A implementação de uma expressão justa de gênero em uma língua é geralmente associada com reações negativas e usos ambíguos quanto à afetividade associada a essa representação. Um exemplo disso é a implementação do pronome hen em sueco para representar um terceiro gênero, ao lado dos pronomes hon (ela) e han (ele) (SEDÉN, et al., 2015). Em algumas variedades do português brasileiro, foram encontradas ocorrências de um novo pronome, o êla ([?ela]), que seria a fusão fonética dos pronomes de terceira pessoa masculino (ele - [?eli]) e feminino (ela - [??la]). Os usos de êla, entretanto, diferem do de hen. Êla é usado majoritariamente para se referir à indivíduos trasgêneros femininos e é utilizado na maioria das vezes por indivíduos masculinos cisgêneros heterossexuais. O presente trabalho, de cunho descritivo e diagnóstico, tem como objetivo observar os usos do pronome êla no português brasileiro, apontando as motivações sociais que possam condicionar sua escolha. O corpus utilizado para análise constituído por textos coletados em redes sociais online e letras de músicas populares e que são consumidas primordialmente pelas classes C e D na cidade de Salvador, Bahia com temas relacionados à comunidade LGBT. Complementarmente, na tentativa de se traçar um perfil do uso do êla e seu grau de aceitabilidade por falantes nativos de diferentes regiões do Brasil, de classes sociais e gêneros, foi feita uma consulta com 50 usuários na rede social Facebook através da ferramenta online Google Forms. Os resultados preliminares apontam para uma neutralidade relativizada do pronome êla, pois sua menção é sempre ligada a sujeitos efeminados e, na maioria dos casos de uso encontrados, seu referente é uma pessoa transsexual feminina ou uma travesti e o valor social associado ao pronome é, na maioria das vezes, sexista e pejorativo. Foi ainda observada uma gradação quanto à afetividade ligada ao pronome: seu uso está vinculado a contextos em que indivíduos homossexuais cisgêneros e trangêneros femininos desempenham atividades associadas ao feminino, apresentando predominantemente representação de afeto negativo quando usado por indivíduos heterossexuais, por um lado, e afeto positivo quando utilizado por indivíduos LGBT. Este fator, a nosso ver, dificulta a implementação desse pronome na língua. Os resultados da consulta online de aceitabilidade do pronome através da ferramenta online Google Forms corroboraram os resultados do corpus usado na descrição do pronome neste trabalho, indicando um forte sexismo e questionável tentativa de real neutralização em seu uso.
SOCIOLINGUÍSTICA:
quebrando tabus e inovando na escola
O Encontro de Sociolinguística é um evento que se iniciou como local e circunscrito à UNEB, mas que gradativamente foi ampliando o seu escopo de participantes e colaboradores, até se transformar, em 2014, em um evento regional itinerante. O propósito inicial do Encontro de Sociolinguística é congregar pesquisadores da área que desenvolvem pesquisa na região da Bahia e Sergipe, uma área dialetal que é tradicionalmente vista como homogênea, mas que apresenta muitas peculiaridades, assim como as instituições nesta região, que são pequenas, com programas de pós-graduação ainda em consolidação e com poucos recursos. Nós diríamos, até, que esse encontro vem ecoando em outros estados da Federação, além da Bahia e Sergipe, como Minas Gerais, Acre, Espírito Santo etc.
Encontros regionais são importantes para a socialização de metodologias de pesquisa e seus resultados, em um cenário pouco propício e pouco explorado pelos grandes centros. A realização de encontros regionais se traduz na oportunidade de contato entre pesquisadores e o desenvolvimento de redes de pesquisa regionais, o desenvolvimento de métodos de pesquisa específicos para esta realidade e o treinamento de recursos humanos em contextos pouco atendidos pelos grandes eventos. É neste contexto que se insere o Encontro de Sociolinguística, que já tem nove edições realizadas.
Desta vez, a Universidade Federal de Ouro Preto se une aos colegas e amigos pesquisadores da UFBA, UNEB, UEFS, UFS e o IFBA e, em uma parceria acadêmica e profissional, responsável e madura, sob a presidência da Comissão Organizadora do Prof. Clézio Roberto Gonçalves, organizam um evento na área da Dialetologia e Sociolinguística.
Considerando-se que o tema diversidade e a forma complexa que este conceito tem se desenvolvido é fruto do contexto no qual ele se encontra inserido, de mudanças constantes e de uma valorização e percepção das grandes diferenças sejam sociais, políticas, culturais, sexuais, étnicas, linguísticas entre outras.
A definição de diversidade pode ser entendida como o conjunto de diferenças e valores compartilhados pelos seres humanos na vida social. Este conceito está intimamente ligado aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes modos de percepção e abordagem, heterogeneidade e variedade.
Afinal, pensar a diversidade, a partir da Diversidade Linguística, é um processo importante para a construção da identidade, isto significa que ela tem um papel crucial na criação de valores e atitudes que permitam uma melhor convivência e respeito entre todos os setores para o pleno desenvolvimento da humanidade.
E esse evento ousa mais, ou seja, “quebrar tabus e inovar na escola”.
Apresentamos, aqui, nestes Anais do IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA, os resumos dos trabalhos apresentados no evento. Foi um evento frutuoso de pessoas, de encontros, de trocas, de aprendizados, de experiências e de reflexões.
Agradecemos por acreditarem e confiarem em nós!
Boas leituras...
Clézio Roberto Gonçalves (UFOP)
Valter de Carvalho Dias (IFBA)
Valter de Carvalho Dias
Clézio Roberto Gonçalves
Gredson dos Santos
Josane Moreira de Oliveira
Marcela Moura Torres Paim
Norma da Silva Lopes
Silvana Soares Costa Ribeiro
Laura Camila Almeida
Cristina dos Santos Carvalho
Valter de Carvalho Dias
Clézio Roberto Gonçalves
Gredson dos Santos
Josane Moreira de Oliveira
Marcela Moura Torres Paim
Norma da Silva Lopes
Laura Camila Almeida
Cristina dos Santos Carvalho
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)