Os conflitos ambientais são aqueles decorrentes da apropriação privada da natureza e do território e opõem distintos grupos sociais que possuem modos diferenciados de uso dos bens naturais. Tais conflitos são deflagrados a partir da territorialização de empreendimentos que pautam suas ações na exploração capitalista, o qual resulta num confronto direto com as territorialidades das populações locais. Os conflitos ambientais representam uma ameaça à reprodução material e simbólica dos povos profundamente arraigados à natureza e ao território, como populações quilombolas. Um exemplo desse processo ocorre na Comunidade Quilombola Macambira (localizada entre os municípios de Lagoa Nova, Bodó e Santana do Matos – RN), que desde os anos 2010 passou a ser alvo de empresas de energia eólica que instalaram parques dentro da comunidade e nos seus arredores. Isso tem implicado na violação de direitos e no agravamento das condições de vida da população, em virtude dos impactos ocasionados com a instalação e operação dos aerogeradores nas proximidades das residências e das roças. Todavia, apesar dos desafios impostos pelo cenário de conflito ambiental, nota-se um processo de resistência pautado na reorganização da dinâmica produtiva do território quilombola, especialmente a partir do trabalho realizado coletivamente pelas mulheres em hortas comunitárias. Nesse sentido, objetiva-se analisar a contribuição dessas hortas para a resistência produtiva da Comunidade Quilombola Macambira face aos conflitos ambientais. Para tanto, foram realizados trabalhos de campo na comunidade, com visitação às hortas comunitárias e realização de rodas de conversa e entrevistas semiestruturadas com as mulheres quilombolas. Os dados obtidos indicam a potencialidade das hortas na comunidade, que impulsionaram a criação de grupos de mulheres para organizar o trabalho coletivo, aprimorando a produção por meio de técnicas de transição agroecológica e fomentando a comercialização pautada em princípios da economia solidária. Infere-se que as hortas, também chamadas de canteiros econômicos, foram implementadas através de projetos da Cáritas Diocesana de Caicó, uma organização social que atua na instalação de tecnologias sociais e na formação e mobilização de grupos de mulheres. Entre 2023 e 2024, foram instalados um total de 12 hortas comunitárias, distribuídas entre as quatro localidades que compõem o território quilombola. Ao fomentar o trabalho coletivo nas hortas, as mulheres passaram a ter uma renda complementar que lhes permite maior autonomia financeira, além da oferta de alimentos frescos e de qualidade, contribuindo com a soberania e segurança alimentar de suas famílias. Portanto, na Comunidade Quilombola Macambira fica evidente que a resistência produtiva se apresenta enquanto uma estratégia de permanência no território, a despeito da presença dos parques de energia eólica.
Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva - UFRN
Allyson Iquesac Santos de Brito - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Ana Maria Veiga - UFPB
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Beatriz Alves dos Santos – Doutoranda (PPGH/UFRN)
Bianca Ferreira do Nascimento - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira - Mestra (PPGHC/UFRN)
Fabio Mafra Borges - UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Gracineide Pereira dos Santos Oliveira - PDJ-CNPq/FAPERN/PPGHC-UFRN
Hozana Danize Lopes de Souza - Mestra (PPGHC-UFRN e PPGArqueologia-UFPE)
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestrando (PPGHC-UFRN)
Jessica Éveny Cardoso Martins - Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora de Fátima - Conceição-PB
João Paulo de Lima - Secretaria de Educação de Serra Negra do Norte - RN
Jovelina Silva Santos – UERN / PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Juciene Batista Félix Andrade - UFRN
Kayann Gomes Batista - Doutorando (PPGArqueologia-UFPE)
Laise Vitória de Figueredo Souza - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Leandro Vieira Cavalcante - UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - UFRN
Maria Dolores de Araújo Vicente - SESC-Caicó/RN
Mario Sélio Ferreira de Brito - Escola Municipal Professora Maria Letícia Damasceno - SEMEC - Santana do Matos-RN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula - Câmara Municipal de Currais Novos-RN
Roselia Cristina de Oliveira - PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Rosenilson da Silva Santos - UERN
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN - Campus Apodi
Thales Lordão Dias - Doutorando (PPGH-UFRN)
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando em História dos Sertões - PPGHC-UFRN
Vitória Maria Targino Filgueiras - Mestranda em História dos Sertões - PPGHC/UFRN
Anais da VII Jornada Nacional de História dos Sertões / I Colóquio Internacional História dos Sertões e Outros Mundos ISBN 978-65-01-20988-3 Caicó - RN - 11 a 14 de novembro de 2024 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59374-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Ana Luísa Araújo Medeiros Bianca Ferreira do Nascimento Cleidiane de Araújo Oliveira Francisca Araújo Saraiva Gabriel da Silva Freire Gabriella Beatriz Freire Xavier Karollainy Kennya Dias de Medeiros Laíse Vitória de Figueredo Souza Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Aves de arribação”, do mestre Givanildo, de Bezerros-PE (@gxilogravuras).
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