O Parâmetro do Sujeito Nulo no português popular do interior do estado da Bahia

  • Autor
  • José Carlos Assunção Novaes
  • Resumo
  •  

    O português brasileiro, sobretudo em suas variedades populares, diferencia-se muito do português europeu, possuindo características próprias formadas no período da colonização do Brasil, quando se estabeleceram contato com as diversas línguas indígenas e, posteriormente, com as línguas africanas vindas com os negros escravizados. Esse contato teria afetado principalmente a formação do português popular do Brasil, não deixando de se refletir também na norma culta brasileira. Assim, um dos aspectos que diferenciam o português brasileiro do português europeu é a realização do sujeito pronominal. De acordo com a Teoria de Princípios e Parâmetros, criada por Noam Chomsky, o português europeu é uma língua pro-drop típica, pois não realiza o sujeito pronominal em determinados contextos. Já o português brasileiro estaria passando por uma fase de transição de língua pro-drop para língua não pro-drop. Essa mudança possui uma relação com a significativa redução nos paradigmas flexionais do verbo. Nesses estudos, o processo de mudança, que é geral no Brasil, é observado na língua popular do interior do estado da Bahia. A pesquisa tem sua base empírica em uma amostra de fala vernácula recolhida junto a vinte e quatro moradores do Município de Poções, na região Sudoeste da Bahia. Esses informantes, com pouca ou nenhuma escolaridade, foram distribuídos equitativamente pelos dois sexos e por três faixas etárias. A análise da realização do sujeito pronominal nesta amostra linguística fundamentou-se nos princípios teóricos metodológicos da Sociolinguística Variacionista. Os resultados da análise quantitativa revelaram que, no português popular do interior, assim como em outras variedades da língua portuguesa no Brasil, o mecanismo sintático do sujeito nulo está comprometido, em função da perda da morfologia flexional do verbo. Desse modo, o sujeito nulo foi favorecido pela presença de um morfema flexional do verbo, pelo mecanismo sintático da correferência e pelo traço semântico [-humano]. Já o sujeito pronominal é mais realizado na 2ª pessoa do singular. Também as respostas a perguntas do tipo Wh-question e as interrogativas foram as estruturas oracionais que mais favoreceram a realização do sujeito. Os falantes do sexo feminino, mais jovens e moradores da zona urbana se utilizam mais do sujeito pronominal. Já os falantes do sexo masculino, mais velhos e moradores da zona rural contribuem para uma maior utilização do sujeito nulo. Com esta pesquisa pretende-se contribuir com o conhecimento da realidade sociolinguística do interior do Estado da Bahia, bem como com a compreensão da formação histórica do português brasileiro como um todo.

     

  • Palavras-chave
  • Teoria de Princípios e Parâmetros, Sujeito Nulo, Português Popular do Brasil, Sociolinguística, Variação linguística
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Teoria, descrição e metodologia sociolinguísticas
Voltar

SOCIOLINGUÍSTICA:
quebrando tabus e inovando na escola

 

O Encontro de Sociolinguística é um evento que se iniciou como local e circunscrito à UNEB, mas que gradativamente foi ampliando o seu escopo de participantes e colaboradores, até se transformar, em 2014, em um evento regional itinerante. O propósito inicial do Encontro de Sociolinguística é congregar pesquisadores da área que desenvolvem pesquisa na região da Bahia e Sergipe, uma área dialetal que é tradicionalmente vista como homogênea, mas que apresenta muitas peculiaridades, assim como as instituições nesta região, que são pequenas, com programas de pós-graduação ainda em consolidação e com poucos recursos. Nós diríamos, até, que esse encontro vem ecoando em outros estados da Federação, além da Bahia e Sergipe, como Minas Gerais, Acre, Espírito Santo etc.

 

Encontros regionais são importantes para a socialização de metodologias de pesquisa e seus resultados, em um cenário pouco propício e pouco explorado pelos grandes centros. A realização de encontros regionais se traduz na oportunidade de contato entre pesquisadores e o desenvolvimento de redes de pesquisa regionais, o desenvolvimento de métodos de pesquisa específicos para esta realidade e o treinamento de recursos humanos em contextos pouco atendidos pelos grandes eventos. É neste contexto que se insere o Encontro de Sociolinguística, que já tem nove edições realizadas.

 

Desta vez, a Universidade Federal de Ouro Preto se une aos colegas e amigos pesquisadores da UFBA, UNEB, UEFS, UFS e o IFBA e, em uma parceria acadêmica e profissional, responsável e madura, sob a presidência da Comissão Organizadora do Prof. Clézio Roberto Gonçalves, organizam um evento na área da Dialetologia e Sociolinguística.

 

Considerando-se que o tema diversidade e a forma complexa que este conceito tem se desenvolvido é fruto do contexto no qual ele se encontra inserido, de mudanças constantes e de uma valorização e percepção das grandes diferenças sejam sociais, políticas, culturais, sexuais, étnicas, linguísticas entre outras.

 

A definição de diversidade pode ser entendida como o conjunto de diferenças e valores compartilhados pelos seres humanos na vida social. Este conceito está intimamente ligado aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes modos de percepção e abordagem, heterogeneidade e variedade.

 

Afinal, pensar a diversidade, a partir da Diversidade Linguística, é um processo importante para a construção da identidade, isto significa que ela tem um papel crucial na criação de valores e atitudes que permitam uma melhor convivência e respeito entre todos os setores para o pleno desenvolvimento da humanidade.

 

E esse evento ousa mais, ou seja, “quebrar tabus e inovar na escola”.

 

Apresentamos, aqui, nestes Anais do IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA, os resumos dos trabalhos apresentados no evento. Foi um evento frutuoso de pessoas, de encontros, de trocas, de aprendizados, de experiências e de reflexões.

 

Agradecemos por acreditarem e confiarem em nós!

 

Boas leituras...

Clézio Roberto Gonçalves (UFOP)
Valter de Carvalho Dias (IFBA)

Comissão Organizadora

Valter de Carvalho Dias
Clézio Roberto Gonçalves
Gredson dos Santos
Josane Moreira de Oliveira
Marcela Moura Torres Paim
Norma da Silva Lopes
Silvana Soares Costa Ribeiro
Laura Camila Almeida
Cristina dos Santos Carvalho

 

Comissão Científica

Valter de Carvalho Dias
Clézio Roberto Gonçalves
Gredson dos Santos
Josane Moreira de Oliveira
Marcela Moura Torres Paim
Norma da Silva Lopes
Laura Camila Almeida
Cristina dos Santos Carvalho

I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)

 

II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)

 

VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)

 

VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)