VOCÊ SABE QUANTO GANHA E QUANTO GASTA? UMA EXPERIÊNCIA REMOTA NO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA
Introdução
Este trabalho tem por objetivo compartilhar uma experiência pedagógica realizada pelo Programa de Residência Pedagógica no subprojeto de matemática discutindo matemática financeira a partir da renda mensal familiar. Essa experiência foi construída por meio de um trabalho coletivo com discussões sobre o planejamento, execução e avaliação da intervenção pedagógica em parceria com os residentes, professor preceptor e professora coordenadora. O Programa de Residência Pedagógica é uma das ações que integram a política nacional de formação de professores e visa melhorar o nível de formação prática dos cursos de graduação e promover a integração dos alunos nas escolas de educação básica. Durante nosso planejamento focamos em trabalhar com algum tema próximo da realidade dos alunos e propomos a reflexão sobre a tarefa: Você sabe quanto ganha e quanto gasta? Confeccionamos um vídeo provocando reflexões sobre a temática num viés metodológico da Resolução de problemas e propomos que os alunos discutissem os gastos da sua própria família.
A atividade relatada neste texto foi realizada em dois momentos e utilizamos como recursos técnicos: vídeo, o Google Forms e o Google Classroom. Primeiro foi enviado por meio de um formulário, o vídeo explicando a proposta da tarefa, que apresentava a situação problema para o aluno, junto a um questionário a fim de conhecer um pouco mais da realidade dos alunos. Utilizando o formulário, o estudante teve a oportunidade de realizar a tarefa na sua casa de forma assíncrona, já que os dados necessários seriam coletados junto a sua própria família. Assim, foi solicitado aos estudantes que confeccionassem uma tabela de gastos mensais da família e, no segundo momento, analisamos os retornos e as tabelas enviadas.
1. Fundamentação teórica
Para essa proposta adotamos como aporte metodológico a Resolução de Problemas. Por sua vez, sendo utilizada como uma proposta investigativa para o ensino de matemática, construímos um ambiente de diálogo possibilitando discussões e reflexões da matemática financeira. Este artigo analisa aproximações e distanciamentos entre resolução de problemas e exploração-investigação matemática, apontando contribuições de ambas para a Matemática escolar. Tomando como objeto de discussão a literatura de educação matemática, tais aproximações ou distanciamentos são delineados à medida que são discutidos os diversos entendimentos para as duas abordagens. As contribuições para o ensino de Matemática dependem das possibilidades geradas na sala de aula, e tanto a resolução de problemas quanto a exploração, investigação matemática podem ser promissoras para a construção de conhecimentos, mas não para sua apropriação como algo pronto e acabado.
Ao desenvolver a atividade proposta, verificamos que os aspectos subjetivos são importantes para determinar o que é um problema para os estudantes. Por outro lado, o problema precisa ser apresentado de forma objetiva em relação à proposta discutida. Nesse sentido, questões de "desempenho" podem despertar o interesse dos alunos, desde que a situação seja planejada desta forma a considerar suas realidades.. Vianna (2002) diz que “ Embora para o professor tais problemas sejam o máximo, é preciso não esquecer jamais que o problema deve ser problema para os alunos!”. Nessa vertente, para o planejamento da intervenção ponderamos a necessidade de envolver os estudantes a partir do que eles trazem de suas vivências. Pensamos numa proposta para que os estudantes tivessem a vontade de resolvê-la considerando suas concepções relacionadas a matemática financeira.
2. Resultados alcançados
Diante da análise do formulário respondido pelos alunos, partimos então para a análise das 39 respostas obtidas em relação às quatro perguntas propostas:
1. “Em relação aos gastos levantados, quais são os que mais impactam durante o mês?”
2. “Como podemos enquadrar os gastos dentro da renda recebida?”
3. “Se essa família recebesse três salários mínimos, que tipo de gasto poderia ser cortado?”
4. “Como foi pra você realizar essa tarefa?”
De forma geral, os alunos responderam o questionário e destacamos algumas falas que valorizaram a discussão. “me baseei nos gastos de casa e percebi que os valores apresentados estão muito acima do esperado”, “percepção melhor sobre os gastos desnecessário, e também os necessários”, “agora vou passar a anotar meus gastos mensais”, “Que não sabemos como gastamos mensalmente e como podemos economizar e cortar gastos desnecessário”, “Foi uma bela reflexão sobre como minha família e eu temos usado nosso dinheiro, que pode trazer até mudanças no consumo”, “a construção de tabela de despesas deveriam ser mais usadas pelas pessoas para melhor controle financeiro”, “Foi muito bom pra eu analisar no que a minha renda familiar está sendo investida e com que estamos gastando”. Notamos que alguns alunos criaram uma planilha com seus gastos objetivando organizar suas despesas, de maneira a entender melhor onde estava gastando seu dinheiro. Propomos discussões individuais relacionando o conceito de variáveis a partir dos custos fixos e variáveis de cada família.. Ao longo da nossa discussão sentimos a necessidade de outro momento para conversar sobre as respostas escritas por eles em socialização com toda a turma. Não tivemos a oportunidade de realizar esse momento devido ao fechamento do calendário trimestral da turma, e como eram alunos da terceira série do Ensino Médio, não conseguimos retomar a discussão no ano seguinte.
Conclusões
Essa intervenção nos possibilitou refletir sobre o contexto escolar frente à pandemia do Covid-19. Encontramos desafios quanto à execução da tarefa e diálogo com os alunos. No entanto, pudemos refletir sobre os impactos gerados nas salas de aula e os vários elementos que compõem o contexto escolar, ajudando-nos na elaboração e desenvolvimento das primeiras atividades. Vale a pena salientar que essa foi a nossa primeira intervenção pedagógica, ainda num cenário que não conhecíamos e ainda estávamos desenvolvendo estratégias de intervenção. Mesmo diante dos desafios, ficamos motivados para ampliar nosso conhecimento sobre a prática docente, o que nos possibilitou uma reflexão e um amadurecimento no planejamento das atividades para as intervenções seguintes. Destacamos principalmente o nosso desenvolvimento profissional a partir das cooperações vivenciadas e das discussões coletivas. Trata-se de um processo de constantes aprendizagens em que continuamos a enfrentar os desafios de um atendimento educacional remoto.
Principais referências bibliográficas
LAMONATO, Maiza; PASSOS, Cármen Lúcia Brancaglion. Discutindo resolução de problemas e exploração-investigação matemática: reflexões para o ensino de matemática p.(51-74). Zetetiké: Revista de Educação Matemática, v. 19, n. 36, 2012.
ONUCHIC, Lourdes de la Rosa. A resolução de problemas na Educação Matemática: onde estamos? E para onde iremos? Espaço Pedagógico, Passo Fundo, v. 20, n. 1, p. 88-104, jan./jun. 2013.
SILVA, Fabricia; VIEIRA, Tayrini. Análise dos gastos mensais de uma família. Youtube 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xlXTKRmoshE&ab_channel=FabriciaDeJesusDaSilva>.
VIANNA, Carlos Roberto. Resolução de problemas. Curitiba: 2002. In: FUTURO CONGRESSO E EVENTOS (Org.). Temas em Educação I, o livro das Jornadas de 2002. Curitiba, p. 401-410.
Comissão Organizadora
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Andréia Weiss - UFES campus de Alegre
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Aparecida Ferreira Lopes - PMVV/PMV
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Elemilson Barbosa Caçandre - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
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João Lucas De Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
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Marcela Aguiar Barbosa - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
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Wanielle Silva Volpato - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Weverthon Lobo de Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim