Imprensa Negra, Sertões e Filosofia da Resistência: O JORNEGRO como Fonte Histórica e Epistemologia Insurgente na Ditadura Civil-Militar Brasileira

Imprensa Negra, Sertões e Filosofia da Resistência: O JORNEGRO como Fonte Histórica e Epistemologia Insurgente na Ditadura Civil-Militar Brasileira

• Autor
• Heitor Filipe de Medeiros Santos
• Resumo

• Este artigo investiga o periódico JORNEGRO, veículo do Movimento Negro Unificado (MNU), como fonte histórica e produção filosófica insurgente no contexto da ditadura civil-militar brasileira (1964–1985), analisando-o não apenas como documento jornalístico, mas como acontecimento epistêmico e ato político de reconfiguração do lugar da população negra na história nacional. Em meio ao regime autoritário que mobilizou o mito da democracia racial para ocultar a violência estrutural contra os corpos negros, o JORNEGRO emerge como território discursivo de resistência, denunciando o genocídio da população negra, a continuidade da colonialidade do poder e a necropolítica estatal. O jornal reivindica a memória como arma de luta, ressignifica a experiência da escravidão e da abolição inconclusa e convoca a construção de uma consciência negra coletiva, fundada no quilombismo, na ancestralidade e na autodeterminação dos povos afro-brasileiros. Ao analisar as edições de 1978 e 1979 por meio de abordagem qualitativa documental e hermenêutica crítica, fundamentada em autores como Frantz Fanon, Lélia Gonzalez, Abdias do Nascimento, Achille Mbembe e Kabengele Munanga, evidencia-se que o periódico não se limita à denúncia, mas propõe um projeto político de nação a partir da centralidade do povo negro como sujeito histórico e ontológico. O JORNEGRO territorializa a resistência ao evidenciar a interiorização do movimento negro, inscrevendo os sertões como espaço de produção epistêmica e continuidade de práticas quilombolas, desafiando a narrativa historiográfica que marginaliza o interior como periferia. O jornal se afirma como quilombo discursivo, no qual a palavra impressa torna-se instrumento de libertação e elaboração de uma filosofia política negra que confronta a colonialidade do Estado brasileiro. Os resultados demonstram que a imprensa negra foi decisiva na rearticulação das lutas antirracistas durante o autoritarismo, atuando como mediadora da formação de consciência e como construção de um imaginário coletivo insurgente. Conclui-se que o JORNEGRO constitui fonte histórica fundamental para compreender o protagonismo negro no período da ditadura e, simultaneamente, configura uma ontologia política de resistência, onde a luta por memória, território e futuro aparece como horizonte emancipatório de um novo projeto de país, enraizado não na narrativa da harmonia racial, mas na afirmação radical da vida negra como centro da nação.

   

• Palavras-chave
• Imprensa negra, Ditadura civil-militar, Quilombismo, Consciência negra, Sertões.
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Encontro de Saberes 2 - Relações de poder, práticas políticas e imprensa

Voltar