Introdução: As lesões iatrogênicas do trato urinário, especialmente da bexiga e do ureter, são complicações reconhecidas de procedimentos cirúrgicos abdominais, pélvicos e vaginais. Tais complicações podem levar a hemorragia, sepse, perda renal e mesmo óbito. Estas lesões podem ocorrer em cirurgias como cesarianas, histerectomias e ureteroscopias, sendo estas últimas responsáveis por uma proporção crescente dessas ocorrências. Objetivos: destacar a relevância das iatrogenias urológicas provocadas em cirurgias ginecológicas. Métodos: foi realizada revisão de literatura em bases de dados indexadas como LILACS, PUBMED e SCIELO utilizando os descritores “iatrogenic”, “histerectomy” e “ureter”. Resultados: Uma metanálise recente revelou que, em um total de casos examinados, foram identificadas 5.138 lesões na bexiga e 1.768 no ureter, com taxas médias ponderadas de lesão de 641 e 255 eventos por 100.000 casos, respectivamente. Notavelmente, o risco de lesão tanto na bexiga quanto no ureter é mais elevado durante o período periparto e em histerectomias radicais laparoscópicas. Especula-se que durante a histerectomia periparto, a visibilidade prejudicada devido à hemorragia do útero gravídico e distúrbios de invasão placentária possam contribuir para essas lesões, enquanto na histerectomia maligna, a necessidade de dissecção ampla para alcançar margens negativas e os desafios decorrentes da invasão tumoral podem aumentar o risco. A identificação precoce de lesões ureterais iatrogênicas é crucial, pois mais de 70% dos casos são diagnosticados apenas após a cirurgia, devido a fatores como hemorragia intraoperatória, aderências e trajeto anormal dos ureteres. A falta de infraestrutura endourológica em muitas instituições também dificulta o diagnóstico imediato dessas lesões após cirurgias pélvicas importantes. O diagnóstico tardio pode levar a complicações graves, incluindo sepse intra-abdominal, dor lombar, danos renais e formação de estenose ureteral. Durante cirurgias ginecológicas, os ureteres estão em risco em várias etapas do procedimento. Danos podem ocorrer durante a sutura de incisões ampliadas para controle de sangramento ou durante ligaduras de artérias, especialmente em áreas como o cruzamento dos ureteres na borda pélvica, sobre as artérias ilíacas ou dentro de ligamentos importantes. Estudos indicam que durante histerectomias, 1,2% de todos os procedimentos resultam em lesões ureterais, com 11% desses casos levando a processos legais de indenização. A maioria das lesões não é reconhecida durante a cirurgia e a identificação periperatória dos ureteres muitas vezes não é documentada. Dor é o sintoma predominante em casos de lesões ureterais não diagnosticadas. Apesar dos desafios, a identificação periperatória dos ureteres durante todas as histerectomias é uma medida recomendada, pois é rápida, de baixo custo e pode potencialmente reduzir o risco de lesões. A detecção precoce dessas lesões é crucial para um prognóstico favorável, com modalidades de tratamento variando desde ureteroureterostomia até técnicas endourológicas menos invasivas, dependendo da localização e gravidade da lesão. Conclusão: As lesões iatrogênicas ureterais em cirurgias ginecológicas representam um desafio significativo, exigindo uma abordagem cuidadosa e proativa para prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, visando reduzir a morbidade associada e melhorar os resultados clínicos para os pacientes.
Comissão Organizadora
ASSAGO
Comissão Científica
Sigrid Maria Loureiro de Queiroz Cardoso
Patricia Brito
Claudia Soeiro
Carlos Henrique
Anderson Gonçalves
Hilka Espírito Santo
assago2017@gmail.com
JORNADA AMAZONENSE DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA 2023