Conquista pela terra: os sertões de dentro enquanto espaço disputado pelas missões religiosas no final do século XVII

Conquista pela terra: os sertões de dentro enquanto espaço disputado pelas missões religiosas no final do século XVII

• Autor
• Luana Beatriz de Assis Ferreira
• Resumo

• O seguinte estudo apresenta como objetivo principal compreender a espacialidade dos sertões de dentro da América portuguesa ao longo dos processos de expansão territorial, sobretudo com as missões capuchinhas francesas ao longo do rio São Francisco entre as décadas de 1670 a 1680. Para isso, foi realizada a análise das fontes principais, o Katecismo Indico da Lingua Kariris (1709) e a Relação de uma missão no rio São Francisco (1706) – ambas produzidas por missionários que atuaram na região durante o recorte temporal definido –, juntamente com um diálogo teórico com bibliografias dentro da lente conceitual de sertões, missões, conversão e projeto colonial. Segundo Capistrano de Abreu, os interiores das capitanias do norte percebiam uma constante movimentação política por controle e poder e, dessa forma, foi possível diferenciar esses territórios em sertões de dentro e de fora. Os sertões de dentro serão identificados como o recorte espacial em que os freis Martinho de Nantes e Bernardo de Nantes irão atuar nos seus trabalhos de catequese com os povos indígenas kariris entre 1671 a 1687, estendendo-se às margens do médio São Francisco, entre as fronteiras das capitanias de Pernambuco e da Bahia. O estudo das fontes traz a elucidação da ação dos missionários nos aldeamentos de Pambu, Aracapá e Cavalo e que, de acordo com os registros dos autores, essas populações estavam muito “dentro nos sertões” e afastados da “civilização” do litoral e, portanto, elas não tinham contato com a língua portuguesa e os hábitos europeus, caracterizando-os enquanto “rudes” e “bárbaros”. Diante disso, nota-se uma aproximação do espaço territorial dos sertões de dentro vinculado às construções clássicas sobre o sertão, como o interior que é morada dos tapuias debatido pelo geógrafo Antonio Robert Moraes, mas também abre espaço para novas interpretações. Conforme a antropóloga Maria Cristina Pompa, os sertões da América portuguesa apresentam um caráter móvel e são moldados a partir das relações sociais estabelecidas nele. Já a historiadora Ane Luise Mecenas, o sertão é entendido enquanto um espaço de conversão durante o período colonial, sendo um agente ativo dos processos de evangelização por ser o principal palco de disputa entre o poder religioso (na liderança das diversas ordens religiosas atuantes) e o poder colonial (sob controle dos colonos, proprietários de terra e fazendeiros). Dessa forma, observa-se o aspecto plural presente na construção dos sertões de dentro, sobretudo entre os confrontos por influência espacial, mas também eles são espaços diversos, com complexas relações sociais e um importante papel para a compreensão dessa temporalidade na história.

• Palavras-chave
• Disputa, Espaço, Sertões de dentro
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Encontro de Saberes 4 – História indígena e ensino de História

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