A partir da década de 1960, a área da História ampliou seu foco, reconhecendo que as enfermidades também são parte integrante do percurso humano. Conforme aponta o historiador Jacques Le Goff, uma doença é mais do que apenas um conceito abstrato ou uma realidade biológica, sendo fatal e efêmera, o que levanta a questão de onde foram parar, por exemplo, as febres terçãs e quartãs comuns em gerações passadas.
Nesse contexto, entre 1862 e 1877, a Província do Ceará enfrentou um período desastroso marcado por secas, fome e, principalmente, uma sucessão de doenças. O cólera-morbus, em particular, disseminou-se pela província, gerando um ambiente de grande temor, ameaça e contaminação generalizada. Outras moléstias, como a varíola, a febre amarela e as diarreias, agravaram a situação de calamidade.
A ideia central é que, assim como a própria História, a doença é também uma construção cultural e social, cujas manifestações e características são inerentes a cada época, um princípio que se aplica perfeitamente ao surto de cólera no Ceará.
Dando destaque para essa doença, que causou milhões de mortes no Brasil oitocentista. Sua forma de manifestação é o que mais ocasionou a “infestação” completa, cuja transmissão ocorreu pelo consumo de água ou alimentos contaminados pela bactéria vibrio cholerae, nome inspirado no seu formato, a lembrar uma vírgula. Ao instalar-se no intestino humano, a bactéria causa, após período típico de incubação de um a quatro dias, náuseas, cólicas abdominais, vômitos e violenta diarreia, o que ocasiona intensa perda de sais minerais e água.
Dessa maneira, a pesquisa tem por objetivo analisar como a doença, relacionada com a fome e a seca estão relacionadas historicamente, e como o acontecimento natural permite uma leitura do social, tendo em vista a moldagem para a saúde pública da época, com seus meios de prevenção, estigmas e representações. Metodologicamente o material documental será examinado a partir da análise de discurso na perspectiva de Michel Foucault (2004). Como fontes, utilizaremos: os relatórios de Presidentes de Província, as Leis Provinciais, a leitura dos Ofícios da Câmara do Crato e Barbalha, e uma breve análise do jornal O Cearense, além da análise de bibliografias relacionadas a pesquisa. Com alguns resultados podemos direcionar para os periódicos, que além de trazerem as localidades que alguns “males” apareciam, também citavam os modos de tratamento. No ano de 1862, o Araripe, no dia 20 de abril trazia em seu número de 284 os meios de medicação que eram usados no Pará. Sendo alguns “macela, casca de quina, casca de paó ferro, raiz de mangerioba, folha de ortelã [...]” (p.1) além da água ardente que era essencial para mistura. Em suma, o trabalho apresenta uma relevante reflexão sobre como a tríade doença-fome-seca foi mobilizada historicamente para reproduzir estruturas de poder, naturalizar sofrimentos sociais e promover políticas de contenção sob o disfarce do progresso.
Allyson Iquesac Santos de Brito – Mestre - PPGHC/UFRN
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Bianca Ferreira do Nascimento – Mestra - PPGHC-UFRN
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira – Doutoranda - PPGH-UFRN
Durval Muniz de Albuquerque Junior – UFRN
Eduardo Cristiano Hass da Silva - UFRN
Franciely de Lucena Medeiros – Doutoranda - PPGH-UFRN
Francisca Araujo Saraiva – Mestranda - PPGHC/UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire – Mestre - PPGHC-UFRN
Helder Alexandre Medeiros Macedo – UFRN
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestre - PPGHC-UFRN
Jessica Éveny Cardoso Martins – Mestranda - PPGHC-UFRN
Jovelina Silva Santos - UERN
Juciene Batista Félix Andrade – UFRN
Karollainy Kannya Dias de Medeiros – Mestranda - PPGHC/UFRN
Laisa Fernanda Santos de Farias - Doutora - UFRN
Laíse Vitória de Figueredo Souza – Mestranda– PPGHC-UFRN
Leandro Vieira Cavalcante – UFRN
Luan de Sousa Batista - Mestrando - PPGHC/UFRN
Luana Barros de Azevedo – Doutoranda – PPGH-UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Joedna Rodrigues Marques – Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Maroni Lopes - UFRN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula (MEMA) - Câmara Municipal de Currais Novos (CMCN)
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN
Tatiane Medeiros Alves – Mestranda - PPGHC/UFRN
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando - PPGHC - UFRN
Vitoria Maria Targino Filgueiras – Mestra - PPGHC-UFRN
Anais da VIII Jornada Nacional de História dos Sertões - O sertão e o mundo: interculturalidades ISBN 978-65-985933-5-3 Caicó - RN - 04 a 07 de novembro de 2025 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59300-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Francisca Araújo Saraiva Gabriely késia de Oliveira Lôa Ismara Morais da Silva Karollainy Kennya Dias de Medeiros Leidiane Francelina Batista Luana Beatriz de Assis Ferreira Paula Roberta Maia de Oliveira Rian Felipe Dutra Diniz Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Juazeiro”, do mestre Gustavo Borges, de Bezerros-PE (@xilo_gustavoborges).