Rios e sertões na Bahia: contrastes da paisagem sertaneja nos textos jornalísticos de Milton Santos (1950-1960)

  • Autor
  • Bárbara Santos
  • Co-autores
  • Thiago Adriano Machado
  • Resumo
  • A obra de Milton Santos (1926-2001) é bastante explorada na Geografia brasileira com ênfase nas suas contribuições epistemológicas sobre o espaço geográfico e nos textos em que discutiu a globalização. No entanto, o trabalho aqui proposto tem por escopo analisar uma fase inicial de sua atividade profissional, entre 1948 e 1964, na qual se dedicou aos estudos regionais da Bahia e ao planejamento regional, combinando a atuação acadêmica ao planejamento e ao jornalismo. Analisamos os artigos publicados no jornal A Tarde, da Bahia, e reunidos no livro Milton Santos: correspondente do Jornal A Tarde 1950-1960, organizado por Maria Auxiliadora da Silva e William Antunes (2019). A partir de tal material, buscamos verificar como o autor representa as paisagens sertanejas da Bahia e situa o papel dos rios nesse quadro geográfico. Como resultado, identificamos um contraste entre as imagens elaboradas dos “rios” e dos “sertões”, que ora reforçam leituras consolidadas do sertão como área inóspita e de difícil acesso, ora apontam para as potencialidades técnicas dos usos dos rios, sobretudo o São Francisco. Em artigo publicado em 1949 e intitulado Em defesa da Bahia, Santos lida com o sertão ao modo dos fundos territoriais descritos por Moraes (2011), atribuindo à obra de bandeirantes paulistas e baianos o desbravamento dos “ínvios sertões” habitados por “índios rebeldes”. Posicionando-se em favor da Bahia na disputa territorial com Pernambuco pela comarca do São Francisco, Santos ressalta os “inúmeros recursos”, “a força hidráulica” e o “poder fertilizante” do rio. Tal interpretação é desenvolvida em textos seguintes como A colonização do São Francisco e Panorama do São Francisco baiano, publicados em maio e junho de 1951, respectivamente. Aqui os latifúndios são descritos como fator da existência desse “opulento deserto”, dos “domínios de anecúmeno” e de “vastas regiões desabitadas”. Em contraste, o rio é descrito como “o único elemento da vida na paisagem”, “o seu fator dominante” e a sua “marca indelével” em meio a uma “monotonia das cores tão parecidas com a morte” (Santos, 2019, p. 114). O contraste rio-sertão é evidente também numa série de cinco artigos publicada em novembro de 1959 na qual relata uma excursão geográfica bacia do rio Paraguaçu. Intitulado de Sertão em fogo, a série de artigos descreve a paisagem da depressão intermontana pela secura das árvores cinzentas, “plantas que se mascaram fingindo de mortas” (Santos, 2019, p. 163). Por outro lado, o rio Paraguaçu é descrito como “fonte de esperanças”, já que durante os períodos de estiagem “o velho Paraguaçu é um traço de vida em meio à desolação” (Santos, 2019, p. 164). Recuperar estes escritos têm relevância para recompor um período importante da formação de Milton Santos como geógrafo em meio ao confronto de perspectivas teóricas concorrentes na década de 1950 e para ressaltar a sua reflexão própria sobre o lugar do “sertão” na formação territorial brasileira.

     

  • Palavras-chave
  • Milton Santos, sertão, rio São Francisco, paisagem geográfica
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Simpósio Temático 1 - Espaço e Natureza e Cultura nos sertões
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  • Simpósio Temático 5 - História dos Sertões: escravidão, mestiçagens e trajetórias (séculos XVIII-XIX)
  • Simpósio Temático 6 – Sertões, Educação e processos de interiorização
  • Simpósio Temático 7 - Dinâmicas ambientais e territoriais do sertão semiárido
  • Simpósio Temático 8 – História indígena e ensino de História
  • Simpósio Temático 9 - Relações de poder, práticas políticas e imprensa
  • Simpósio Temático 10 – Política, Cultura e Desenvolvimento: Diálogos sobre a atuação estadunidense no Rio Grande do Norte nas décadas de 1960-1970
  • Simpósio Temático 11 – Terra, Água e Poder: os conflitos nos sertoes do semiarido na contemporaneidade
  • Simpósio Temático 12 - Saberes na encruzilhada: sertanidades e (ins)urgências de gênero, raça e território
  • Simpósio Temático 13 – História dos Sertões do Brasil no século XIX
  • Simpósio Temático 14 - Dinâmicas populacionais e territorialização dos sertões: processos históricos e demográficos (séculos XVI-XIX)
  • Simpósio Temático 15 - Os sertões a partir da materialidade: abordagens e perspectivas
  • Simpósio Temático 16 - História e quadrinhos: o uso dos quadrinhos como fonte histórica e recurso didático
Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva - UFRN

Allyson Iquesac Santos de Brito - Mestrando (PPGHC/UFRN)

Ana Maria Veiga - UFPB

Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN

Beatriz Alves dos Santos – Doutoranda (PPGH/UFRN)

Bianca Ferreira do Nascimento - Mestranda (PPGHC/UFRN)

Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB

Cleidiane de Araújo Oliveira - Mestra (PPGHC/UFRN)

Fabio Mafra Borges - UFRN

Francisco Firmino Sales Neto - UFCG

Gabriel da Silva Freire - Mestrando (PPGHC/UFRN)

Gracineide Pereira dos Santos Oliveira - PDJ-CNPq/FAPERN/PPGHC-UFRN

Hozana Danize Lopes de Souza - Mestra (PPGHC-UFRN e PPGArqueologia-UFPE)

Jailma Maria de Lima - UFRN

Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestrando (PPGHC-UFRN)

Jessica Éveny Cardoso Martins - Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora de Fátima - Conceição-PB

João Paulo de Lima - Secretaria de Educação de Serra Negra do Norte - RN

Jovelina Silva Santos – UERN / PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN

Juciene Batista Félix Andrade - UFRN

Kayann Gomes Batista - Doutorando (PPGArqueologia-UFPE)

Laise Vitória de Figueredo Souza - Mestranda (PPGHC/UFRN)

Leandro Vieira Cavalcante - UFRN

Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - UFRN

Maria Dolores de Araújo Vicente - SESC-Caicó/RN

Mario Sélio Ferreira de Brito - Escola Municipal Professora Maria Letícia Damasceno - SEMEC - Santana do Matos-RN

Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula - Câmara Municipal de Currais Novos-RN

Roselia Cristina de Oliveira - PDPG-CAPES/PPGHC-UFRN

Rosenilson da Silva Santos - UERN

Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN - Campus Apodi

Thales Lordão Dias - Doutorando (PPGH-UFRN)

Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando em História dos Sertões - PPGHC-UFRN

Vitória Maria Targino Filgueiras - Mestranda em História dos Sertões - PPGHC/UFRN

Anais da VII Jornada Nacional de História dos Sertões / I Colóquio Internacional História dos Sertões e Outros Mundos
ISBN 978-65-01-20988-3
Caicó - RN - 11 a 14 de novembro de 2024

Realização
Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó
Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo
Caicó-RN – CEP 59374-000
E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br 

Organizadores
Helder Alexandre Medeiros de Macedo
Joel Carlos de Souza Andrade
Ana Luísa Araújo Medeiros
Bianca Ferreira do Nascimento
Cleidiane de Araújo Oliveira
Francisca Araújo Saraiva
Gabriel da Silva Freire
Gabriella Beatriz Freire Xavier
Karollainy Kennya Dias de Medeiros
Laíse Vitória de Figueredo Souza
Tatiane Medeiros Alves

Identidade visual
Inspirada na xilogravura “Aves de arribação”, do mestre Givanildo, de Bezerros-PE (@gxilogravuras).

 

Versão condensada dos Anais para download em formato PDF
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