Dermatophilus congolensis é uma bactéria oportunista que penetra na pele quando ocorre quebra da integridade da barreira epidérmica, causando dermatite hiperplásica ou exsudativa com erupções cutâneas crostosas e escamosas. Imunossupressão e desnutrição podem agravar a manifestação da enfermidade, que é mais comumente observada em regiões de clima tropical úmido. Um surto de dermatofilose, em novilhas da raça Holandesa criadas em Gravatá, Zona da Mata de Pernambuco, foi atendido pela equipe do Ambulatório de Grandes Animais da UFRPE, em rebanho de alto valor zootécnico com histórico de surgimento progressivo de lesões cutâneas, inicialmente em um animal, mas que já era observado em 43% (15/35) do rebanho. Todos animais acometidos eram novilhas de até dois anos, que saíram da propriedade para a participação em feira agropecuária e ao retornarem apresentaram as lesões. Na anamnese, foi relatado que no momento da tosquia das fêmeas para participação na feira agropecuária, notou-se na primeira novilha tosquiada poucas e discretas lesões circulares na pele. Em seguida, o mesmo pente e máquina de tosquia foram utilizados de forma continuada nas demais quatorze fêmeas, sem realização de desinfecção. As lesões se disseminaram pela superfície da pele desse animal e nas demais novilhas, sendo que no momento da visita a propriedade, alguns animais apresentavam regressão e redução das lesões, enquanto outros que manifestaram os sinais mais tardiamente, passavam pela fase aguda da infecção. Ao exame clínico geral as novilhas apresentavam-se dentro da normalidade, sem presença de ectoparasitas, mas com múltiplas lesões circulares papulares, alopécicas, hiperêmicas, úmidas de variados tamanhos acompanhadas de pelos emaranhados e/ou crostas, sem prurido e presentes em todas as regiões do corpo, principalmente na cabeça, pescoço e lateral e dorso do corpo. Exames complementares de cinco animais acometidos, em diferentes graus de lesão, apresentaram no hemograma: leucocitose (12.800/µL a 20.750/µL) por linfocitose (51 a 80%) e, em três novilhas também, monocitose (11 a 16%), fibrinogênio plasmático elevado (200mg/dl e 400mg/dl um animal e 800mg/dl em três) e parasitológico de fezes (OPG) negativo. Crostas das lesões foram extraídas, armazenadas em tubos estéreis, maceradas em solução salina estéril e submetidos ao isolamento em meio ágar sangue a 37ºC, onde ocorreu o crescimento de colônias de Dermatophilus sp. que na microscopia apresentou bacilos filamentosos septados com aspecto de trilho de trem. Recomendou-se tratamento sistêmico com penicilina (70.000UI/kg) e estreptomicina (70 mg/kg) dose única, associado ao tópico com antisséptico após retirada das crostas, no entanto devido facilidade de manejo das novilhas e observação pelo responsável do rebanho, que as lesões estavam regredindo, o mesmo optou em manter o tratamento tópico que vinha realizando a partir do surgimento das lesões. Diariamente as crostas eram retiradas e as pápulas limpas com NaCl 0,9% e clorexidina 2%. O período médio de regressão total das lesões foi de quinze dias, não sendo observada remissão. O tratamento tópico isoladamente não é recomendado, pois os medicamentos não penetram nas camadas mais profundas da pele. No caso do rebanho acompanhado, a precocidade e frequência da aplicação do tratamento tópico e o bom estado das novilhas, podem ter influenciado no controle, além de que a forma aguda da dermatofilose pode apresentar caráter auto limitante regredindo espontaneamente em duas a três semanas. Participação em feiras agropecuárias expõe os animais a dermatofitose, pois o transporte e mudança de ambiente/manejo causarão imunossupressão, que associada a aglomeração de animais e potenciais fômites presentes no preparo dos animais para a exposição (baias coletivas, pentes, escovas, máquina de tosquia, cabrestos, identificações) poderão levar a disseminação do D. congolensis de forma rápida, sendo essencial a desinfecção dos utensílios como prevenção.
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IV CONEB
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