Os “miseráveis vassalos” da Vila de Índios de Extremoz do Norte: política, trabalho e desterritorialização indígena (1796–1800)

  • Autor
  • PEDRO PINHEIRO DE ARAUJO JUNIOR
  • Resumo
  •  

    Analisa a atuação política dos agentes camarários indígenas da Vila de Extremoz, Capitania do Rio Grande do Norte, no final do século XVIII. Esse espaço de representação política foi criado a partir da fundação da vila e senado da câmara em 3 de maio de 1760, no local onde anteriormente foi a Missão do Guajiru. Foi nele que essas populações nativas de diversas origens foram reterritorializadas, ou seja, submetidas a uma nova territorialização coordenada pela administração da Coroa portuguesa. Ademais, um dos principais objetivos para o estabelecimento do Diretório dos Índios (1755) nesses sertões foi a transformação desses indivíduos em vassalos da monarquia portuguesa, para tanto, foram criados mecanismos para que participassem da vida pública em suas vilas, seja ocupando cargos nas câmaras, recebendo patentes militares, e por fim, “auxiliando” os colonos com a sua mão de obra explorada em diversas atividades. Para isso, analisamos as fontes administrativas do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e do Arquivo Público Estadual João Emerenciano, como cartas, requerimentos, ordens régias e ofícios trocados entre o Senado da Câmara de Extremoz, os governadores das Capitanias do Norte e o Conselho Ultramarino.  Assim sendo, com o cruzamento de fontes que utilizamos para construir essa pesquisa, apesar da rala documentação eclesiástica e camarária disponível sobre a Vila de Índios de Extremoz (1760–1833), foi possível identificar que dois ocupantes do senado da câmara da dita vila, entre 1799 e 1800, eram os índios Antônio Dinis Pereira e Ignácio Duarte. Portanto, esses personagens camarários tinham diversas responsabilidades sobre as recomendações estabelecidas pelo Diretório, principalmente, no tocante ao trabalho da população indígena vilada, pois, representavam o seu povo e deveriam auxiliar o diretor nas funções de controle e manutenção da organização social deste espaço público, principalmente, intermediando os conflitos que surgissem porventura. Em suma, o movimento trilhado pelos agentes camarários indígenas surtiram um efeito positivo em pouco mais de um ano após o primeiro requerimento enviado à Rainha Dona Maria I. Por fim, a posição firmada por esses personagens, demonstram um protagonismo indígena na capitania analisada no final do século XVIII, e esse se configurou, na utilização dos espaços de poder, seja camarário ou militar, para a defesa do coletivo dos povos originários reterritorializados neste lugar.

  • Palavras-chave
  • Resistência Indígena, Diretório dos Ìndios, Vila de ìndios de Extremoz.
  • Área Temática
  • Simpósio Temático 6 - Conquista, conflitos e ocupação dos sertões na América portuguesa (séc. XVI-XVIII)
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A V Jornada Nacional de História dos Sertões/I Colóquio Regional Sertões, Tempo, Espaço e Natureza tem como objetivo geral proporcionar um compartilhamento de saberes acadêmicos sobre o domínio temático da História dos Sertões, a partir do cruzamento de esforços institucionais, que partem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O evento, assim, aposta no fortalecimento desse campo, a partir da confluência de pesquisadores da História e das Humanidades para importantes discussões de temas a ele correlatos. Trata-se, aqui, de uma ação de continuidade, que dá prosseguimento a outras edições da jornada anteriormente realizadas (I, em 2016-2017; II, em 2018; III, em 2019; IV, em 2021).Em sua quinta edição, a jornada é promovida pelo Programa de Pós-Graduação em História - Mestrado em História dos Sertões (MHIST-CERES-UFRN), Departamento de História (DHC-CERES-UFRN), Grupo de Pesquisa História dos Sertões e Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura em Sertões Coloniais: história e historiografia- SERCOL - Sociedade e cultura em sertões coloniais: história e historiografia. Tem como apoio a Sertanus - Rede de Pesquisa em História dos Sertões.

Dentre os benefícios esperados, listamos: (1) o fortalecimento do campo temático da História dos Sertões entre as instituições promotoras do evento e aquelas que participarão da programação, seja a partir dos convidados, seja a partir da interação dos inscritos; (2) a troca de saberes entre as pessoas que participarão da jornada, acadêmicos e não acadêmicos; (3) a difusão do conhecimento científico produzido no âmbito da UFRN; (4) e a publicação dos textos da programação sênior em formato de livro e dos Simpósios Temáticos no formato de anais.

O evento, em sua quinta edição, tem como temática os 120 anos de Os Sertões, obra de Euclides da Cunha, que teve sua primeira edição em 1902. Essa obra fazia parte de um projeto de escrita já esboçado (e divulgado pela imprensa) quando de sua ida ao campo em 1897 e que foi amadurecendo nos anos seguintes. A particularidade e densidade com que abordou a “Guerra de Canudos” acabou por se tornar um grande laboratório para se compreender a complexidade que é o Brasil. Com este livro inaugural, os sertões, a nação e a nacionalidade foram tematizadas, pela primeira vez, com profundidade. Não à toa, após a sua publicação e legitimação da sua importância pelos “juízos críticos” emitidos por eminentes críticos literários (José Veríssimo e Araripe Júnior), a obra e o autor ganharam um espaço incontornável na cultura escrita brasileira.

Aproveita-se o ensejo, também, e, na V Jornada Nacional de História dos Sertões, promove-se um debate alusivo ao bicentenário da Independência do Brasil e sua relação com os sertões. Os estudos sobre a Independência do Brasil estiveram muito centrados nas forças propulsoras e efeitos deste processo em relação a um novo Estado muito litorâneo, voltado ao Atlântico e um tanto quanto bragantino, apesar da ruptura política com o mundo ibérico. Nesse sentido, o Rio de Janeiro, a Corte e as elites que orbitavam o centro administrativo do futuro Império receberam bastante atenção da História. Em um quadro contemporâneo de revisão e renovação desses estudos, a partir das quais pensa-se o processo de modo multifacetado, inclusive a partir da percepção mais abrangente de “independências”, cabe-nos pensar, como os diversos sertões do Brasil, reagiram à Independência, mas também, antes disso, como foram forças operantes em favor, contra e mesmo produtora de outros projetos sociais nesse contexto de mudanças do início do século XIX. Refletir sobre o processo de Independência em sua relação com os sertões, as sociedades sertanejas e o modo como essas se situaram e foram situadas em torno e após 1822 se faz necessário, urgente e pertinente frente às comemorações que se avizinham em 2022.

Os anais, aqui publicados, condensam os resumos dos trabalhos científicos apresentados nos simpósios temáticos da V Jornada Nacional de História dos Sertões. 

  • Simpósio Temático 1 - Comunidades, Narrativas e Memórias: interpretações sobre as histórias dos sertões
  • Simpósio Temático 2 - Territorialidade e identidade de antigos grupos humanos nos sertões do Brasil
  • Simpósio Temático 3 - História das ciências e da saúde nos sertões brasileiros
  • Simpósio Temático 4 - Histórias da Educação e do Ensino nos e dos Sertões
  • Simpósio Temático 5 - Os Sertões no mundo Atlântico moderno (séculos XVI a XVIII)
  • Simpósio Temático 6 - Conquista, conflitos e ocupação dos sertões na América portuguesa (séc. XVI-XVIII)
  • Simpósio Temático 7 - Mulheres e pessoas LGBTQIA+ nos sertões: uma história “outra” é possível?
  • Simpósio Temático 8 - Artistas sertanejos e as diversas maneiras de se “dizer ser” o sertão nordestino
  • Simpósio Temático 9 - História da Historiografia e História dos Sertões: escritas da história e suas diversas fronteiras e alteridades
  • Simpósio Temático 10 - Interfaces étnico-raciais nos sertões: agentes sociais, trocas e identidades
  • Simpósio Temático 11 - Trabalho e migração nos sertões
  • Simpósio Temático 12 - Terra e território: a questão agrária do sertão semiárido
  • Simpósio Temático 13 - A Independência e os sertões do Brasil
  • Simpósio Temático 14 - História política, sertão e imprensa
  • Simpósio Temático 15 - Entre o sagrado e o profano: religiões e religiosidades nos sertões

Comitê Científico
Dr.ª Isnara Pereira Ivo - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Dr.ª Giovana Galvão Tavares - Centro Universitário de Anápolis - UNIEVANGÉLICA
Drª Candice Vidal e Souza - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG
Dr. Gilmar Arruda - Universidade Estadual de Londrina - UEL
Dr. Paulo Pinheiro Machado - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Dr.ª Courtney Campbell - Universidade de Birmingham (Inglaterra)
Dr.ª Mônica Almeida Araújo Nogueira - IPHAN/AM
Dr. Anderson Dantas da Silva Brito - Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB
Dr. Sérgio Gonçalo Duarte Neto – Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) da Universidade de Coimbra – UC
Dr. Pedro António Almeida Cardim – Universidade Nova de Lisboa – UNL
Dr.ª Maria Cristina Pompa – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Dr. Marco Aurélio Paiva – Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Dr. José Inaldo Chaves Júnior – Universidade de Brasília – UnB  

Comissão Científica
Me. Emanuel da Silva Oliveira - Doutorando em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - PPGH-UFRPE 
Me. Alexandre Gomes Teixeira Vieira - Doutorando em Antropologia pela Universidade Federal do Pernambuco - PPGA-UFPE
Dr.ª Cláudia Cristina do Lago Borges - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Dr. Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva -  Universidade Federal do Rio Grande do Norte - PPGHC-UFRN
Dr.ª Avohanne Isabelle Costa de Araújo - Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Ma. Laila Pedrosa da Silva - Doutoranda em História das Ciências e da Saúde - COC-FIOCRUZ
Dr. Anderson Dantas da Silva Brito - Universidade Federal do Oeste da Bahia - PPGE-UFOB
Dr.ª Olívia Morais de Medeiros Neta - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - PPGED-UFRN
Me. Adson Rodrigo Silva Pinheiro - Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF
Me. Yan Bezerra de Morais - Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF
Ma. Lívia Brenda da Silva Barbosa - Doutoranda em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF
Me. Tyego Franklim da Silva - Doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - PPGH-UFRN

 

Anais da V Jornada Nacional de História dos Sertões
I Colóquio Regional Sertões, Tempo, Espaço e Natureza
120 anos de "Os Sertões"
ISBN 978-65-00-52387-4
Caicó - RN
Canal do PPGHC-UFRN no Youtube

Realização
Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó
Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo
Caicó-RN – CEP 59374-000
E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br 

Organizadores
Helder Alexandre Medeiros de Macedo
Antonio José de Oliveira
Fabio Mafra Borges
Ana Luísa Araújo Medeiros 
Arthur Vinícius Silva de Medeiros 
Isabela de Lorena Zaniboni 
Laira Lianne da Silva Pontes 
Mara Gabrielly Batista de Macêdo 
Rosane dos Santos 
Thales Lordão Dias 
Patrícia Galvão Silva de Araújo 

Colaborador
Gesson Brener Ferreira da Silva