Ensaio sobre gênero e sexualidade no cangaço e nos sertões do Nordeste brasileiro

Ensaio sobre gênero e sexualidade no cangaço e nos sertões do Nordeste brasileiro

• Autor
• Luiz Carlos Romão dos Santos
• Resumo

• O trabalho objetiva uma reflexão crítica e filosófica sobre as complexas dinâmicas de gênero e sexualidade no cangaço, um fenômeno histórico e social profundamente enraizado nos sertões nordestinos. As reflexões em tela partem de uma provocação: "Existiu cangaceiro gay?". O propósito não é buscar uma resposta factual para essa pergunta, mas, sim, investigar as razões subjacentes que explicam por que a mera possibilidade da existência de um cangaceiro homossexual provocou tamanha revolta, ira, disforia e conflitos. A polêmica gerada pelo livro “Lampião: o Mata Sete” serve como ponto de partida para analisar de que forma o patriarcado, o machismo e a LGBTQIA+fobia não apenas interferem, mas moldam profundamente nossa interpretação dos fatos históricos e da própria realidade. Portanto, a proposta de trabalho justifica-se em função da necessidade urgente de desmistificar a imagem hegemônica e frequentemente idealizada do cangaceiro, que se tornou um ícone da virilidade nordestina. Em termos espaciais e temporais, a análise concentra-se no cangaço como fenômeno social e histórico, especificamente nos sertões do Nordeste brasileiro, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX. A metodologia empregada não se baseia na busca de fontes para provar a existência de cangaceiros gays, pois a ausência de documentação desse tipo é notória. A abordagem é, portanto, filosófica e reflexiva. Para sustentar esse debate, utilizamos o autor Frederico Pernambucano de Mello (1985), que realiza uma análise minuciosa do fenômeno do Cangaço em todas as suas vertentes: social, política, geográfica, etno-histórica, religiosa, climática, alimentar, fotográfica, musical e de vestuário. Aliado a isso, faço uso da matéria da revista Carta Capital sobre a polêmica do livro de Pedro de Morais, e referenciais teóricos e historiográficos já consolidados. A pesquisa se propõe a superar a visão tradicional e estrita, promovendo uma abordagem interdisciplinar que integra história, antropologia e sociologia para analisar a temática de forma mais completa e sofisticada. A conclusão do trabalho aponta que a discussão sobre a suposta homossexualidade de Lampião é uma falsa polêmica, sustentada por argumentos infundados. O ponto central do debate não é a veracidade da afirmação, mas a reflexão sobre quem detém o poder de definir o que é aceitável, quem pode e quem não pode ser, questionando as normas estabelecidas. Dessa maneira, não se busca respostas definitivas, mas sim abrir espaço para novas e melhores indagações sobre gênero e sexualidade no cangaço. Ele se propõe a romper com o ciclo vicioso e doloroso do silenciamento e da marginalização que historicamente afeta a memória de pessoas LGBTQIAPN+, oferecendo uma perspectiva mais fabulosa e questionadora para a história.

• Palavras-chave
• Cangaço, Nordeste, Sertões, Gênero, Sexualidade
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Encontro de Saberes 11 – História, gênero e sertões

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