Introdução: A diabetes mellitus (DM) atingirá mais 1,3 bilhões de pessoas até 2050. É uma doença que exige contínuo controle da glicemia e de suas complicações, dentre as quais destacam-se as cardiovasculares. A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) tem sido utilizada no tratamento adjuvante de feridas diabéticas e, recentemente, demonstrou-se capaz de influenciar a função cardíaca. Contudo, as repercussões da OHB na morfologia cardíaca e coronariana na DM ainda não foram descritas. Objetivo: Avaliar o efeito da OHB no remodelamento das artérias coronárias intramurais e do ventrículo esquerdo (VE) em um modelo de DM induzida por estreptozotocina (STZ). Método: Vinte e seis ratos Wistar machos, 60 dias de vida, pesando 230–270 g, foram divididos em três grupos: controle (CON, n = 8), diabético (STZ, n = 10), e diabético tratado com oxigênio hiperbárico (STZ+OHB, n = 8). O DM foi induzido por dose única de STZ (60 mg/kg, i.p.). Os animais do grupo STZ+OHB inalaram oxigênio puro em câmara pressurizada a 2,5 atmosferas absolutas, 60 min/dia, 5 dias/semana, durante 5 semanas. Glicemia e massa corporal foram registrados semanalmente. Ao final dos experimentos, os corações isolados foram pesados e processados para confecção de lâminas histológicas coradas com hematoxilina-eosina e picrosirius red. As lâminas foram codificadas por um assistente externo ao estudo para garantir cegamento desde a aquisição de imagens em scanner (Epson Scan v. 3.7.7.2) e microscopia de luz (Leica DM750/ICC50 HD/LAS EZ v. 3.3.1). As imagens foram analisadas com o software ImageJ v. 1.53c. Diferenças entre os grupos foram avaliadas com os testes ANOVA/Tukey e pela comparação entre coeficientes de inclinação de regressão linear no software GraphPad Prism v. 8.0.2, com nível de confiança de 95%. O estudo da morfologia cardíaca incluiu medidas como: área de secção transversal (AST) da parede e do lúmen do VE, espessura dos cardiomiócitos e área de colágeno miocárdico. A avaliação de alterações coronarianas envolveu: contagem de artérias coronárias intramurais do VE, densidade celular endotelial coronariana, AST e diâmetro das túnicas vasculares. A proposta de pesquisa foi inicialmente protocolada no Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo sido aprovada sob o número: 125.054/2018. Resultados: Os grupos STZ e STZ+OHB apresentaram hiperglicemia sustentada, e menor massa corporal e cardíaca comparados ao grupo CON (P < 0,05). Porém, somente o grupo STZ exibiu aumento da razão parede:lúmen(AST) do VE, hipertrofia dos cardiomiócitos e fibrose miocárdica (P < 0,05 vs. CON). As artérias coronárias intramurais do VE (~50–250 ?m em diâmetro) apresentaram fibrose, atrofia da túnica média e menor lúmen no grupo STZ (P < 0,05 vs. CON), enquanto o grupo STZ+OHB não apresentou alterções (P > 0,05 vs. CON). No grupo STZ+OHB houve aumento na densidade de artérias coronárias intramurais no VE e de células endoteliais nesses vasos (P < 0,05 vs. STZ). Conclusão: A HBO protegeu a estrutura do cardíaca e coronariana em ratos diabéticos induzidos por STZ. Isto foi demonstrado pela prevenção da fibrose, hipertrofia dos cardiomiócitos e do remodelamento concêntrico do VE, associada ao aumento da reserva coronariana (vascular e endotelial), bem como à prevenção da atrofia e fibrose da parede das artérias. Esses achados corroboram observações clínicas prévias que mostram melhora da função do VE em pacientes diabéticos tratados com OHB.
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