Afetos, emoções, atitudes e crenças: um estudo acerca de sua influência na formação inicial de professores de matemática

  • Autor
  • Hedlayne da Silva Viza
  • Co-autores
  • Thiarla Xavier Dal-Cin Zanon
  • Resumo
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    AFETOS, EMOÇÕES, ATITUDES E CRENÇAS: UM ESTUDO ACERCA DE SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

     

    Hedlayne da Silva Viza

    Instituto Federal do Espírito Santo, campus Cachoeiro de Itapemirim

    hedyviza@gmail.com

     

    Thiarla Xavier Dal-Cin Zanon

    Instituto Federal do Espírito Santo, campus Cachoeiro de Itapemirim

    thiarlax@ifes.edu.br

     

    Introdução

    No decorrer dos anos, desde o ingresso no curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal do espírito Santo (Ifes) campus Cachoeiro de Itapemirim em 2017, temos acompanhado meus colegas e experienciado situações nas quais o afeto tem influenciado consideravelmente na aprendizagem de futuros professores de matemática. Este cenário motivou-nos a investigar como as questões emocionais podem influenciar no desempenho de licenciandos em matemática. Por isso, buscamos investigar os motivos que os levam a pensarem em: desistir de serem professores; abandonar o curso; e a persistirem no curso de formação inicial e se tornarem professores de matemática.

    Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso baseada nos escritos de Stake (2011) e Lakatos e Marconi (2003), cujos sujeitos são alunos matriculados do 3º ao 7º período do curso em questão. Para coleta e produção de dados, utilizamos questionários compostos por questões abertas. Como a pesquisa encontra-se em desenvolvimento, temos a pretensão de analisar os dados a partir de categorias construídas através dos estudos de Gómez Chacón (2003), autora que se constitui em nosso principal referencial teórico.

     

    1. Fundamentação teórica

    Experiências como o constante número de notas baixas, reprovações e com a sensação de fracassos produzem, em alguns alunos, o sentimento de que estão aquém do esperado pela instituição de ensino superior. Esse pensamento tem feito com que muitos estudantes pensem em abandoná-la. Nossa experiência tem mostrado que, para que um aluno se mantenha em um curso superior, no nosso caso, em um curso de Licenciatura em Matemática, não basta que ele obtenha boas notas. É preciso considerar suas emoções, crenças e sentimentos, pois além dos resultados, esses fatores influenciam tanto em sua permanência quanto no processo de ensino e de aprendizagem deles.

    Rocha (2016), destaca que fatores afetivos e emocionais na aprendizagem, em especial na aprendizagem de matemática, são concebidos como “[...] todos aqueles que, interligados, podem estruturar ou causar desequilíbrio na aprendizagem, pois não são estáticos e os resultados tendem a ser compreendidos sob uma nova perspectiva do fazer matemático” (ROCHA, 2016, p. 94). Tendo em vista que “[...] os afetos (emoções, atitudes e crenças) dos estudantes são fatores-chave na compreensão de seu comportamento em matemática” (GÓMEZ CHACÓN, 2003, p. 22), é preciso compreender o que são afetos, emoções, atitudes e crenças.

    Os afetos exercem grande influência sobre os estudantes. Para Gómez Chacón (2003) a dimensão afetiva é “uma extensa categoria de sentimentos e de humor [...] que geralmente são considerados como algo diferente da pura cognição” (p. 20). O processo de aprendizagem matemática pode proporcionar ao estudante experiências positivas ou negativas com a disciplina. Por isso, o professor deve, a partir de sua percepção de quem são os estudantes em termos emocionais, buscar ajudá-los a modificar suas experiências e pensamentos sobre matemática para que possam aprendê-la e utilizá-la. Além disso, os afetos são manifestados através das emoções, e “[...] dependendo do nível de intensidade da emoção, a mesma, poderá interferir ou de modo favorável ou desfavorável [...] [no] desenvolvimento do aluno” (MENDUNI, 2003, p. 129).

    Desse modo, é possível perceber que as emoções podem interferir no processo de ensino, de aprendizagem e de avaliação em matemática, tanto de forma negativa, quanto positiva. Por isso, para uma melhor compreensão dos efeitos causados pelas emoções, precisamos falar das atitudes, pois são através delas que expressamos emoções e modos de ação. Menduni (2003, p. 61) afirma que atitude “[...] é uma maneira de o organismo se manifestar de acordo com as experiências que a vida, ou situações específicas lhe proporcionaram”. Como visto até aqui, a dimensão afetiva envolve diferentes sentimento de humor que se diferem das questões cognitivas (GÓMEZ CHACÓN, 2003). Assim, em se tratando da matemática e de seu aprendizado, Gómez Chacón (2003), ressalta que existem duas categorias a respeito das atitudes: as (1) atitudes em relação à matemática; e as (2) atitudes matemáticas, as quais variam de acordo com os cenários e contextos dos estudantes.

    Além disso, há que se considerar o papel das crenças na manifestação das atitudes acima mencionadas. Ao entendê-la como sendo um conjunto de “[...] afirmações pessoais, que cada um carrega de acordo com sua experiência cultural e emocional, ou seja, são aprendizados informais, passados culturalmente” (SILVA, 2007, p. 25), as crenças “[...] atuam como forças impulsionadoras ou de resistência a aprendizagem” (ROCHA, 2016, p. 35). Por isso, Gómez Chacón (2003, p. 20) chama atenção para a existência de quatro categorias de crenças em relação a educação matemática (crenças sobre a matemática, crenças sobre a aprendizagem da matemática, crenças sobre si mesmo como aprendiz de matemática, crenças provocadas pelo contexto social e sobre o contexto social ao qual os alunos e professores pertencem) e sinaliza para a necessidade de considerá-las no processo de apropriação do conhecimento matemático pelo sujeito.

     

    2. Resultados alcançados

    Com esta pesquisa qualitativa ainda em desenvolvimento, assumimos um enfoque na percepção e na compreensão humana, com ênfase nas experiências pessoais dos sujeitos (STAKE, 2011). Assim, para alcançarmos nosso objetivo principal, o estudo foi organizado em três fases e, como dito antes, a coleta de dados será feita, principalmente, através de questionários com questões abertas. A primeira fase consiste na descoberta do motivo que levou cada licenciando a ingressar no curso, entender o que pensam sobre si mesmos, suas expectativas e como a Licenciatura em Matemática é vista por eles. Durante a segunda fase, buscaremos saber o que pensam e como se sentem a respeito das disciplinas estudadas no curso. Já na terceira e última fase, pretendemos saber a respeito daquilo que os afasta do curso, entender o que causa esse afastamento, como eles se sentem sobre isso e, também, descobrir o motivo desses alunos terem escolhido permanecer no curso.

    Com a análise dos dados, coletados através dos questionários utilizados em cada uma das três fases, à luz das categorias construídas a partir das crenças descritas por Gómez Chacón (2003) (crenças sobre a matemática, crenças sobre a aprendizagem da matemática, crenças sobre si mesmo como aprendiz de matemática e crenças provocadas pelo contexto social e sobre o contexto social ao qual os alunos e professores pertencem) pretendemos descobrir por que os estudantes não desistem de se tornarem professores de matemática, principal resultado esperado com esta pesquisa.

     

    Conclusões

    A partir dos estudos realizados e da coleta de dados, esperamos ter informações para analisar se os alunos são afetados emocionalmente pela estrutura do curso e de que maneira isso acontece, por que pensam em desistir de serem professores, e por qual motivo persistem no curso. Ademais, pretendemos apresentar os resultados acalçados com esta pesquisa à coordenadoria do curso de Licenciatura em Matemática para fins de utilização na implementação de seu Projeto Pedagógico com o intuito de melhor qualificar a formação inicial do professor de matemática da região sul do estado do Espírito Santo.  

     

    Principais referências bibliográficas

    GÓMEZ CHACÓN, Inés Maria. Matemática emocional: Os afetos na aprendizagem matemática. Tradução de Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2003.

    LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

    MENDUNI, Roberta D’Angela. Emoções que emergem da prática avaliativa em Matemática. 2003. 142 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2003.

    ROCHA, Messenas Miranda. Releitura do processo de aprendizagem de estudantes repetentes de Cálculo I. Vitória, 2016. 247 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2016.

    SILVA, Eliane Campos da. Prática matemática: um exame de sua influência nas concepções e atitudes dos professores e alunos do ensino médio. 2007. 219 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. 2007.

    STAKE, Robert Edward. Pesquisa qualitativa: estudando como as coisas funcionam. Porto Alegre: Penso, 2011.

  • Palavras-chave
  • afetos, emoções, crenças, professor de matemática
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Ensino de Matemática
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