O fenômeno da escravização ilegal variou muito no decorrer do tempo e no espaço, conformou-se aos contextos políticos, resistiu aos direitos de cidadania conquistados pelos descendentes de africanos e às legislações que estabeleciam a liberdade aos indígenas. A prática, já existente na América Portuguesa, sorrateiramente foi se alargando durante o período monárquico e se expandiu por toda sociedade brasileira, nos espaços privados e públicos, acomodada no interior dos domicílios e na rua, muitas vezes mascarada pelo comércio interprovincial e mesmo nas instituições públicas, que por princípio deveriam proteger os direitos dos cidadãos. A partir do cruzamento, principalmente, de matérias publicadas em jornais, mas também de outros documentos históricos, este trabalho procura investigar acerca do papel da imprensa na divulgação e na mediação dos conflitos ocorridos em torno da escravização ilegal e da reescravização, a partir da noção de saberes normativos, entendendo-a como espaço de produção de direito. Esta pesquisa também objetiva trazer à luz diferentes usos que empregados públicos, muitos deles políticos, ou que estavam imbricados nas redes clientelistas, fizeram da máquina estatal para favorecerem a consumação ou a impunidade do crime de reduzir pessoa livre à escravidão. Dentre os resultados alcançados com esta pesquisa, foi possível demonstrar que a atuação direta, ou a coparticipação de autoridades, como deputados, presidentes de província, chefes de polícia, delegados, juízes e promotores, que, por meio do exercício de suas funções, representavam o Estado, em casos de escravização e de reescravização ilegais, colaborou para a disseminação dessas práticas, dificultou a punição dos criminosos e também contribuiu para fortalecer o medo da escravização que existiu ao longo do século XIX e que se generalizou entre a população preta livre e liberta em meados do Oitocentos. No século XIX, reduzir pessoas livres à escravidão era um tipo de crime que, recebendo a devida publicidade na imprensa, podia abalar a reputação de funcionários públicos e criar obstáculos, ainda que superáveis, para aqueles que ambicionassem ingressar ou se manter na carreira política. Foi possível observar a construção de uma opinião pública acerca do tema, na imprensa, principalmente na segunda metade do século XIX. Tanto escravizadores quanto escravizados, por meio de seus “protetores”, apelaram para a opinião pública, construída a partir do conteúdo que era divulgado na imprensa e que circulava na sociedade, além do círculo dos leitores, com o intuito de ganharem adeptos às suas causas. A prática desse crime foi persistente e pode-se afirmar que frequentemente esses fatos vieram à tona estreitamente ligados às conjunturas políticas locais. As vítimas souberam explorar as possibilidades, no interior das relações clientelistas e das rivalidades políticas para levarem a luta pelos seus direitos à imprensa e ao campo da lei, sob a forma de processos cíveis ou criminais.
Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva - UFRN
Allyson Iquesac Santos de Brito - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Ana Maria Veiga - UFPB
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Beatriz Alves dos Santos – Doutoranda (PPGH/UFRN)
Bianca Ferreira do Nascimento - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira - Mestra (PPGHC/UFRN)
Fabio Mafra Borges - UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Gracineide Pereira dos Santos Oliveira - PDJ-CNPq/FAPERN/PPGHC-UFRN
Hozana Danize Lopes de Souza - Mestra (PPGHC-UFRN e PPGArqueologia-UFPE)
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestrando (PPGHC-UFRN)
Jessica Éveny Cardoso Martins - Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora de Fátima - Conceição-PB
João Paulo de Lima - Secretaria de Educação de Serra Negra do Norte - RN
Jovelina Silva Santos – UERN / PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Juciene Batista Félix Andrade - UFRN
Kayann Gomes Batista - Doutorando (PPGArqueologia-UFPE)
Laise Vitória de Figueredo Souza - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Leandro Vieira Cavalcante - UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - UFRN
Maria Dolores de Araújo Vicente - SESC-Caicó/RN
Mario Sélio Ferreira de Brito - Escola Municipal Professora Maria Letícia Damasceno - SEMEC - Santana do Matos-RN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula - Câmara Municipal de Currais Novos-RN
Roselia Cristina de Oliveira - PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Rosenilson da Silva Santos - UERN
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN - Campus Apodi
Thales Lordão Dias - Doutorando (PPGH-UFRN)
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando em História dos Sertões - PPGHC-UFRN
Vitória Maria Targino Filgueiras - Mestranda em História dos Sertões - PPGHC/UFRN
Anais da VII Jornada Nacional de História dos Sertões / I Colóquio Internacional História dos Sertões e Outros Mundos ISBN 978-65-01-20988-3 Caicó - RN - 11 a 14 de novembro de 2024 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59374-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Ana Luísa Araújo Medeiros Bianca Ferreira do Nascimento Cleidiane de Araújo Oliveira Francisca Araújo Saraiva Gabriel da Silva Freire Gabriella Beatriz Freire Xavier Karollainy Kennya Dias de Medeiros Laíse Vitória de Figueredo Souza Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Aves de arribação”, do mestre Givanildo, de Bezerros-PE (@gxilogravuras).
Versão condensada dos Anais para download em formato PDF Clique aqui para baixar