“50 anos em 5”, lema divulgado por Juscelino Kubistchek e bem aceito no Brasil dos anos 1950 esclarece o projeto Nacional Desenvolvimentista que, em linhas gerais, pretendia consumar um avanço urbano e econômico normais em um período de 50 anos, em apenas 5. Esse discurso acompanha o modelo capitalista adotado pelo mundo ocidental pós-guerra, sendo o alcance da “modernização” o objetivo maior.
Esse contexto, dessa forma, apresenta um modo de vida e uma forma de conduzir as práticas e ações das populações inseridas nesse território, e aquilo que não se comporta tal qual o projeto almeja é tido como um problema a ser superado, é assim que os ciganos, em grande medida, são representados, como um problema, isso decorre de uma série de fatores e estereótipos que foram afirmados no decorrer da história.
Quarta-feira, cinco de Março de 1952, a segunda página da edição diária do Jornal “Diário de Natal” veicula um suplemento literário um tanto quanto curioso, intitulado “ciganos sertanejos”, o texto escrito por Adhemar Vidal abre diversas possibilidades de analise tendo como fio condutor a História Cultural e as representações.
Nesse sentido, alinhando nossa fonte ao contexto supracitado percebemos a projeção do escritor da matéria sobre dois tipos de sujeitos, ambos ciganos, mas com características distintas, o primeiro, chamado por ele de “Cigano Sertanejo”, identificado pelas localidades em que andas e características pessoais. O segundo é nomeado apenas de “cigano”, e o que diferencia do primeiro é sua proximidade ao litoral e suas personalidades e características “naturais” aos sujeitos ciganos.
Esse cenário, em uma primeira análise, evidencia o trato dos não ciganos com os ciganos em si, figura que por seus costumes culturais, apresenta um modelo de vida e de relacionar-se com o mundo bastante destoante do sistema capitalista e aquilo que é considerado modernizado, por isso, as representações são carregadas de anticiganismo.
Assim, é possível construir uma narrativa pautada nas diferenças apresentadas pelo escritor da matéria, Adhemar Viana, entre o cigano dito sertanejo e aquele que está mais próximo ao litoral, e entender como o autor constrói distâncias e aproximações entre esses dois sujeitos. Carregado de preconceitos, o texto de Viana, demonstra também, entendimentos geracionais do que significa ser sertanejo em oposição ao ser do litoral, algo que foi palco de inúmeras discussões ao longo da história e da definição de sertões.
Com a pesquisa, portanto, pretendemos analisar como a matéria veiculada no jornal “Diário de Natal”, escrita por Adhemar Viana, reforça determinados preconceitos contra os grupos ciganos e entender como tais estereótipos estão associados a fatores econômicos, bem como sociais e territoriais do Brasil.
A V Jornada Nacional de História dos Sertões/I Colóquio Regional Sertões, Tempo, Espaço e Natureza tem como objetivo geral proporcionar um compartilhamento de saberes acadêmicos sobre o domínio temático da História dos Sertões, a partir do cruzamento de esforços institucionais, que partem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O evento, assim, aposta no fortalecimento desse campo, a partir da confluência de pesquisadores da História e das Humanidades para importantes discussões de temas a ele correlatos. Trata-se, aqui, de uma ação de continuidade, que dá prosseguimento a outras edições da jornada anteriormente realizadas (I, em 2016-2017; II, em 2018; III, em 2019; IV, em 2021).Em sua quinta edição, a jornada é promovida pelo Programa de Pós-Graduação em História - Mestrado em História dos Sertões (MHIST-CERES-UFRN), Departamento de História (DHC-CERES-UFRN), Grupo de Pesquisa História dos Sertões e Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura em Sertões Coloniais: história e historiografia- SERCOL - Sociedade e cultura em sertões coloniais: história e historiografia. Tem como apoio a Sertanus - Rede de Pesquisa em História dos Sertões.
Dentre os benefícios esperados, listamos: (1) o fortalecimento do campo temático da História dos Sertões entre as instituições promotoras do evento e aquelas que participarão da programação, seja a partir dos convidados, seja a partir da interação dos inscritos; (2) a troca de saberes entre as pessoas que participarão da jornada, acadêmicos e não acadêmicos; (3) a difusão do conhecimento científico produzido no âmbito da UFRN; (4) e a publicação dos textos da programação sênior em formato de livro e dos Simpósios Temáticos no formato de anais.
O evento, em sua quinta edição, tem como temática os 120 anos de Os Sertões, obra de Euclides da Cunha, que teve sua primeira edição em 1902. Essa obra fazia parte de um projeto de escrita já esboçado (e divulgado pela imprensa) quando de sua ida ao campo em 1897 e que foi amadurecendo nos anos seguintes. A particularidade e densidade com que abordou a “Guerra de Canudos” acabou por se tornar um grande laboratório para se compreender a complexidade que é o Brasil. Com este livro inaugural, os sertões, a nação e a nacionalidade foram tematizadas, pela primeira vez, com profundidade. Não à toa, após a sua publicação e legitimação da sua importância pelos “juízos críticos” emitidos por eminentes críticos literários (José Veríssimo e Araripe Júnior), a obra e o autor ganharam um espaço incontornável na cultura escrita brasileira.
Aproveita-se o ensejo, também, e, na V Jornada Nacional de História dos Sertões, promove-se um debate alusivo ao bicentenário da Independência do Brasil e sua relação com os sertões. Os estudos sobre a Independência do Brasil estiveram muito centrados nas forças propulsoras e efeitos deste processo em relação a um novo Estado muito litorâneo, voltado ao Atlântico e um tanto quanto bragantino, apesar da ruptura política com o mundo ibérico. Nesse sentido, o Rio de Janeiro, a Corte e as elites que orbitavam o centro administrativo do futuro Império receberam bastante atenção da História. Em um quadro contemporâneo de revisão e renovação desses estudos, a partir das quais pensa-se o processo de modo multifacetado, inclusive a partir da percepção mais abrangente de “independências”, cabe-nos pensar, como os diversos sertões do Brasil, reagiram à Independência, mas também, antes disso, como foram forças operantes em favor, contra e mesmo produtora de outros projetos sociais nesse contexto de mudanças do início do século XIX. Refletir sobre o processo de Independência em sua relação com os sertões, as sociedades sertanejas e o modo como essas se situaram e foram situadas em torno e após 1822 se faz necessário, urgente e pertinente frente às comemorações que se avizinham em 2022.
Os anais, aqui publicados, condensam os resumos dos trabalhos científicos apresentados nos simpósios temáticos da V Jornada Nacional de História dos Sertões.
Comitê Científico
Dr.ª Isnara Pereira Ivo - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Dr.ª Giovana Galvão Tavares - Centro Universitário de Anápolis - UNIEVANGÉLICA
Drª Candice Vidal e Souza - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG
Dr. Gilmar Arruda - Universidade Estadual de Londrina - UEL
Dr. Paulo Pinheiro Machado - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Dr.ª Courtney Campbell - Universidade de Birmingham (Inglaterra)
Dr.ª Mônica Almeida Araújo Nogueira - IPHAN/AM
Dr. Anderson Dantas da Silva Brito - Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB
Dr. Sérgio Gonçalo Duarte Neto – Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) da Universidade de Coimbra – UC
Dr. Pedro António Almeida Cardim – Universidade Nova de Lisboa – UNL
Dr.ª Maria Cristina Pompa – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Dr. Marco Aurélio Paiva – Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Dr. José Inaldo Chaves Júnior – Universidade de Brasília – UnB
Comissão Científica
Me. Emanuel da Silva Oliveira - Doutorando em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - PPGH-UFRPE
Me. Alexandre Gomes Teixeira Vieira - Doutorando em Antropologia pela Universidade Federal do Pernambuco - PPGA-UFPE
Dr.ª Cláudia Cristina do Lago Borges - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Dr. Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - PPGHC-UFRN
Dr.ª Avohanne Isabelle Costa de Araújo - Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Ma. Laila Pedrosa da Silva - Doutoranda em História das Ciências e da Saúde - COC-FIOCRUZ
Dr. Anderson Dantas da Silva Brito - Universidade Federal do Oeste da Bahia - PPGE-UFOB
Dr.ª Olívia Morais de Medeiros Neta - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - PPGED-UFRN
Me. Adson Rodrigo Silva Pinheiro - Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF
Me. Yan Bezerra de Morais - Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF
Ma. Lívia Brenda da Silva Barbosa - Doutoranda em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF
Me. Tyego Franklim da Silva - Doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - PPGH-UFRN
Anais da V Jornada Nacional de História dos Sertões
I Colóquio Regional Sertões, Tempo, Espaço e Natureza
120 anos de "Os Sertões"
ISBN 978-65-00-52387-4
Caicó - RN
Canal do PPGHC-UFRN no Youtube
Realização
Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó
Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo
Caicó-RN – CEP 59374-000
E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br
Organizadores
Helder Alexandre Medeiros de Macedo
Antonio José de Oliveira
Fabio Mafra Borges
Ana Luísa Araújo Medeiros
Arthur Vinícius Silva de Medeiros
Isabela de Lorena Zaniboni
Laira Lianne da Silva Pontes
Mara Gabrielly Batista de Macêdo
Rosane dos Santos
Thales Lordão Dias
Patrícia Galvão Silva de Araújo
Colaborador
Gesson Brener Ferreira da Silva