Introdução: Acometendo cerca de 5,9% de crianças e adolescentes pelo mundo, sendo mais prevalente em meninos, o TDAH é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento, normalmente diagnosticado na infância, caracterizado pelo surgimento de sintomas comportamentais como a impulsividade, desatenção, distração, excesso de atividade motora, inquietação, ansiedade e dificuldade em manter o foco. Embora se saiba que a predisposição genética tenha grande influência sobre o surgimento do transtorno, fatores ambientais podem gerar gatilhos e colaborar para o desenvolvimento do TDAH. Entre os fatores ambientais a nutrição se destaca, já que deficiências nutricionais podem afetar o funcionamento cerebral, pela modificação de substâncias neuroquímicas (como os neurotransmissores), comprometendo a eficácia cognitiva das crianças. A má alimentação, com o consumo de industrializados, repletos de aditivos alimentares, ricos em açúcar e gordura saturada também trazem impacto para a patologia, piorando os sintomas do TDAH. O leite materno é o principal e mais importante alimento destinado ao consumo de recém-nascidos e crianças, até os 2 anos de idade, onde sua complexa constituição é capaz de suprir toda demanda do organismo na fase inicial da vida. Os primeiros anos de vida são um momento crucial, onde a alimentação e as alterações nutricionais e hormonais são capazes de influenciar o desenvolvimento de patologias a médio e longo prazo. Levando em consideração a etiologia do TDAH, que tem a nutrição como fator ambiental de influência, a importância do aleitamento materno nos primeiros anos de vida e de como esse período está diretamente envolvido com o desenvolvimento de patologias futuras, buscou-se verificar a relação existente entre o transtorno e a amamentação, distinguindo até que ponto um impacta no outro: se o aleitamento materno apresenta algum papel protetor contra o distúrbio e se o TDAH prejudica o processo de amamentação Objetivos: Verificar, através de uma revisão de literatura, como o aleitamento materno e o TDAH se relacionam. Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura, realizada através da análise de artigos publicados entre os anos de 2018 e 2023, no idioma inglês, pesquisados nas bases de dados PubMed. Os critérios de inclusão para seleção de artigo foram o ano de publicação (últimos 5 anos), artigos que atendessem a todos os descritores propostos e que contemplassem o tema da presente revisão. Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: Attention Deficit Disorder with Hyperactivity; Infant Nutrition; Breast Feeding. Como resultado, 57 artigos foram encontrados, dos quais 5 foram selecionados para estudo, obedecendo aos critérios de inclusão. Resultados: O leite materno é constituído por nutrientes importantes para a saúde e desenvolvimento do bebê, se tornando um alimento importante para a nutrição da primeira infância e que está diretamente relacionada com o surgimento de doenças ao longo da vida. Além de possuir em sua composição carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas, minerais e água, apresenta também anticorpos que passam da mãe para o filho. Esse combo é o que torna o leite materno o padrão ouro para alimentação das crianças, suprindo toda demanda que elas possuem. Vale ressaltar que o leite materno apresenta efeitos benéficos na saúde cerebral das crianças. Isso se deve pela presença, por exemplo, de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa que vão constituir as membranas das células neuronais, aminoácidos que são necessários para a formação de proteínas importantes no funcionamento cerebral, oligossacarídeos que vão atuar na modulação imunológica e prebióticos que irão fortalecer a microbiota intestinal e influenciar na comunicação do eixo intestino-cérebro. Estudo realizado em 2021 analisou a duração do tempo de amamentação e como isso repercutiu em crianças com idade entre 2 e 5 anos nos Estado Unidos. Foi possível concluir que crianças que tiveram período de amamentação com leite materno entre 6 a 12 meses apresentaram menor prevalência em diagnósticos de TDAH em comparação as que não amamentaram. Análise de dados realizado em 2021, com amostra parecida a anterior (crianças entre 3 a 5 anos dos EUA), constatou a redução de 8% dos riscos de desenvolver TDAH para cada mês adicional de oferta de leite materno. Estudo realizado em 2018, concluiu também que o aleitamento materno por pelo menos 1 mês já reduz significativamente os riscos de TDAH. Outros trabalhos demonstraram que os sintomas de déficit de atenção e hiperatividade, assim como a cognição geral das crianças, eram melhores naquelas que passaram pelo aleitamento materno. Em estudo de meta-análise realizado em 2019 foram analisados trabalhos que envolviam amostras de crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos, e observou-se que crianças acometidas pelo TDAH tiveram período de amamentação menor do que as que não possuíam o transtorno. Isso pode ser explicado pelo fato de sintomas característico do TDAH, como a desatenção e a hiperatividade, já se manifestarem bem cedo em algumas crianças, dificultando a amamentação pela falta de cooperação, promovendo o desmame precoce e fazendo com que o leite materno seja trocado por outros alimentos. Importante salientar que o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida é uma recomendação que visa respeitar as necessidades nutricionais e desenvolvimento fisiológico do organismo do bebê e que, quando feito corretamente, contribui para uma introdução alimentar mais adequada, favorecendo a alimentação saudável na infância. Conclusão/Considerações finais: Pôde-se perceber a importância do aleitamento materno como fator neuroprotetor para o desenvolvimento do TDAH e melhora dos sintomas. Outro fato que chama a atenção é o desmame precoce ocasionado pelo difícil manejo das crianças que apresentam sintomas prematuramente. Esse menor período de amamentação, além de ser ainda mais prejudicial para a sintomatologia do TDAH, pode ocasionar prejuízos ao estado nutricional de bebês e crianças, atrapalhando o processo de desenvolvimento físico e cognitivo, apresentando potencial risco para o surgimento de patologias durante toda a vida.
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