No processo da formação cidadã, a leitura tem um papel fundamental para a constituição do leitor. Na maioria das vezes, a tarefa de formar pequenos leitores recai sobre a escola e os professores que nela estão presentes, mas cabe ressaltar que outras instituições da sociedade como a família, por exemplo, também devem colaborar para essa formação dos seus pequenos leitores. Iniciar a criança, desde a mais tenra idade, no mundo da leitura e dos livros literários faz-se urgente numa sociedade que necessita de vozes mais ativas e críticas. Uma das formas das crianças expressarem suas opiniões se constitui por meio da promoção de práticas letradas literárias[1].
Para este estudo, nos deteremos ao livro literário de imagem e, mais especificamente, as narrativas por imagens. Segundo Faria (2008), os livros de imagens são histórias contadas e/ou narradas apenas com a presença da imagens. Dessa forma, com o objetivo geral de promover práticas letradas literárias e visuais é que apontaremos caminhos para uma leitura mediada significativa para a formação de crianças com faixa etária entre quatro e cinco anos de idade da Educação Infantil. Sabendo, que a formação do leitor dever ser iniciada desde cedo, mesmo antes da criança decifrar o código escrito. Assim, o contato com as narrativas por imagens possibilita o desenvolvimento desse leitor em potencial nas mais diversas áreas, tais como: cognitiva, afetiva, emocional, psicológica, dentre outras.
Referencial teórico
Como aporte teórico utilizaremos as discussões acerca da sociologia da infância a partir das contribuições de Corsaro (2011), das narrativas por imagens e a formação do leitor com Burlamaque et al (2011), Baptista et al. (2015) e Lima & Vasconcelos (2009). As crianças, segundo Corsaro (2011) são coconstrutoras da infância e da sociedade, sendo assim elas devem ser participantes ativas nas diversas atividades sociais, por isso, dentre outros aspectos, os estudos da Sociologia da infância ressaltam a criança como um sujeito social, assim como um adulto.
Sabemos que com a globalização e o advento da tecnologia as crianças estão imersas num mundo audiovisual, no qual estão inscritas diversas formas de comunicação e expressão. Assim, segundo, Burlamaque et al (2011), é indispensável “a convivência [das crianças] com as linguagens não verbais que auxiliem no enriquecimento de sua leitura de mundo. As imagens detêm o poder de encadear uma narrativa e de oferecer uma gama de significados a seus leitores. A recorrência com esse trabalho, de promoção de práticas letradas com as imagens, segundo Lima & Vasconcelos (2009) auxiliam no desenvolvimento das “competências para a observação, análise, comparação, classificação, levantamento de hipóteses, síntese e raciocínio” (p.245).
Para tal promoção de práticas letradas literárias, concordamos com o documento Literatura na educação infantil: acervos, espaços e mediações[2], que se faz necessária a presença de: um acervo de livros literários; espaços adequados; e, por fim, mediações de professores e bibliotecários, dentre outros agentes escolares. Quanto aos acervos, desde o ano de 1997 que o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), distribui obras literárias infantis e juvenis em escolas públicas brasileiras. Dentre essas obras estão vários gêneros literários, inclusive, as narrativas por imagens. Os espaços de leitura, em creches e pré-escolas, são distribuídos entre as bibliotecas, pátios e salas de aula. No tocante ao processo de mediação, este se constitui um desafio, pois ainda há uma lacuna advinda da formação inicial de professores, apesar de estar surgindo, de forma ainda tímida, políticas públicas de formação continuada na tentativa de sanar essa lacuna e promover programas de formação de leitura para os professores.
Acreditamos que o caminho inicial deve ser o de formar educadores para a mediação da leitura literária para, em seguida, formar os pequenos leitores. Em seguida apresentaremos outros caminhos necessários a esse processo.
Caminhos para a mediação da leitura literária de narrativas por imagens
Num primeiro momento, o professor/mediador antes de apresentar o livro de imagem deve escolher e preparar um espaço adequado para uma roda de leitura em que todas as crianças possam visualizar o livro. Em seguida, ao iniciar a leitura, o professor deve utilizar as estratégias de leitura como: antecipação; inferências; além da ativação de conhecimento prévio. Durante o processo de leitura, o professor/mediador deve promover: a) autonomia para as crianças se expressarem; b) interação para que possam dialogar com a narrativa e com os colegas; e c) a concessão de “vez e voz” às crianças para se posicionarem e estabelecerem relações com fatos do seu cotidiano. O professor pode também, em outro momento, promover uma contação de história, utilizando-se de outros materiais como fantoches, teatrinho com personagens, dentre outros.
Além das estratégias de leitura, o mediador do livro de imagem tem uma tarefa indispensável na promoção de práticas letradas literárias visuais que é a de atentar para os recursos de hipersignificação da imagem, tais como: aspectos de movimento, cores, expressões faciais, dentre outros. Assim como, conhecer algumas técnicas da ilustração, pois só assim ele poderá contribuir para a compreensão da criança durante a leitura da narrativa. O professor/mediador deve exercer o papel daquele que ler para e com a criança. Dessa forma, para que o professor/mediador de leitura literária do livro de imagem consiga promover leituras significativas e de qualidade é necessário que tenha acesso ao livro, ao espaço adequado e uma formação teórico-prática acerca desse processo de leitura com o visual.
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