Entre o absurdo e o sagrado: hierofanias sertanejas em Como Pedra

  • Autor
  • LUÍS GOMES NETO
  • Resumo
  •  

    O presente trabalho analisa a história em quadrinhos Como Pedra (Luckas Iohanathan, Comix Zone, 2023), a partir das representações do Sertão, da religiosidade e da metáfora do absurdo. A obra, que se inicia com a célebre citação de Albert Camus — “É preciso imaginar Sísifo feliz” —, traz uma narrativa visual e filosófica que entrelaça a aridez da paisagem sertaneja ao esforço cotidiano de seus personagens. Nesse sentido, a HQ permite refletir sobre o Sertão como território simbólico e existencial, no qual o sagrado se manifesta em meio à vida profana. A análise articula a filosofia do absurdo de Camus e a crítica de Durval Muniz de Albuquerque Júnior às representações cristalizadas do Sertão, entendido não como essência, mas como construção discursiva e histórica. Somam-se a esse conjunto os aportes de Scott McCloud sobre a linguagem dos quadrinhos, e o conceito de hierofania, conforme Mircea Eliade, para compreender como a religiosidade da personagem central constitui uma experiência do sagrado que emerge da resistência e do cotidiano. O gesto humano de persistir diante da adversidade é interpretado como manifestação do sagrado, ou seja, uma hierofania inscrita na própria existência. Metodologicamente, a pesquisa se apoia na análise qualitativa da narrativa gráfica, observando enquadramentos, paleta de cores, ritmo e uso das sarjetas, em articulação com as dimensões simbólicas e filosóficas da obra. O predomínio de tons terrosos e alaranjados reforça a materialidade do Sertão, enquanto as pausas entre quadros evocam o ritmo árido e contemplativo da vida sertaneja. Nesses momentos da narrativa construída pelo autor, o cotidiano se converte em experiência do sagrado. Assim, a HQ transforma gestos, cores e silêncios visuais em hierofanias, nas quais a resistência humana revela um sagrado imanente, inscrito na própria existência. Conclui-se que a HQ, ao articular estética, filosofia e religiosidade, propõe uma leitura renovada do Sertão, evidenciando o potencial das narrativas gráficas para expressar hierofanias contemporâneas, nas quais o sagrado se revela na luta humana por sentido diante do absurdo.

  • Palavras-chave
  • Hierofania, História em quadrinhos, Sertão, Religiosidade.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Encontro de Saberes 9 – O sagrado em movimento: espaços, devoções e experiências religiosas
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  • Encontro de Saberes 1 - Pelas veredas do Brasil interior: memórias, experiências e sujeitos nos sertões do século XX
  • Encontro de Saberes 2 - Relações de poder, práticas políticas e imprensa
  • Encontro de Saberes 3 – Sertões, educação, saúde e processos de interiorização
  • Encontro de Saberes 4 – História indígena e ensino de História
  • Encontro de Saberes 5 - História da família, das mestiçagens e da escravidão em espaços sertanejos
  • Encontro de Saberes 6 - Sertões folclóricos: saberes, práticas e representações do espaço sertanejo a partir do discurso regionalista
  • Encontro de Saberes 7 - Terra, Água e Território: Conflitos e Resistências no Sertão Semiárido
  • Encontro de Saberes 8 – História, Turismo e Patrimônio Cultural: memórias e narrativas dos/sobre os Sertões
  • Encontro de Saberes 9 – O sagrado em movimento: espaços, devoções e experiências religiosas
  • Encontro de Saberes 10 - Mulheres, crimes e violência: olhares para o corpo feminino sob a esfera judicial
  • Encontro de Saberes 11 – História, gênero e sertões
  • Encontro de Saberes 12 - A Invenção do Sertão em Mídias Digitais e Telas: Discursos e Identidades Contemporâneas
  • Encontro de Saberes 13 - Contribuições dos Arquivos Digitais às Investigações em História da Educação, História da Matemática e História da Educação Matemática

Allyson Iquesac Santos de Brito – Mestre - PPGHC/UFRN
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Bianca Ferreira do Nascimento – Mestra - PPGHC-UFRN
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira – Doutoranda - PPGH-UFRN
Durval Muniz de Albuquerque Junior – UFRN
Eduardo Cristiano Hass da Silva - UFRN
Franciely de Lucena Medeiros – Doutoranda - PPGH-UFRN
Francisca Araujo Saraiva – Mestranda - PPGHC/UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire – Mestre - PPGHC-UFRN
Helder Alexandre Medeiros Macedo – UFRN
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestre - PPGHC-UFRN
Jessica Éveny Cardoso Martins – Mestranda - PPGHC-UFRN
Jovelina Silva Santos - UERN
Juciene Batista Félix Andrade – UFRN
Karollainy Kannya Dias de Medeiros – Mestranda - PPGHC/UFRN
Laisa Fernanda Santos de Farias - Doutora - UFRN
Laíse Vitória de Figueredo Souza – Mestranda– PPGHC-UFRN
Leandro Vieira Cavalcante – UFRN
Luan de Sousa Batista - Mestrando - PPGHC/UFRN
Luana Barros de Azevedo – Doutoranda – PPGH-UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Joedna Rodrigues Marques – Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Maroni Lopes - UFRN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula (MEMA) - Câmara Municipal de Currais Novos (CMCN)
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN
Tatiane Medeiros Alves – Mestranda - PPGHC/UFRN
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando - PPGHC - UFRN
Vitoria Maria Targino Filgueiras – Mestra - PPGHC-UFRN
Anais da VIII Jornada Nacional de História dos Sertões - O sertão e o mundo: interculturalidades
ISBN 978-65-985933-5-3
Caicó - RN - 04 a 07 de novembro de 2025

Realização
Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó
Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo
Caicó-RN – CEP 59300-000
E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br 

Organizadores
Helder Alexandre Medeiros de Macedo
Joel Carlos de Souza Andrade
Francisca Araújo Saraiva
Gabriely késia de Oliveira Lôa
Ismara Morais da Silva
Karollainy Kennya Dias de Medeiros
Leidiane Francelina Batista
Luana Beatriz de Assis Ferreira
Paula Roberta Maia de Oliveira
Rian Felipe Dutra Diniz
Tatiane Medeiros Alves

Identidade visual
Inspirada na xilogravura “Juazeiro”, do mestre Gustavo Borges, de Bezerros-PE (@xilo_gustavoborges).