GEOMETRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM ESTUDO SOBRE CONCEPÇÕES DOCENTES
Autor 1
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Coautor 2
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Introdução
Este texto é um recorte da pesquisa realizada para o trabalho de conclusão do curso de Pedagogia de uma universidade pública do nordeste brasileiro. O estudo concentra-se no campo da geometria, ainda pouco estudado no âmbito da educação infantil, especialmente, da formação docente. Além da escassez de estudos, experiências vivenciadas na disciplina "Estágio Supervisionado II” levou-nos a refletir sobre os conhecimentos matemáticos/geométricos de professores da Educação Infantil. Em decorrência, colocamo-nos como objetivo de pesquisa a análise das concepções de professoras de uma escola municipal a respeito do trabalho com a geometria na educação infantil.
Com uma abordagem qualitativa (LUDKE; ANDRÉ, 1986), o estudo ocorreu em três fases: revisão sistemática bibliográfica, estudo de caso e análise de dados. Neste texto, apresentamos resultados do estudo de caso com uma das quatro professoras participantes. Coletamos os dados por meio de: a) um questionário online, em virtude do necessário distanciamento social ocasionado pela pandemia da COVID-19; b) uma análise documental de planejamentos anuais e semanais concedidos pelas referidas docentes. Destacamos aqui aspectos referentes à importância da geometria na educação infantil, aos conhecimentos geométricos necessários às crianças e à formação docente.
1. Fundamentação teórica
Os estudos sobre formação docente e geometria na educação infantil serviram-nos como suporte teórico neste trabalho. Os pressupostos principais que nortearam nossas reflexões foram:
a) De modo geral, a formação docente no Brasil prioriza uma racionalidade técnica, apoiada “na ideia de acúmulo de conhecimentos ditos como teóricos para posterior aplicação ao domínio da prática” (MIZUKAMI, 2002, p. 13). Aprender a ser professor envolve também uma “racionalidade prática”, com uma formação concebida como processo contínuo em que se articulam conhecimentos desenvolvidos na formação inicial e no exercício profissional.
b) A história de vida e a experiência pessoal também constituem a formação docente e exercem influência nas concepções de professores que ensinam matemática. Em geral, as histórias de vida são carregadas de experiências negativas e a formação docente caracteriza-se por lacunas e fragilidades quanto ao conhecimento matemático (PAVANELLO; COSTA, 2019).
c) O campo da geometria ainda é pouco explorado por professores da educação infantil e dos anos iniciais. Para Pavanello e Costa (2019), há uma tendência geral de “fugir” desse campo pois há insegurança tanto quanto aos conceitos como aos modos de ensinar para as crianças. Lorenzato (2006) afirma a priorização da aritmética em detrimento da geometria. E, quando esta última é trabalhada, restringe-se praticamente ao reconhecimento de figuras geométricas.
d) Pesquisas internacionais e nacionais “reiteram que os conhecimentos geométricos/espaciais não são apenas importantes no campo da geometria em si, mas dão suporte à aquisição de conhecimentos numéricos e aritméticos, bem como de outras áreas do saber (...) contribuindo para a vida presente e futura das crianças” (COAUTOR 1¹, 2020, p. 88). Esses conhecimentos geométricos proporcionam à criança as habilidades de reconhecer a si mesmo e ao outro no espaço, decifrando o mundo a sua volta e, para isso, é importante que seus conhecimentos intuitivos sejam ampliados na escola, de modo planejado e sistemático (MENDES; DELGADO, 2008; LORENZATO, 2006; COAUTOR 1, 2020).
2. Resultados alcançados
Podemos apontar, com base nas respostas das professoras, algumas de suas concepções referentes à geometria na educação infantil. De modo geral, as docentes participantes afirmaram a importância do trabalho com geometria na educação infantil, enfatizando sua contribuição para a exploração e compreensão do espaço em que vivem, realçando a relação entre geometria e espaço. Quanto aos conhecimentos geométricos necessários para as crianças na educação infantil, a ênfase recaiu em conhecer as formas geométricas. Referente à formação inicial e continuada, há o reconhecimento de lacunas e ausências significativas sobre o trabalho com geometria com e para as crianças. Como evidência desses resultados, apresentamos as respostas de uma professora (Letícia) às principais questões.
Quadro 1 – Respostas da Professora Letícia ao questionário aplicado
Foco das questões Respostas da Professora Letícia
Importância do trabalho com geometria na educação infantil É importante para desenvolver a noção de espaço criando uma interação com o meio em que vive, desenvolvendo também o raciocínio lógico.
Conhecimentos geométricos necessários para as crianças na educação infantil Conhecimentos que levariam a criança a perceber as formas geométricas em vários contextos do dia- a- dia.
Formação inicial e continuada das professoras relacionadas à geometria Infelizmente a geometria não foi trabalhada com tanta ênfase.
Fonte: Elaborado pelas autoras
1 A identificação do Coautor 1 será disponibilizada na versão final do texto, após a avaliação às cegas.
É possível observar que a professora Letícia apresenta um entendimento sobre o que a Geometria engloba, indicando que é essencial para “desenvolver a noção de espaço criando uma interação com o meio em que vive”. Entretanto, quando a questão se volta para o que trabalhar com a criança, não encontramos referência às noções de espaço, mas sobressai a prática recorrente de enfatizar o reconhecimento de figuras geométricas, assim como discute Lorenzato (2006). Quanto à formação inicial e continuada, a professora informa que não houve tanta ênfase em geometria, o que está de acordo com os argumentos de Pavanello e Costa (2019) e reitera a tendência de “fugir” da geometria nas práticas educativas na educação infantil.
Conclusões
Durante o processo de pesquisa, notamos a importância deste estudo para reflexões sobre questões sociais e reais que vários educadores vivenciam dia a dia. Com os autores redescobrimos o quanto é importante para a vida das crianças o trabalho com a geometria desde a educação infantil. Com as professoras participantes, encontramos algumas de suas concepções sobre esse campo matemático e a consequente necessidade de refletir e investir sobre a formação inicial e continuada de professores que ensinam matemática, especialmente no que diz respeito à geometria. Esperamos que licenciandos em Pedagogia e professores atuantes despertem a curiosidade sobre a temática, e transformem suas perspectivas e ideias pedagógicas.
Principais referências bibliográficas
LORENZATO, S. Educação infantil e percepção matemática. Campinas, SP: Autores Associados, p. 23-28, 2006.
LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MENDES, M. F; DELGADO, C. C. Geometria: textos de apoio para educadores de infância. Lisboa: Ministério da Educação, 2008.
MIZUKAMI, M. da G. N. Formação de professores: Concepção e problemática atual. In: MIZUKAMI, M. da G. N. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação e formação. São Carlos: EdUFSCar, 2002. p. 11-45.
PAVANELLO, R. M.; COSTA, L. P. da. Formação de professores/educadores para o ensino e a aprendizagem das capacidades espaciais na educação infantil. Educação Matemática Pesquisa, São Paulo, v. 21, n. 5, p. 205-216, 2019.
(COAUTOR 1, 2020)
Comissão Organizadora
Sociedade Brasileira de Educação Matemática - ES
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Andréia Weiss - UFES campus de Alegre
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Aparecida Ferreira Lopes - PMVV/PMV
Elcio Pasolini Milli - SEDU – ES
Elda Alvarenga - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Elemilson Barbosa Caçandre - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Ellen Kênia Fraga Coelho - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Fulvia Ventura Leandro Amorim - Pólo UAB – Cachoeiro de Itapemirim
João Lucas De Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Jorge Henrique Gualandi - IFES – campus Cachoeiro de Itapemirim (Presidente da comissão)
Júlia Schaetzle Wrobel - UFES – campus Vitória
Marcela Aguiar Barbosa - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Maria Laucinéia Carari - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Organdi Mongin Rovetta - SEDU-ES
Ronei Sandro Vieira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Rubia Carla Pereira - Ifes campus Viana
Simoni Cristina Arcanjo - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Thiarla Xavier Dal-Cin Zanon - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Wanielle Silva Volpato - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Weverthon Lobo de Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim