telencefálicos verificaram-se lesões abscedativas multifocais a coalescentes branco-amarelados, bilaterais assimétricos e aleatórios na substância cinzenta e branca. Nos achados histopatológicos, encontrou-se extensas áreas multifocais a coalescentes de necrose de liquefação na substância cinzenta e branca, circundadas por intenso infiltrado inflamatório composto, predominantemente, por neutrófilos e piócitos, associados a dezenas de colônias bacterianas intralesionais e focos hemorrágicos. Havia marcada compressão do neurópilo e do parêquima cerebral adjacentes. As lesões abscedativas multifocais de natureza infecciosa (bacteriana) que resultaram em encefalite grave agravaram o quadro clínico e o prognóstico. Ao que tudo indica, tais complicações foram decorrentes da drenagem e sutura da lesão sacular da cabeça realizada pelo proprietário. Os achados clínicos, ultrassonográficos e anatomopatológicos permitiram o diagnóstico de um quadro de craniosquise e meningoencefalocele.
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IV CONEB
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