Mulheres nas encruzilhadas dos sertões adentro: guardiãs de saberes ancestrais

Mulheres nas encruzilhadas dos sertões adentro: guardiãs de saberes ancestrais

• Autor
• Ana Maria Veiga
• Resumo

• Esta pesquisa, realizada de forma afetiva, me levou a pegar a estrada em busca das trajetórias de mulheres localizadas entre os sertões norte-mineiro e baiano, em uma viagem que teve três meses de duração, tendo percorrido um amplo território. Entre as cidades escolhidas, destaco Montes Claros, Pirapora, Buritizeiro, São Francisco, Varzelândia, Jaíba e Porteirinha (todas em Minas Gerais), incluindo os quilombos Gorotuba e Buriti do Meio. Na Bahia, os municípios visitados foram Cachoeira, São Félix e Serrolândia. Posteriormente, na Paraíba, Cajazeiras, Itaporanga e Rio Tinto. Com mais de 7 mil km rodados, a descoberta de mulheres de grande relevância para suas comunidades se transformou em material audiovisual bruto coletado no intuito da produção do documentário intitulado "Guardiãs de saberes ancestrais". Tendo a produção audiovisual como metodologia e ponte de ligação entre a pesquisa e o ensino de história, a pesquisa aprendente, conforme Vânia Vasconcelos (2022), leva à busca e à produção de discussões teóricas capazes de embasar o não dito, ou o apagado da historiografia brasileira - a contraposição de epistemologias ancestrais aos moldes acadêmicos que as rejeitam e relegam a um lugar de passado. Entendo as sertanidades e os saberes sertanejos dessas mulheres como eixo fundamental para suas comunidades, é possível perceber a potência dos sertões como territórios de produção de saberes que chegam e se propagam no tempo presente. Este estudo aborda parteiras,  curandeiras, raizeiras, benzedeiras, que têm como material de cura as folhas, cascas, raízes e outros elementos da natureza - saberes "amefricanos" - que precederam a chegada da medicina formal e dos medicamentos provindos da indústria farmacêutica. Essas mulheres, atravessadas por vezes pela interseccionalidade de opressões, encontram-se nas encruzilhadas marcadas pelas categorias raça, gênero, classe e localização, na distância dos grandes centros ou mesmo nas cidades que permanecem afetadas pelos saberes populares ancestrais de cura e bem estar. Os chás, a fitoterapia, os banhos e lambedores, as prescrições caseiras fazem parte dos costumes de grande parte da população brasileira, embora estejam apartadas da historiografia do tempo presente. É contra a visão de "atraso" que esta pesquisa se coloca, ao valorizar e equiparar saberes e produção de conhecimento partindo dos sertões, e pelas mãos dessas mulheres. Como apoio, as teorias anticoloniais, principalmente aquelas produzidas por mulheres consideradas periféricas, tendo as margens como nosso centro, de interesses, epistemologias e outras sabidurias.

• Palavras-chave
• Mulheres sertanejas, Epistemologias ancestrais, Sertanidades, Guardiãs de saberes ancestrais
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Simpósio Temático 12 - Saberes na encruzilhada: sertanidades e (ins)urgências de gênero, raça e território

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