Este trabalho tem como objetivo compreender os conceitos de patrimônio material e imaterial a partir do estudo de uma comunidade da zona rural do município de Jucurutu, no estado do Rio Grande do Norte. A proposta é relacionar o ambiente natural aos comportamentos, práticas e costumes do homem seridoense do campo, evidenciando como a leitura sensível desses elementos pode ampliar o âmbito dos estudos do patrimônio histórico-cultural, numa perspectiva de valorização da história local. Nesse sentido, buscou-se inserir essa história local por meio de um olhar arqueológico e antropológico, investigando os valores simbólicos e as memórias que as pessoas depositam no ambiente, mesmo que, em muitos casos, este não receba reconhecimento formal por meio de tombamento ou registro oficial. Partimos da problemática de que, mesmo em espaços que não são reconhecidos e/ou tombados pela legislação do patrimônio, há valores culturais enraizados e, muitas vezes, invisibilizados. É o caso das relações de pertencimento e identidade das pessoas da comunidade Camilos, com as formações rochosas (lajedos e afloramentos) da paisagem sertaneja ou simplesmente “pedras”. A metodologia adotada baseia-se em uma abordagem interdisciplinar, com ênfase na história oral e na etnografia sensível, na qual partimos dos relatos orais de moradores da comunidade, que se mostraram fundamentais para a construção de uma narrativa própria. Falas transmitidas de geração em geração funcionaram como registros vivos da memória coletiva, revelando significados atribuídos a elementos naturais como pedras, trilhas e formações geológicas. Foram utilizados aportes teóricos de autores como Ailton Krenak, cuja experiência com a relação entre natureza e cultura é central para a compreensão do território como espaço de vida, e Paul Thompson, que destaca a importância da história oral como forma de ampliar o campo da história e incluir as vozes dos sujeitos comuns, além de estudos de arqueólogos e antropólogos que discutem o conceito de arqueologia da paisagem e patrimônio simbólico. Os resultados apontam que, mesmo sem reconhecimento institucional, os elementos naturais da comunidade são vivenciados como patrimônio pelos moradores. Essas pedras, por exemplo, são associadas a promessas, orações, encontros e lembranças, funcionando como marcos de identidade e pertencimento, sendo a paisagem, nesse sentido, um arquivo vivo da memória local. Conclui-se que reconhecer esses espaços não oficiais é uma forma de resistência ao apagamento cultural do sertão. Além disso, este estudo reforça a importância de ampliar o conceito de patrimônio, valorizando os saberes e afetos das comunidades rurais. Por fim, destaca-se a necessidade de uma educação patrimonial que promova o diálogo entre história, arqueologia e os saberes do campo.
Allyson Iquesac Santos de Brito – Mestre - PPGHC/UFRN
Ane Luíse Silva Mecenas Santos - UFRN
Bianca Ferreira do Nascimento – Mestra - PPGHC-UFRN
Claúdia Cristina do Lago Borges - UFPB
Cleidiane de Araújo Oliveira – Doutoranda - PPGH-UFRN
Durval Muniz de Albuquerque Junior – UFRN
Eduardo Cristiano Hass da Silva - UFRN
Franciely de Lucena Medeiros – Doutoranda - PPGH-UFRN
Francisca Araujo Saraiva – Mestranda - PPGHC/UFRN
Francisco Firmino Sales Neto - UFCG
Gabriel da Silva Freire – Mestre - PPGHC-UFRN
Helder Alexandre Medeiros Macedo – UFRN
Jailma Maria de Lima - UFRN
Jardel Bezerra Araújo da Silva - Mestre - PPGHC-UFRN
Jessica Éveny Cardoso Martins – Mestranda - PPGHC-UFRN
Jovelina Silva Santos - UERN
Juciene Batista Félix Andrade – UFRN
Karollainy Kannya Dias de Medeiros – Mestranda - PPGHC/UFRN
Laisa Fernanda Santos de Farias - Doutora - UFRN
Laíse Vitória de Figueredo Souza – Mestranda– PPGHC-UFRN
Leandro Vieira Cavalcante – UFRN
Luan de Sousa Batista - Mestrando - PPGHC/UFRN
Luana Barros de Azevedo – Doutoranda – PPGH-UFRN
Maria Alda Jana Dantas de Medeiros - Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Joedna Rodrigues Marques – Doutoranda - PPGH-UFRN
Maria Maroni Lopes - UFRN
Matheus Barbosa Santos - Memorial Mateus de Medeiros Lula (MEMA) - Câmara Municipal de Currais Novos (CMCN)
Sarah Campelo Cruz Gois - IFRN
Tatiane Medeiros Alves – Mestranda - PPGHC/UFRN
Vitor Vinicius Rodrigues Bezerra - Mestrando - PPGHC - UFRN
Vitoria Maria Targino Filgueiras – Mestra - PPGHC-UFRN
Anais da VIII Jornada Nacional de História dos Sertões - O sertão e o mundo: interculturalidades ISBN 978-65-985933-5-3 Caicó - RN - 04 a 07 de novembro de 2025 Realização Programa de Pós-Graduação em História do CERES (PPGHC-UFRN) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Caicó Prédio das Pós-Graduações – Rua Joaquim Gregório, sn, Penedo Caicó-RN – CEP 59300-000 E-mail: sertoes@ceres.ufrn.br Organizadores Helder Alexandre Medeiros de Macedo Joel Carlos de Souza Andrade Francisca Araújo Saraiva Gabriely késia de Oliveira Lôa Ismara Morais da Silva Karollainy Kennya Dias de Medeiros Leidiane Francelina Batista Luana Beatriz de Assis Ferreira Paula Roberta Maia de Oliveira Rian Felipe Dutra Diniz Tatiane Medeiros Alves Identidade visual Inspirada na xilogravura “Juazeiro”, do mestre Gustavo Borges, de Bezerros-PE (@xilo_gustavoborges).