Introdução: A relação entre a comida e os fatores externos e sociais define o comportamento alimentar do indivíduo. Dentre vários comportamentos alimentares, existem aqueles que trazem prejuízos à saúde como a obesidade, anorexia, bulimia e, em destaque neste trabalho, a vigorexia. Objetivo: Revisar na literatura atual as causas e consequências nutricionais que a vigorexia desencadeia em praticantes de musculação. Método: Trata-se de uma revisão de literatura, a qual se baseia em artigos publicados nas plataformas Scientific Electronic Library Online (Scielo), National Center for Biotechnology Information (Pubmed) e Scientific Electronic Library Online (Lilacs), publicados nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola, sem recorte temporal. Excluiu-se artigos duplicados ou que fugissem ao eixo temático. Resultados: A Anorexia Nervosa Reversa, disformia muscular, complexo de Adônis, ou simplesmente Vigorexia é uma distorção da imagem corporal em que pessoas acometidas por esta patologia desenvolvem uma preocupação exacerbada diante de um padrão corporal (BRAGANÇA; SILVA, 2016), mediante preocupação por parte dos indivíduos praticantes de treinamento resistido de não serem suficientemente “fortes” e “musculosos” (MORAIS, 2019). Tal transtorno tem origem multifatorial e dentre as várias possíveis causas, destacam-se as mídias sociais e a propagação de um padrão ideal de beleza inalcançável, histórico de violência, baixa autoestima e falta de aceitação pessoal. Além disso, em seus estudos, Arriaga et al. (2017) apontam uma maior predisposição para desenvolvimento da Vigorexia em homens entre 18 e 25 anos. Devido à grande necessidade de alcançar uma aparência demasiadamente forte, o transtorno faz com que o indivíduo vigoréxico mude totalmente o padrão alimentar (BRAGANÇA; SILVA, 2016) no que se refere ao comportamento exagerado no consumo de proteínas, pobreza na ingestão de gorduras e carboidratos e uso indiscriminado de suplementos e multivitamínicos sem a devida orientação do nutricionista. Esse fenômeno é apontado em um estudo realizado em 2014 com 10 fisiculturistas, 7 homens e 3 mulheres, em preparação para competições, no qual apenas 20% apresentaram ingestão calórica adequada e todos ingeriam quantidades de proteínas acima do recomendado (PAULA et al., 2014). Outro risco alimentar potencialmente comum entre os pacientes é a restrição nutricional exagerada, pois ao considerar determinados alimentos calóricos ou inadequados para o seu seleto grupo alimentar, o vigoréxico acredita que, ao ingeri-los, haverá alto comprometimento da percepção de físico perfeito que ele deseja alcançar. Tal restrição, induz o paciente a utilizar suplementos alimentares, dentre eles complexos vitamínicos sem orientação profissional e muitas vezes influenciados por meios digitais, como alternativa de substituição a frutas, vegetais e fontes de proteína, o que pode acarretar em intoxicações (PAULA; VIEBIG, 2016). Além dos riscos supracitados, há maior propensão do uso de substâncias anabólicas sem orientação e prescrição médica pelo indivíduo. Ademais, os comportamentos inadequados ocasionados pela vigorexia, em longo prazo, trazem ao paciente riscos de patologias, tais como: tumores, alterações nos índices de colesterol e glicose, cardiopatias, derrame encefálico, atrofia testicular e mamária, comprometimento renal e hepático, distúrbios hormonais e no metabolismo ósseo, dentre outros. Neste contexto, é relevante destacar que a vigorexia não atinge apenas a saúde física e psicológica do paciente, mas também disfunções nas relações sociais deste, pelo fato de dedicarem muitas horas do dia à treinos de musculação, geralmente tornando a vida social e afetiva do indivíduo prejudicada (ASSUNÇÃO, 2002). Em vista disso, em relação à prática de atividades físicas, Bragança et al. (2016) em seus estudos, apontam o comportamento vigoréxico como um “fanatismo” ou “dogmatismo religioso”. Dessa forma, o excesso de treino associado aos radicalismos dietéticos supracitados, acentuam o estresse metabólico, assim como astenia e dores, dificultando ainda mais o alcance ao objetivo, pois o organismo não tem nutrientes ou energia suficiente para atender à demanda excessiva de treinos (BAUM, 2015). Ainda sobre esta relação, é importante destacar também duas fases que impactam diretamente no perfil nutricional do vigoréxico, que são a off-season, a qual a intenção é o ganho de massa muscular, e o pré-contest, que o intuito é a perda de gordura, com mínima perda de massa muscular. Na segunda fase, geralmente há um aumento significativo no consumo de proteínas, podendo alcançar 4g/kg/dia (PAULA et al., 2014), porém para indivíduos que praticam treinamento resistido (musculação), a necessidade de proteínas fica na faixa de 1,5 a 2,0g/kg/dia (HALUCH, 2018). Neste ínterim, é percebida a dificuldade latente do nutricionista em conduzir a prática clínica ao se deparar com paciente vigoréxico, pois a interpretação da conduta profissional pode não ser compreendida ou aceita tão facilmente, fazendo com que este tenha grandes chances de não seguir o protocolo alimentar elaborado, podendo comprometer, as progressões clínicas previstas. À vista disso, é imprescindível que o nutricionista conheça este padrão comportamental, saiba identificá-la através de suas características predominantes e sintomas, para que possa haver uma abordagem clínica cuidadosa, eficiente e mais assertiva possível. Outra dificuldade que pode comprometer a identificação da doença é não conseguir perceber visivelmente a patologia, pois a aparência atlética induz a um padrão estético contemporâneo de corpo saudável, desta forma, diferentemente de um paciente obeso ou anoréxico, se o profissional não se atentar aos sinais da doença, que vão além do que se vê, não haverá um diagnóstico correto na primeira avaliação. Sendo assim, é de extrema importância que os profissionais da saúde como nutricionistas, médicos, educadores físicos, psicólogos reconheçam essa patologia. Quanto ao nutricionista, uma anamnese rica e detalhada dos hábitos do paciente, pode auxiliar na intervenção desde o primeiro contato e, assim, perceber a necessidade de um trabalho multidisciplinar. Considerações Finais: Por fim, compreende-se que o transtorno de imagem de Vigorexia traduz-se em potenciais consequências físicas, psicológicas e sociais para quem dela é acometido. Dentre os danos, observam-se problemas no âmbito fisiológico, os quais foram identificados os de ordem hormonal, tumoral, cardiovascular, além dos comportamentos alimentares baseados em restrições de determinados grupos alimentares, cujos grupos são fontes de vitaminas e minerais. Ademais, nota-se um consumo desnecessário de multivitamínicos para compensar carências de tais micronutrientes, que por consequência, traz, por vezes, o risco de intoxicações. Em contrapartida, a superingestão de proteínas pode ocasionar maiores efeitos deletérios à saúde, como por exemplo, riscos de patologias nos sistemas renais e hepáticos, dentre outras.
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