Manuel Correia de Andrade (1922 - 2007) figura como um dos geógrafos brasileiros mais importantes do século XX. Com estudos voltados para o regional, Andrade contribuiu com a geografia por meio de seus trabalhos associados às questões agrárias, às relações sociais de produção e aos movimentos sociais. A sua mais reconhecida obra, A terra e o homem no Nordeste (1963), é um importante referencial para uma interpretação geográfica do país e do Nordeste, de modo que a região revela dinâmicas próprias do todo territorial do Brasil. A partir disso, este trabalho visa realizar um estudo internalista do livro por meio da análise de conteúdo categorial para inferir os usos e operacionalizações do conceito de “sertão”, examinando como o autor o mobiliza para a construção de uma regionalização do espaço nordestino. Nessa perspectiva, o espaço sertanejo, para o autor, é concebido a partir do avanço de frentes coloniais, tendo a pecuária como principal atividade no desbravamento das áreas interioranas. O modo de criação extensivo e administrado por grandes latifundiários contribuiu, segundo o autor, para a consolidação de um “outro Nordeste”, expresso no espaço sertanejo. Andrade constitui a hinterlândia nordestina por meio de adjetivos como o isolamento geográfico, a especialização econômica, o clima semiárido, os gêneros de vida precários, a grande concentração fundiária e a variedade de relações sociais de produção existentes, sendo este último muito operacionalizado pelo autor. Para o geógrafo, as relações de remuneração não capitalistas e envoltas de sujeições caracterizariam fortemente o sertão, expressas nas atividades investigadas por ele como o “cambão”, a “meação” e a “quarteação”. Tais ocupações estariam associadas à agricultura e pecuária da região, sendo refletidas na estrutura social e economia do sertão. Contudo, segundo o autor, mesmo com o desenvolvimento de sucessivos ciclos econômicos e de atividades sui generis, estava este espaço sujeito ao abandono estatal e a preservação de verdadeiros anacronismos expressos nas relações sociais de produção de meeiros, arrendatários e vaqueiros. Sendo assim, torna-se evidente que a gama de adjetivos mobilizados por Andrade para constituir o sertão imbricam com a materialidade do Semiárido, refletindo muito a construção e captura do conceito sertanejo para o interior nordestino. Dessa forma, seja resgatando construções sociais ou atribuindo características próprias, Andrade constituiu, ao seu modo, uma categoria geográfica sertaneja capaz de ser utilizada na interpretação de recortes maiores, indo da parte para interpretar o todo. Compreende-se, por fim, que o “sertão” em A terra e o homem no Nordeste situa-se no processo que Albuquerque Júnior (2019) nomeia de “rapto” do sertão pelo regionalismo nordestino, não mais referindo-se genericamente aos espaços de expansão colonial, mas estreitamente vinculado aos espaços semiáridos nordestinos delimitados na sub-região sertaneja discutida pelo autor.
Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva - UFRN
Allyson Iquesac Santos de Brito - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Ana Maria Veiga - UFPB
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Beatriz Alves dos Santos – Doutoranda (PPGH/UFRN)
Bianca Ferreira do Nascimento - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira - Mestra (PPGHC/UFRN)
Fabio Mafra Borges - UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire - Mestrando (PPGHC/UFRN)
Gracineide Pereira dos Santos Oliveira - PDJ-CNPq/FAPERN/PPGHC-UFRN
Hozana Danize Lopes de Souza - Mestra (PPGHC-UFRN e PPGArqueologia-UFPE)
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestrando (PPGHC-UFRN)
Jessica Éveny Cardoso Martins - Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora de Fátima - Conceição-PB
João Paulo de Lima - Secretaria de Educação de Serra Negra do Norte - RN
Jovelina Silva Santos – UERN / PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Juciene Batista Félix Andrade - UFRN
Kayann Gomes Batista - Doutorando (PPGArqueologia-UFPE)
Laise Vitória de Figueredo Souza - Mestranda (PPGHC/UFRN)
Leandro Vieira Cavalcante - UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - UFRN
Maria Dolores de Araújo Vicente - SESC-Caicó/RN
Mario Sélio Ferreira de Brito - Escola Municipal Professora Maria Letícia Damasceno - SEMEC - Santana do Matos-RN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula - Câmara Municipal de Currais Novos-RN
Roselia Cristina de Oliveira - PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN
Rosenilson da Silva Santos - UERN
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN - Campus Apodi
Thales Lordão Dias - Doutorando (PPGH-UFRN)
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando em História dos Sertões - PPGHC-UFRN
Vitória Maria Targino Filgueiras - Mestranda em História dos Sertões - PPGHC/UFRN
Anais da VII Jornada Nacional de História dos Sertões / I Colóquio Internacional História dos Sertões e Outros Mundos ISBN 978-65-01-20988-3 Caicó - RN - 11 a 14 de novembro de 2024 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59374-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Ana Luísa Araújo Medeiros Bianca Ferreira do Nascimento Cleidiane de Araújo Oliveira Francisca Araújo Saraiva Gabriel da Silva Freire Gabriella Beatriz Freire Xavier Karollainy Kennya Dias de Medeiros Laíse Vitória de Figueredo Souza Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Aves de arribação”, do mestre Givanildo, de Bezerros-PE (@gxilogravuras).
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