O presente texto diz respeito a uma experiência etnográfica vivenciada junto ao grupo de Associação Cultural Maracatu Nação Pé de Elefante da cidade de João Pessoa, na Paraíba, que atualmente também funciona como Ponto de Cultura na cidade. Fundado em 2008, o grupo desempenha um importante papel social no enfrentamento ao racismo. É nesse sentido que nosso texto se volta ao objetivo de demonstrar como a agência cultural do Pé de Elefante na região central da cidade assume múltiplas formas: articula o diálogo entre a vida urbana que se desenvolve no entorno da Associação à vida rural que margeia João Pessoa, na medida em que o grupo está ligado à religião da Jurema Sagrada e ao Candomblé. Ao levar às pessoas a conhecer essas expressões religiosas, a cada apresentação, o grupo de maracatu promove uma afrobetização, cuja potência pedagógica está a serviço da divulgação e valorização de elementos culturais do povo negro e indígena, plasmados na resistência da população pobre na região do Varadouro. Nossas observações feitas a partir de imersões etnográficas realizadas com o intuito de desenvolver uma pesquisa participativa para subsidiar a produção e curadoria de uma exposição fotográfica. Portanto, é preciso dizer que não tratamos de ciência no sentido cartesiano do termo. O que temos aqui é um ato de desobediência epistêmica que visa contribuir com a decolonização de nossos sentidos para que possamos nos abrir para os saberes que são produzidos para além dos muros da academia. Para além de nossa produção imagética que se apresenta nas fotografias produzidas, as quais são postas neste contexto como fontes históricas, o percurso que realizamos nos possibilitou inúmeras reflexões do ponto de vista da análise social. Unindo os sentidos de uma historiadora ao de uma artista e arte educadora, temos um entrelaçamento de formas de sentir o real que tenta se expressar para além da epistemologia e da arte, para produzir sentidos sobre a realidade e intervir nela em busca de contribuir para sua transformação. E aqui importa vislumbrar o Maracatu Pé de Elefante a partir de um olhar de encruzilhada que nos insta a interseccionar as relações de raça e classe a partir do agenciamento de saberes ancestrais que são (ri)(rea)tualizados no presente que é o tecido no qual urdiremos o bordado de nossas reflexões. A (re)existência no presente é também a manifestação de regimes de historicidade a partir dos quais se articulam diferentes experiências de temporalidades, nas quais o passado, enquanto ancestralidade, se presentifica como forma de agência que se inscreve numa importante dimensão de resistência cultural e política da população afro-brasileira e indígena, assumindo uma expressão que além de cultural e política é também pedagógica, à medida que se dedica no presente, a ensinar sobre a ancestralidade negra e indígena que pulsa no toque das alfaias, no ressoar dos taróis, que vibra no chacoalhar dos agbês e no cadenciamento do gonguê.
Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva - UFRN
Allyson Iquesac Santos de Brito - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Ana Maria Veiga - UFPB
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Beatriz Alves dos Santos – Doutoranda (PPGH/UFRN)
Bianca Ferreira do Nascimento - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira - Mestra (PPGHC/UFRN)
Fabio Mafra Borges - UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Gracineide Pereira dos Santos Oliveira - PDJ-CNPq/FAPERN/PPGHC-UFRN
Hozana Danize Lopes de Souza - Mestra (PPGHC-UFRN e PPGArqueologia-UFPE)
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestrando (PPGHC-UFRN)
Jessica Éveny Cardoso Martins - Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora de Fátima - Conceição-PB
João Paulo de Lima - Secretaria de Educação de Serra Negra do Norte - RN
Jovelina Silva Santos – UERN / PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Juciene Batista Félix Andrade - UFRN
Kayann Gomes Batista - Doutorando (PPGArqueologia-UFPE)
Laise Vitória de Figueredo Souza - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Leandro Vieira Cavalcante - UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - UFRN
Maria Dolores de Araújo Vicente - SESC-Caicó/RN
Mario Sélio Ferreira de Brito - Escola Municipal Professora Maria Letícia Damasceno - SEMEC - Santana do Matos-RN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula - Câmara Municipal de Currais Novos-RN
Roselia Cristina de Oliveira - PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Rosenilson da Silva Santos - UERN
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN - Campus Apodi
Thales Lordão Dias - Doutorando (PPGH-UFRN)
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando em História dos Sertões - PPGHC-UFRN
Vitória Maria Targino Filgueiras - Mestranda em História dos Sertões - PPGHC/UFRN
Anais da VII Jornada Nacional de História dos Sertões / I Colóquio Internacional História dos Sertões e Outros Mundos ISBN 978-65-01-20988-3 Caicó - RN - 11 a 14 de novembro de 2024 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59374-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Ana Luísa Araújo Medeiros Bianca Ferreira do Nascimento Cleidiane de Araújo Oliveira Francisca Araújo Saraiva Gabriel da Silva Freire Gabriella Beatriz Freire Xavier Karollainy Kennya Dias de Medeiros Laíse Vitória de Figueredo Souza Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Aves de arribação”, do mestre Givanildo, de Bezerros-PE (@gxilogravuras).
Versão condensada dos Anais para download em formato PDF Clique aqui para baixar