Mayara Moraes Cardozo Coutinho
Instituto Federal do Espírito Santo
may-cardozo@hotmail.com
Sandra Aparecida Fraga da Silva
Instituto Federal do Espírito Santo
sandrafraga7@gmail.com
Dilza Côco
Instituto Federal do Espírito Santo
dilzacoco@gmail.com
Neste trabalho analisamos ações de planejamento pedagógico desenvolvidas por licenciandos de matemática do Ifes, Campus Vitória matriculados em estágio supervisionado. Essas análises tomam como base dados de pesquisa produzidos em 2019, que evidenciam a emergência de necessidades dos sujeitos em formação e que viabilizam aprendizagens docentes de ordem conceitual e pedagógica. Destacamos as necessidades de estudos e reflexões que tratam da significação social dos conhecimentos, quando os licenciandos são desafiados a organizarem situações de ensino. Notamos a partir das análises, que o planejamento pedagógico no estágio constitui espaço tempo de interações, diálogos e reflexões, que por meio de parcerias, estimulam os licenciandos a explicitarem suas compreensões iniciais sobre o trabalho pedagógico, bem como o seu movimento de significação do processo de aprendizagem da docência.
A produção dos dados e as análises tomaram como inspiração o me?todo filoso?fico materialista histo?rico diale?tico e alinha-se a? proposic?o?es teo?ricas vinculadas a? abordagem Histo?rico-Cultural, desenvolvidas por Vigotski, Leontiev, Moura e outros. Com base nesse aporte teo?rico, o conceito de atividade orientadora de ensino ocupa lugar privilegiado na atividade pedagógica, tendo o professor a atividade de ensino neste processo, “[...] os sujeitos, para realizarem uma atividade, precisam compreendê-la como aquilo que vai satisfazer as suas necessidades. É preciso que essa atividade tenha um sentido pessoal pois, de algum modo, foi desencadeada por um motivo que o moveu ou que pode movê-lo” (MOURA, 2004, p. 259). Nesse sentido,o ato de planejar gera algumas necessidades no futuro professor que estão permeadas de sentidos e significados.
Os estudos da Teoria Histórico-Cultural focalizaram diferentes aspectos do desenvolvimento humano. Leontiev (2001) investigou sobre a Atividade, definida “[...] como os processos psicologicamente caracterizados por aquilo a que o processo, como um todo, se dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a executar esta atividade, isto é o motivo” (LEONTIEV, 2001, p.68). Para ser caracterizado como atividade é necessário o objeto, o motivo, a operação/ação, a consciência e o objetivo. Essa teoria se estrutura da seguinte forma: necessidade, motivo, condições para obter a finalidade e os componentes. Inspirar no materialismo histórico dialético pressupõe movimento, trabalho, buscar a essência do fenômeno, transformação da realidade e um agir no mundo, o movimento de transformação da história. É nesse movimento que o professor exerce seu trabalho em constante transformação. Conforme Moretti e Moura (2010) afirmam, o professor vai se constituindo no seu trabalho docente, organizando ações de forma intencionais, tendo como objetivo dar conta dos desafios cotidianos do ensino. Pensando no trabalho docente do professor, em sua organização do ensino, a Atividade principal do professor é a Atividade de Ensino, que se constitui como parte da Atividade Pedagógica. Nesse sentido, é necessário “compreender o ensino como o objeto principal do profissional professor pode ser um importante meio para a organização de princípios norteadores de suas ações para que ele, cada vez mais, organize o ensino como um fazer que se aprimora ao fazer” (MOURA, 2012, p.143). E por meio da apropriação dos conhecimentos, vai se constituindo a ação pedagógica, para isso o professor precisa saber organizar o ensino, pois, “acreditamos que a organização do ensino favorece aprendizagem do professor” (LOPES, 2009, p.75). Dessa forma, contribui para que seja da forma mais apropriada o desenvolvimento da docência.
Apresentamos um relato de uma estagiária em seu relatório que foi desafiada a trazer o objetivo e necessidade na apropriação do conceito matemático.
Cláudia- No planejamento da aula, foi utilizado como consulta, o livro didático da turma do 8° ano B. E tive o auxílio das professoras orientadoras do estágio. No primeiro momento eu e E. pensamos em um jogo, só que fazendo várias pesquisas em livros e internet, vimos que jogo com sistemas lineares de equação com duas incógnitas estava difícil de encontrar, então aí que veio a dificuldade. E agora? O que vamos fazer? Foi onde nós fomos procurar a professora S., e falamos da nossa dificuldade em achar uma atividade diferenciada, até comentamos que só achávamos exercícios e problemas com sistemas lineares de equação com suas incógnitas. Durante a conversa, ela nos fez pensar que essa atividade tinha que ter um objetivo, uma necessidade. Ela nos fez entender que não adiantaria a gente ir lá e passar uma atividade e corrigir igual o professor sempre faz na sala. Nós tínhamos que pensar numa atividade que além de fazer o aluno aprender o conteúdo, fazê-lo aprender a necessidade daquele conteúdo. Mas, durante as aulas de estágio, nós resolvemos pesquisar mais e pensamos em atividades onde ao invés de usar a incógnita (letra), usar frutas, animais, símbolos. E pensamos em passar duas atividades assim e depois outras duas em forma de sistema. Após essa discussão, fomos até a professora D. apresentar o que tínhamos pensado. Então, após conseguir um tempo com a professora D., mostramos o que havíamos pensado. Logo, ela nos fez pensar ainda que a atividade que estávamos pensando em fazer, era uma atividade normal dada após a explicação de um conteúdo, era um exercício. E nosso objetivo era aplicar uma atividade que tivesse algum objetivo, alguma necessidade. Nisso, eu e E. pensamos novamente em outra forma de atividade, foi aí que tivemos aquela ideia de resolver sistemas com balas e pirulitos. |
No relato da licencianda observamos que estavam mais preocupadas em trazer uma tarefa denominada “atividade diferenciada”. Em conversa com a professora regente, elas foram levadas a pensar em qual objetivo e necessidade do conceito matemático. Em uma segunda organização elas tinham como proposta de mostrar o objetivo e necessidade do conceito matemático. No entanto, em conversa com a outra professora regente, ficou claro que elas ainda estavam focadas na elaboração de uma tarefa que tinha alguma “dinâmica”, como um exercício após a explicação do conteúdo, o que mostra que elas ainda não tinham se apropriado das contribuições teóricas, o que não compreenderam que a “situação-problema do professor é objetivar a sua necessidade de ensinar” (MORETTI, 2007, p.29). Corroboramos com Moretti (2007) que o professor ao ensinar um conceito, lida com diferentes instrumentos, busca a história desse conceito, suas necessidades, objetivos, a situação-problema proposta, selecionando os materiais didáticos adequados, e suas ações são organizadas de forma intencional visando o trabalho coletivo para solução comum da situação-problema proposta.
A necessidade de ensinar um determinado conceito, primeiro tem que fazer sentido para quem está ensinando, precisa ter um sentido pessoal pra depois trazer a sua significação social. Neste movimento de relação entre o sentido pessoal e significação social que surge as necessidades no futuro professor no ato de ensinar um conceito, e isso contribui para o processo de significação do conhecimento.
LEONTIEV, A. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.9.ed. São Paulo: Ícone, 2001.
LOPES, A. R. L. V. Aprendizagem da docência em matemática: O clube de matemática como espaço de formação inicial de professores. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2009.
MORETTI, V. D. Professores de matemática em atividade de ensino: uma perspectiva histórico-cultural para a formação docente. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2007.
MOURA, M. O. de. Pesquisa colaborativa: um foco na ação formadora. In: BARBOSA, R. L. L. (Org). Trajetórias e perspectivas da formação de educadores. São Paulo: UNESP, 2004. P. 257-284
MOURA, M. O. de. A atividade de ensino como ação formadora. In: CASTRO, A.D de.; CARVALHO, A.M.P de. (org.). Ensinar a ensinar: Didática para a escola fundamental e médio. São Paulo: Cangage Learning, 2012.
Comissão Organizadora
Sociedade Brasileira de Educação Matemática - ES
Instituto Federal do Espírito Santo - campus Cacho
Comissão Científica
Alcelio Monteiro - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Alex Jordane de Oliveira - Ifes campus Vitória
André Nunes Dezan - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Andréia Weiss - UFES campus de Alegre
Anny Resende Negreiros - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Aparecida Ferreira Lopes - PMVV/PMV
Elcio Pasolini Milli - SEDU – ES
Elda Alvarenga - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Elemilson Barbosa Caçandre - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Ellen Kênia Fraga Coelho - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Fulvia Ventura Leandro Amorim - Pólo UAB – Cachoeiro de Itapemirim
João Lucas De Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Jorge Henrique Gualandi - IFES – campus Cachoeiro de Itapemirim (Presidente da comissão)
Júlia Schaetzle Wrobel - UFES – campus Vitória
Marcela Aguiar Barbosa - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Maria Laucinéia Carari - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Organdi Mongin Rovetta - SEDU-ES
Ronei Sandro Vieira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Rubia Carla Pereira - Ifes campus Viana
Simoni Cristina Arcanjo - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Thiarla Xavier Dal-Cin Zanon - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Wanielle Silva Volpato - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
Weverthon Lobo de Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim