Introdução
Este trabalho apresenta reflexões sobre a ação pedagógica realizada por meio do programa Residência Pedagógica, em que o cerne da reflexão foi um conjunto de intervenções em turmas de Ensino Médio da rede estadual de educação do Espírito Santo. A proposta de desenvolvimento e o plano de aula foram planejados e discutidos previamente com a orientadora, o preceptor e os demais colegas residentes. Baseados na Resolução de Problemas como metodologia de ensino, realizamos a regência por meio de um problema específico, que designamos “Um pirata em busca do tesouro”. Além da criação deste problema, produzimos um vídeo de apoio, para narrar e ilustrar simultaneamente o texto da situação desencadeadora da discussão esperada para a aula. O objetivo dessa regência foi construir alguns conceitos e noções primitivas da Geometria Analítica, discutindo as ideias de ponto, segmento de reta, equidistância e plano cartesiano.
Em todas as intervenções houveram variações na forma de conduzir a aula, justamente por conta da metodologia adotada, do envolvimento dos discentes com o problema apresentado e das aprendizagens docentes a cada ação realizada. Algumas dificuldades tecnológicas foram enfrentadas, pois estávamos num ambiente online, enquanto que o professor preceptor e os alunos se encontravam no espaço físico da escola, ou seja, tinham que estabelecer uma comunicação conosco por meio da plataforma Google Meet. Analisando as soluções pensadas pelos estudantes, fomos surpreendidos positivamente. A surpresa foi motivada pelo surgimento de resoluções mais simples do que as que imaginávamos à priori, e isso enalteceu o diálogo sobre as problematizações.
1. Fundamentação teórica
A principal obra que sustentou a metodologia de Resolução de Problemas, e que também nos inspirou durante as etapas de planejamento, foi a “A resolução de problemas na educação matemática: Onde estamos? E para onde iremos?” da autora Lourdes de La Rosa Onuchic. A abordagem mostra o engajamento da autora e seus colaboradores neste tema e também destaca uma síntese ao final, na forma de um roteiro, para professores que pretendem compreender o trabalho via Resolução de Problemas. Vale ressaltar que, tal metodologia induz a três discussões da base do trabalho docente que são: o ensino, a aprendizagem e a avaliação (ONUCHIC, 2013). Entretanto, segundo Romanatto (2012) para se aplicar tal metodologia, o próprio docente deve ser um hábil resolvedor de problemas.
As etapas são divididas e sequenciadas na seguinte disposição: 1º) Leitura individual dos alunos; 2º) Leitura em conjunto; 3º) Resolução do Problema; 4º) Observar e incentivar; 5º) Registro das soluções na lousa; 6º) Plenária; 7º) Busca de consenso; 8º) Formalização do conteúdo (tarefa do professor) (ONUCHIC, 2013).
Cada item representa uma etapa desse contexto global e conforme os alunos e o professor vão avançando do item 1 até o 8, a ideia é que o aluno vá construindo o(s) conceito(s) que está(ão) em torno da resolução. Assim, a intencionalidade do professor ao pensar, estudar e selecionar adequadamente os problemas, com objetivos claros, se faz necessária para o engajamento da turma e sucesso da ação. E mais, o problema deve instigar os interlocutores e a sala deve se tornar um ambiente propício para aprendizagem (ONUCHIC, 2013).
2. Resultados alcançados
No dia da regência, o professor preceptor inicialmente conduziu seus alunos a um laboratório de informática de forma que cada um teria seu computador e todos fossem conectados ao ambiente de videochamadas Google Meet. Entretanto, a internet da escola não suportou os diversos computadores ligados na rede. Como solução, o professor preceptor optou pelo encaminhamento dos alunos ao auditório, onde nos conectamos ao ambiente e por meio de um projetor conduzimos a intervenção. Vale ressaltar que o professor decidiu pela utilização da câmera do notebook para que assim pudéssemos observar as interações entre os alunos na busca por soluções. Ajustados todos os detalhes para o andamento da aula, durante as regências ambos os residentes estavam presentes, o que contribuiu para uma complementação de fala, sempre em consonância com o referencial teórico.
Em todas as regências optamos por começar com uma análise do problema. Diante das dificuldades apresentadas, ao repetirmos a regência em outras turmas, fomos aprimorando a abordagem. Por exemplo, um dos residentes iniciou a aula sem apresentar o vídeo do problema na primeira regência da manhã, com isso, gastou-se mais tempo para entender o enunciado. Contudo, na segunda regência nós não usamos os slides. Porém, observamos que ficaria melhor se utilizássemos ambos os recursos, e foi o que fizemos nas turmas da tarde. Nota-se, portanto, que fomos aprimorando nosso modo de iniciar a resolução do problema proposto.
No decorrer da ação, quando os alunos tinham dificuldades, tentamos conduzir as discussões lançando perguntas que os induziram a pensar sobre suas próprias indagações e respondê-las. Assim, também estaríamos contemplando a observação e motivação, que é uma das características de uma aula baseada em resolução de problemas.
O registro das soluções ocorreu tanto em sala de aula quanto em uma tarefa específica feita no Google Classroom, pelo qual os alunos deveriam enviar suas soluções e expor suas opiniões sobre a aula e o que aprenderam.
Tivemos um momento importante, em uma das regências no qual vários alunos obtiveram soluções diferentes como resolução do problema. Por meio do diálogo nos foi possível validar as próprias soluções dos alunos e chegar, a partir de suas estratégias matemáticas, à resposta esperada.
Por fim, com a ajuda do docente preceptor formalizamos os conceitos matemáticos envolvidos. Além disso, fizemos ao final alguns questionamentos, tais como: O que é um ponto? Para que serve? Uma ilha pode ser representada por ponto? E uma cidade? E um país? E ilustramos essas observações com a utilização do slide associando o desenvolvimento dos conceitos matemáticos abordados.
Conclusões
A intervenção relatada nos traz um momento especial de reflexão, já que todos os envolvidos tiveram que se adaptar ao momento histórico e dramático que estamos vivenciando: o atendimento educacional remoto. Assim, professores e alunos tiveram que inovar no modo de interagir em sala de aula e novas aprendizagens ocorreram.
Observamos também que, a resolução de problemas como metodologia possui um grande potencial para desencadear discussões que nos levam à construção de novos conhecimentos, este fato contribui para a aprendizagem e conscientização dos alunos sobre o que é aprender. Além disso, o professor também aprende com os alunos, já que estes podem trazer soluções originais e mais condizentes com suas bagagens de conhecimentos prévios, o que amplia o leque de conhecimento também do professor.
Ao término das aulas, após trabalhar com os conceitos propostos, conseguimos ir além do esperado, de forma a recapitular alguns conceitos que já haviam sido trabalhados com esses alunos anteriormente. Em relação a resolução de problemas acreditamos ter contemplado os objetivos da proposta de intervenção enquanto método de ensino. As aulas foram bem dinâmicas e os alunos conseguiram chegar a diversas soluções. Observamos a discussão relacionada a vários conceitos, tanto os que escolhemos trabalhar voltados a geometria analítica como ponto, plano cartesiano, noção de equidistância bem como também tivemos soluções que utilizavam conceitos vistos em anos anteriores além de soluções visuais utilizando o desenho como intuição.
Principais referências bibliográficas
ONUCHIC, Lourdes. A resolução de problemas na educação matemática: Onde estamos? E para onde iremos? Revista Espaço Pedagógico, GTERP, v. 20, n. 1, 4 out. 2013.
LAMONATO, M; PASSOS, C. Discutindo resolução de problemas e exploração-investigação matemática: reflexões para o ensino de matemática. Zetetiké, 2011. FE/Unicamp. v.19. n. 16.
VIANNA, Carlos. Resolução de Problemas. Livro Temas em Educação, o livro das Jornadas de 2002. Futuro Congresso e Eventos. p. 401-410.
Comissão Organizadora
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João Lucas De Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim
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Júlia Schaetzle Wrobel - UFES – campus Vitória
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Weverthon Lobo de Oliveira - Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim