O sertanejo diante do medo: o “cabra-macho” no terror/horror nordestino de Márcio Benjamin

O sertanejo diante do medo: o “cabra-macho” no terror/horror nordestino de Márcio Benjamin

• Autor
• Fabiana Alves Dantas
• Resumo

• Este trabalho versa sobre a maneira como a figura do “cabra-macho” associada ao sertanejo nordestino é apresentada em obras literárias atuais do gênero terror/horror, constituindo um recorte de uma pesquisa ora em desenvolvimento para uma tese de doutorado. Com base nos estudos de Durval Muniz de Albuquerque Júnior que versam sobre a invenção do Nordeste, entendendo-a como um processo de elaboração imagético-discursiva sobre a região definida no início do século XX, compreende-se, neste estudo, que a vinculação do sertanejo nordestino à noção de “cabra-macho” constitui uma das imagens e discursos construídos historicamente acerca do referido recorte espacial. Apontando a relevância das obras literárias no processo de elaboração e disseminação de tal noção, realiza-se a análise desse aspecto na obra do escritor Márcio Benjamin (Natal/RN, 23 de fevereiro de 1980), conhecido como referência no gênero terror/horror atual e que destaca-se no cenário literário nacional pela proposta de desenvolver narrativas assustadoras ambientadas no sertão nordestino. São elencadas como fontes o conjunto de suas obras - publicadas entre 2012 e 2022 -, além de entrevistas com o autor. No que se refere aos aspectos teórico-metodológicos, o trabalho é conduzido a partir da leitura e fichamento das obras e sua análise baseia-se em referencial teórico da História Cultural e dos estudos literários que versam sobre a elaboração de imagens e discursos sobre o Nordeste brasileiro na ficção, principalmente literária. Foram identificados os seguintes aspectos: o sertanejo é apresentado como homem bruto associado ao meio rural; é descrito como dotado de aparente fragilidade - falta de instrução e tendência à crença no sobrenatural -, mas com coragem e astúcia para a superação de adversidades, especialmente ligadas ao convívio com a natureza do sertão; por fim, observam-se algumas passagens que abordam um questionamento da visão heteronormativa em relação ao sertanejo - o que se explica pelo fato de o autor ser casado com um homem e apontar, em algumas entrevistas, a intenção de inserir em suas obras uma representatividade nesse aspecto -, embora essas passagens também associem-se às demais características aqui apontadas. Desse modo, o homem do sertão nordestino é apresentado a partir de um enfoque em imagens e discursos datados do processo de invenção da região Nordeste no século XX, os quais permanecem sendo reproduzidos. No que concerne à essa reprodução no âmbito da literatura de terror/horror, destaca-se a mobilização da ideia de uma tendência deste homem à crença em fenômenos sobrenaturais, elaborando-se narrativas que o colocam diante desses fenômenos a fim de demonstrar sua habilidade resolutiva quanto às adversidades. De certo modo, esse aspecto pode ser compreendido como uma metáfora para a ideia de ser o sertanejo “antes de tudo, um forte”, formulada por Euclides da Cunha em Os Sertões e amplamente propagada até hoje.

• Palavras-chave
• História e Literatura, Márcio Benjamin, Sertanejo, Terror e Horror.
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Encontro de Saberes 11 – História, gênero e sertões

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